Nº. 662 – Hinos de Manuel Avelino – 01 dez 2002, p. 4

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Nº. 662 – Hinos de Manuel Avelino – 01 dez 2002, p. 4

 

Música – Nº. 662

Hinos de Manuel Avelino

Rolando de Nassáu

Manuel Avelino de Souza (10 nov 1886 – 27 set 1962) nasceu na Bahia; lá se converteu, e foi batizado, em dezembro de 1906, graças à pregação evangelística de Salomão Luiz Ginsburg (1867-1927).

Era empregado de um armazém, onde também vendia bebidas alcoólicas, sendo considerado indispensável pelo seu patrão por causa de sua honestidade. Em junho de 1907, com 21 anos de idade, assistiu a primeira assembléia da Convenção Batista Brasileira. Em 1910, conversando longamente com T.B.Ray, secretário-auxiliar da junta de missões estrangeiras da convenção batista do Sul dos Estados Unidos da América, decidiu-se pelo trabalho evangelístico, apesar da resistência de seu patrão.

Foi para o Rio de Janeiro; entre 1911 e 1916, freqüentou, juntamente com Ricardo Pitrowsky e Sebastião Angélico de Souza entre outros, o Colégio Batista e o Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil; durante os estudos, foi evangelista, auxiliando o missionário William Edwin Entzminger, pastor da Primeira Igreja Batista de Niterói e redator de “O Jornal Batista”. Em 1916, bacharelou-se em Teologia, na primeira turma formada pelo STBSB.

Em 1917, obteve o grau de Mestre em Teologia; em agosto desse ano, foi consagrado pastor da PIB de Niterói e iniciou a construção do templo dessa igreja.

Em 1918, pouco tempo depois de ter concluído os cursos no seminário, aconteceu a sua primeira eleição para a presidência da CBB.

Em dezembro de 1919, casou-se com D.Eva. Em 1921, inaugurou o templo da PIB de Niterói, na Rua Visconde de Sepetiba (ver: OJB, 21 dez 86, p.2).

Nos anos de 1923 e 1924, fez curso de aperfeiçoamento em Homilética no seminário batista de Louisville, Kentucky (EUA). Em 1925, 1928 e 1929, foi novamente eleito presidente da CBB.

Em 1929, obteve o doutoramento em Filosofia na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Rio de Janeiro.

Foi professor de Filosofia, Teologia e Homilética no STBSB e fundou o Colégio Batista de Niterói.

Em 1930, foi eleito 2º. vice-presidente do Congresso Batista Latino-Americano.

Em 1931, traduziu o livro “A Wandering Jew in Brazil” (“Um Judeu Errante no Brasil”), autobiografia de Salomão Luiz Ginsburg.

De 1934 a 1939, ocupou uma das vice-presidências da Aliança Batista Mundial. Em 1941 e 1942, foi eleito presidente da Convenção Batista Brasileira, voltando, em 1945, pela sétima e última vez, à essa presidência.

Foi duas vezes orador oficial da Convenção Brasileira (1920 e 1932) e várias vezes presidente da Convenção Fluminense.

Em 1960, construiu o segundo templo, na Rua Marquês do Paraná, diante da principal artéria da então capital fluminense.

Manuel Avelino faleceu em 27 de setembro de 1962 e foi sepultado no cemitério de Maruí, em Niterói (RJ).

Ele escreveu para o “Cantor Cristão” 26 letras originais e adaptou três letras que encontrou traduzidas.

Pesquisamos as edições de “O Jornal Batista” dadas a lume entre 1917 e 1928; nesse período, foram publicados 14 hinos, dos quais 11 foram aproveitados no “Cantor Cristão”. Os três hinos que não foram incluídos no CC são os seguintes: 1) “Vinde a Jesus”, escrito no Rio de Janeiro em 1º. de outubro e publicado em OJB (25 out 1917, p.9); 2) “Cristo, o Mestre, nos manda”, dedicado a João Isidro de Miranda (OJB, 30 ago 1928, pp.1 e 7); 3) “Santos hinos de louvores”, escrito em Niterói em 27 de setembro e dedicado à PIB de Vitória (ES), Loren M.Reno e Almir S.Gonçalves (OJB, 04 out 1928, p.11).

Justamente o mais famoso, “Temos por lutas passado”, escrito em 1917, quando iniciava-se a construção do templo da Rua Visconde de Sepetiba, embora tenha entrado em sucessivas edições do CC, inclusive por ocasião da revisão de 1958, não foi previamente publicado em OJB.

Presumivelmente, foram escritos, e talvez publicados em OJB, depois de 1928, mais 18 hinos, os quais não temos condições de determinar as suas datas de composição; seria necessário pesquisar as edições de OJB entre 1928 e 1971, quando foi lançada a 36a.edição.

Em 1921, foram publicados cinco hinos: “Hoje, inaugurase aqui” (CC-564) e “Vamos nós louvar a Deus” (CC-385), escritos especialmente para a inauguração do templo na Rua Visconde de Sepetiba, ocorrida em 17 de abril de 1921 (OJB, 21 e 28 jul 1921); o hino “Nós iremos com Cristo Jesus” (CC-495), uma adaptação feita por Manuel Avelino em 1º. de outubro (OJB, 13 out 1921, p.5); o hino “Bendito Senhor, nosso Rei Jesus” (CC-418), dedicado à Sociedade Feminina da PIB de Niterói (OJB, 17 nov 1921, p.5) e o hino “O povo, sim, coberto de densas trevas” (CC-29), escrito para o Natal (OJB, 22 dez 1921, p.4).

O hino missionário “Disse Jesus: Ide por todo o mundo” (CC-438) foi escrito em Niterói, em 15 de maio, e dedicado à CBB (OJB, 25 maio 1922, p.6). Escritos também em Niterói, os hinos sobre oração: em 21 de julho, “Nosso Deus e Pai bondoso” (CC-158) (OJB, 27 jul 1922, p.11); em 31 de agosto, “Ó Deus bendito, atende o nosso rogo” (CC-156) (OJB, 12 out 1922, p.3).

No início de 1923, três hinos que falam de amor foram escritos antes de viajar para o seminário de Louisville: 1) “Duas vidas” (CC-567), dedicado a Esther Silva Dias (OJB, 04 jan 1923, p.8); 2) “Oh! Maravilha do amor de Jesus” (CC-36) (OJB, 08 fev 1923, p.1) constou do 1º. fascículo da la. edição musicada do CC, que foi lançada, na íntegra, em 1924; 3) “Que doce voz tem meu Senhor!” (CC-384) (OJB, 19 abr 1923, p.1).

Por intermédio da Ir.Flávia Mirtes Cunha dos Santos, o venerando pr.Samuel de Souza (PIB do Ingá, em Niterói, RJ), filho de Manuel Avelino, prestou-nos valiosas informações sobre mais quatro hinos, que a seguir adicionamos a este artigo. O pr.Samuel de Souza esclareceu que o hino intitulado “A chamada” (“Vinde a Jesus”) (OJB, 25 out 1917, p.9), não incluído no “Cantor Cristão”, foi escrito para a posse do pr.Leobino Rocha Guimarães; que o hino intitulado “A tarefa da Igreja”, com música de C.H.Gabriel (“Cristo, o Mestre, nos manda”), foi dedicado a João Isidro de Miranda, membro da Igreja Batista em Castro Alves (BA); que o hino dedicado aos 25 anos (1903-1928) da PIB de Vitória (ES), com o título “Reconhecimento”, era uma adaptação do hino no.62 do “Cantor Cristão” (1971).

Em 1921 e 1924, foram publicados mais dois hinos: “Vida feliz” (OJB, 01 dez 1921) e “Natal de Jesus” (OJB, 25 dez 1924), possivelmente enquanto estudava em Louisville, Kentucky (EUA).

Para a revisão de 1958, Manuel Avelino escreveu, musicados por sua filha Helena de Souza, os hinos alternativos: “Unidas trabalhando” (no.486), para ser cantado pelas senhoras da PIB de Niterói (RJ); “Vamos à guerra santa!” (no.352); “A nossa fortaleza é Deus” (no.402), para a consagração do pr.Rafael Zambrotti; e “Nós iremos com Cristo Jesus gozar uma vida de eterno prazer e amor” (no.439).

O pr.Samuel de Souza esclareceu ainda que o hino “União vital” (“Duas vidas, Senhor, se unem num só ser”), dedicado a Esther Silva Dias, tinha sido usado em 1922 também no casamento do pr.Alberto Portela (CC-495, ed.1958, CC-567, ed.1971).

A CBB, em sua assembléia, em janeiro de 1958, mandou publicar a revisão do CC, feita por uma comissão composta de Manuel AveLino, Ricardo Pitrowsky, Moisés Silveira e Alberto Portela. Uma revisão radical: de acordo com o relatório, das 29 letras de Manuel Avelino, 10 deveriam ser retiradas do CC. Mas em 1971 os hinos nºs. 29, 51, 52, 83, 94, 156, 336, 495, 511 e 555-CC, escritos por Manuel Avelino, foram poupados de serem excluídos do CC (36a. edição), o que tinha sido aprovado pela Comissão de 1958, presidida pelo próprio hinógrafo!

Manuel Avelino não era músico, mas sabia escolher música para as letras de seus hinos. Aproveitou músicas de Bliss, Bradbury, Gabriel, Kirkpatrick, Miles, Ogden, Scholfield, Sweeney, Towner e outros.

Manuel Avelino captou melodias de agrado popular. Não era músico genial, mas tinha que ser um poeta congenial. Acostumada ao cantochão das ladainhas católicas, repetitivas até a exaustão (os cânticos evangélicos da atualidade são tão repetitivos quanto os mantras), a religiosidade brasileira em contato com o canto evangélico recebeu a novidade de afirmações doutrinárias serem cantadas em estrofes. Além disso, o ritmo do “gospel hymn” era um elemento de modernidade no canto religioso, que atraía os que se aproximavam das “novas seitas”.

Na primeira metade do século 20, a música evangélica tinha sua identidade, não se confundia com a música profana popular.

Amigo da música tradicional, Manuel Avelino pressentia a aproximação, na década de 50, de estilos musicais incomuns e extravagantes, que poderiam desvirtuar (como desvirtuaram, depois de 1960!) o canto congregacional dos batistas. Afinal de contas, cabia-lhe preservar a hinodia constante do “Cantor Cristão”, do qual era um dos poucós contribuintes brasileiros. O “gospel-rock” estava começando a desembarcar nas praias de Niterói … Mais tarde, viriam os teclados, as guitarras, os saxofones, as baterias, os pandeiros, a coreografia, a dança …

Qual foi a contribuição de Manuel Avelino? Dar sentimento nacional a uma hinodia importada; não poderia oferecer-lhe uma melodia de índole nativa, por não ser músico.

A Comissão do HCC mostrou-se mais radical: das 29 letras, somente cinco (CC-94=HCC-304; CC-191=HCC-296; CC-335 =HCC-497; CC-361=HCC-251; CC-454=HCC-502) foram aproveitadas no “Hinário para o Culto Cristão” (HCC).

No dizer de José dos Reis Pereira, as obras de Manuel Avelino de Souza “permanecem e testificam do grande valor de sua vida” (OJB, 09 nov 1986, p. 1).

 

(Publicado em “O Jornal Batista”, 01 dez 2002, p. 4).

 

2018-02-21T14:19:00+00:00 By |Hinógrafos|