(comentários sobre hinos e hinários evangélicos)
As traduções centenárias de Carver – O missionário norte-americano Mark E. Carver, fundador da Missão Bethesda (mais tarde, Igreja Evangélica Amazonense), em Manaus (AM), escreveu, em 1897, a tradução de três hinos que constam do “Cantor Cristão” (edição de 1971): no. 169, “Mais de Cristo”, nº 154, “Firme nas promessas”, e nº 201, “O novo nascimento”.
Esses três estão entre os hinos mais cantados nas igrejas batistas do Brasil.
“Cantor Cristão” – Qual foi o tipo de cântico norte-americano que teve maior influência sobre o “Cantor Cristão”?
Os cânticos espirituais usados, entre 1790 e l850, nos acampamentos evangelísticos (“campmeeting spiritual songs”), foram os mais genuinamente americanos entre todos os de origem folclórica do século XIX; os “Negro spirituals” tinham algo da alma africana e os “White spirituals” tinham procedência inglesa.
Os Batistas do Sul dos Estados Unidos da América não acolheram em seus hinários denominacionais os cânticos espirituais dos acampamentos. Assim, o “Cantor Cristão”, em l89l e posteriormente, não recebeu a influência tipicamente americana desses cânticos, mas sim a dos hinos evangelísticos (“gospel hymns”). A maioria dos 50 hinos mais cantados nas igrejas batistas no Brasil, enquanto prevaleceu (até l99l) o uso do “Cantor Cristão”, pertence ao período em que foram produzidos os hinos evangelísticos (l850-l890).
“Castelo Forte”, o mais famoso hino de Lutero – Martin Luther (1483-1546) escreveu a letra “Ein’Fest Burg” (Um castelo forte) e compôs a respectiva melodia, que foram publicadas em Wittenberg na coletânea “Geistliche Lieder” (Cânticos Espirituais), de Joseph Klug, em 1529, tornando-se imediatamente conhecidas em toda a Alemanha.
Lutero, desde 1508, era professor na universidade de Wittenberg. Em 31 de outubro de 1517, afixou suas 95 teses na porta da igreja do castelo da cidade, iniciando o movimento reformista da Igreja Cristã. Em seguida, traduziu a Bíblia para a língua alemã e elaborou o primeiro hinário alemão, “Achtliederbuch” (Livro dos oito cânticos). Posteriormente, escreveu mais 33 peças de canto congregacional, aproveitando cânticos em latim, versificação de salmos e outros textos escriturísticos, e revisão de hinos em alemão anteriores ao movimento reformista. Nas melodias de Lutero, que tinha formação musical, havia forte acento rítmico. A maior contribuição de Lutero à hinodia foi a restauração do canto congregacional , e seu mais famoso hino foi “Castelo forte”.
Em 19 de abril de 1529, as autoridades civís alemãs que adotavam as idéias de Lutero apresentaram, ao parlamento reunido em Spira, um protesto (daí o apelido “Protestantes”) contra as medidas legislativas referentes à liberdade de culto, que significavam séria ameaça à Reforma.
Neste ambiente crítico, deprimido e doente, mas inspirado pelo Salmo 46, Lutero escreveu seu hino.
Tímida, angustiada e sombria, esta parece ser a interpretação fiel do hino (tal como gravada, em 1962, pelo Coral Luterano de Porto Alegre, regido por Hans-Gerhard Rottmann, no LP-CAVE- DAVEL-CAV-4/6), e não intrépida, irrestrita e reluzente, como ocorre na grande maioria das execuções congregacionais e corais deste hino de Lutero.
O hino circunstancial
O luxuoso transatlântico inglês “Titanic”, em sua viagem inaugural, de Southampton (Inglaterra) para New York (Estados Unidos da América), ao colidir com um iceberg, no início da madrugada do domingo, 14 de abril de 1912, sofreu um dos piores desastres marítimos da história, quando morreram 1.500 e sobreviveram 700 pessoas.
O navio era considerado pelos seus construtores como “insubmergível”. Um inspetor do governo britânico, depois de rigorosa vistoria, afirmou: “Nem Deus conseguirá afundar este navio”. Mas o navio afundou em menos de três horas (ver: revista “VEJA”, 14 jan 98, pp.74-79).
A história do naufrágio tem muitas versões; também a do uso do hino “Nearer, my God, to Thee” (“The Baptist Hymnal”, n° 458), de Sarah Fuller Flower Adams e Lowell Mason, traduzido por João Gomes da Rocha (“Cantor Cristão”, n° 283, e “Hinário para o Culto Cristão”, n ° 399), com o título “Mais perto quero estar”.
Segundo uma versão, a letra do hino foi cantada pelos passageiros, e a melodia “Bethany” executada pela banda do navio; essa versão provavelmente está baseada na música circunstancial dos filmes “Titanic” (1953), “A Night to Remember” (1958), “S.O.S. Titanic” (1979) e “Raise the Titanic!” (1980).
Mas foi contestada por espectadores ingleses desses filmes, que argumentaram não estar, a melodia “Bethany”, associada na Inglaterra à letra de Sarah Adams; a letra teria sido cantada com outra melodia.
Agora, com o filme “Titanic” (1997), surge uma terceira versão: a letra não foi cantada; apenas três violinistas tocaram a melodia “Bethany”. Talvez porque, na opinião de James Cameron, diretor do filme, já não se cantam hinos tradicionais.
O hino profético
Salomão Luiz Ginsburg em sua autobiografia fez questão de relatar um importante episódio de sua vida.
Em 08 de abril de 1902, em Maceió (AL), traduziu o hino “Uma barca naufragando, quem lhe valerá?” (“Cantor Cristão”, n° 325); dez anos depois, exatamente, passou por impressionante e extraordinária experiência.
Em 1912, chegando a Londres, procedente de Lisboa, logo reservou passagem para Nova Iorque. Algumas viagens foram suprimidas, restando a Ginsburg optar: viajar no “Majestic”, no dia 02 de abril, ou no “Titanic”, escalado para o dia 10 desse mês.
Conta Ginsburg que o desejo de embarcar no “Titanic” era grande, mas resolveu antecipar sua ida para Nova Iorque. Viajando num navio bem modesto, Ginsburg chegou a Nova Iorque naquele domingo trágico; tivesse demorado em Lisboa uma semana, teria sido forçado a viajar no “Titanic” (ver: O JORNAL BATISTA, 14 jun 92, p.2).
“Hinário para o Culto Cristão” – Lançado em 1991, simultaneamente com o “The Baptist Hymnal”, o HCC deu vez e voz aos poetas e compositores brasileiros. Nos últimos 25 anos, algumas igrejas batistas foram perdendo o seu primeiro amor pelo “Cantor Cristão”…
O novo hinário tem servido para expressar o sentimento e manifestar a técnica dos talentos musicais nativos, sem esquecer a produção hinográfica recente de musicistas evangélicos de vários países e de diversas denominações.
Já é tempo de indagar: a hinodia produzida na comunidade batista (vamos à extrema tolerância ao admitir a de estilo popular) tem influenciado a sociedade brasileira e as nações de língua portuguesa?
Hinodia e questão social
“Dai-lhes vós de comer” (Mat.14:16b)
“The Baptist Hymnal” (TBH), um dos hinários usados pelas igrejas filiadas à Southern Baptist Convention, contém hinos relacionados à preocupação dos cristãos com a questão social.
Ao escreverem seus hinos, certos hinógrafos americanos foram desde a doce ilusão até a dura realidade social.
O final da Guerra de Secessão e o início da Era de Expansão suscitaram entre alguns poucos hinógrafos evangélicos a necessidade de tratar de problemas éticos em seus hinos.
As comemorações do primeiro centenário da independência despertaram em Daniel Crane Roberts a atenção para o promissor futuro da nação americana. Com o fim da guerra civil tinha sido preservada a integridade política e territorial dos Estados Unidos.
Esperava-se que o período seguinte seria dedicado à reconstrução do país. Mas a “Gilded Era” seria marcada por materialismo e corrupção. O progresso capitalista impôs grande atraso à vida espiritual americana.
Em 1876, a nação preparava-se para a expansão econômica. Na época, havia a crença coletiva na harmonia social. Roberts compartilhava essa crença quando escreveu o hino “God of Our Fathers”, TBH-629, questionada por Washington Gladden, que percebeu na realidade social americana algumas distorções, pois preocupava-se com as implicações sociais da pregação evangelística. Já naqueles dias estavam surgindo sérios problemas sociais. A fé em Deus era contestada pela exploração do homem. A preocupação de Gladden manifestou-se no hino “O Master, Let Me Walk with Thee”, TBH-279. As igrejas deveriam envolver-se nas questões trabalhistas e na ação social.
A Marcha para o Oeste resultou em novos problemas sociais. Charles Hutchison Gabriel compreendeu o panorama social do Oeste americano e escreveu o hino “Send the Light”, TBH-595 (ver:TOPICS IN ENGLISH).
No século XX, surgiram os novos problemas da cultura caracteristicamente americana: a discriminação racial e a frieza espiritual.
A Primeira Guerra Mundial foi a oportunidade para a descoberta e reflexão, pelos negros, a respeito de sua condição social.
James Weldon Johnson foi um dos primeiros negros a transpor as barreiras raciais para conseguir um lugar eminente em áreas culturais antes restritas aos brancos; ele escreveu o hino “Lift Every Voice and Sing”, TBH-627.
A prosperidade econômica foi marcada pela crescente frieza espiritual da nação americana.
No maior calor da “guerra fria”, David Elton Trueblood escreveu o hino “God, Whose Purpose Is to Kindle”, TBH-618.
Esses hinógrafos americanos expressaram os anseios e os temores de suas épocas.
Na hinodia evangélica são escassos os hinos que tratam da questão social brasileira.
Sugerimos aos nossos hinógrafos: dai aos brasileiros algo que possam cantar em meio às suas preocupações, angústias e agruras.
Hinos de Entzminger – William Edwin Entzminger (25 dez 1859-11 jan 1930) foi, com William Buck Bagby, Zachary Clay Taylor, Salomão Luiz Ginsburg, Eurico Alfredo Nelson e James Jackson Taylor, um dos seis missionários pioneiros no Brasil.
Entzminger, em abril de 1891, casou-se com Maggie Grace Griffith; o casal, enviado pela junta de missões estrangeiras da convenção batista do Sul dos EUA, sediada em Richmond, Virginia, chegou a Salvador (BA) em 11 de agosto de 1891. Acometido por febre amarela e malária, o casal pouco tempo depois foi para o Recife (PE). Na capital pernambucana, onde morreram os filhos Margarida, em 1891, e William Junior, em 1894, o casal permaneceu durante mais de sete anos.
Em 1900, com sua esposa muito doente, Entzminger transferiu sua residência para o Estado do Rio de Janeiro (Nova Friburgo e Rio de Janeiro). Em janeiro de 190l, fundou “O Jornal Batista”. De 1901 a 1919, foi diretor deste periódico denominacional.
Em 1904, verificou que estava leproso; tratou-se nos EUA e em 1908 retornou curado.
Em 1911, Entzminger, juntamente com Salomão Luiz Ginsburg, Otis Pendleton Maddox, Amélia Joyce e Emma Paranaguá, foi nomeado pela Convenção Batista Brasileira, na assembléia realizada em Campos (RJ) para a Comissão de revisão final dos hinos do “Cantor Cristão” (OJB, 02 nov 1911, p.2).
Em 1919, publicou “Lyra Cristã”, o primeiro hinário batista no Brasil com música (OJB, 10 jul 1919, p.12).
Em 1920, viajou para os EUA, onde faleceu sua esposa Maggie Grace.
Em 1921, foi residir em Petrópolis (RJ), mas trabalhava na Casa Publicadora Batista (antecessora da JUERP), no Rio de Janeiro.
Em 1922, casou-se com a missionária Amélia Joyce.
Entzminger faleceu e foi sepultado, em 11 de janeiro de 1930, no Cemitério Municipal de Petrópolis (OJB, 13 jan 2002).
Pesquisamos as edições de “O Jornal Batista” publicadas entre 10 de janeiro de 1901 e 11 de janeiro de 1930. Curiosamente, essas datas marcam a fundação de “O Jornal Batista” (1901) e o falecimento de Entzminger (1930). Algo semelhante ocorreu na biografia de João Filson Soren: sua posse no pastorado da PIB do Rio de Janeiro (03 de janeiro de 1935) e seu falecimento (02 de janeiro de 2002).
Depois de Salomão Luiz Ginsburg, foi o maior hinógrafo entre os missionários no Brasil. Entzminger escreveu, traduziu ou adaptou 72 letras de hinos para o “Cantor Cristão”(CC). Dos 72 hinos, menos de um terço deles (21) foram aproveitados no “Hinário para o Culto Cristão” (HCC).
Entre 1904 e 1925, previamente 26 foram publicados em “O Jornal Batista”. Dos 26, foram abandonados 18 e aproveitados oito no HCC, que serão aqui comentados com o objetivo de mostrar as circunstâncias em que foram escritos por Entzminger.
Dos 18 hinos previamente publicados em OJB e que foram abandonados pela Comissão do HCC forneceremos agora as épocas de publicação: 1904 (no.448-CC); 1908 (no.370); 1909 (nos.451, 466 e 502); 1910 (nos.128 e 497); 1911 (no.340); 1913 (no.53); 1916 (nos.187 e 413); 1917 (nos.58, 210, 251, 305 e 499);1918 (nos.97 e 355).
“Tal qual estou” (CC-266, HCC-300) foi publicado em OJB (22 out1908, p.1), depois de Entzminger ter traduzido quatro das seis estrofes de Charlotte Elliot escritas em 1834 para o hino “Just as I am”. A poetisa inglesa ficou inválida em 1821, quando tinha 32 anos de idade; foi a primeira hinógrafa a compilar um hinário para deficientes físicos (“The Invalid’s Hymn Book”, 1834-1854). Este hino foi traduzido quando Entzminger, em 1908, voltou dos EUA para o Brasil curado da lepra; ele, até então, dizia: “Tal qual estou, sem esperar que possa a vida melhorar, em Ti só quero confiar”.
Ainda em 1908, sob o impacto da terrível doença, mas curado, Entzminger traduziu o hino “It is well with my soul”, de Horatio Gates Spafford (CC-398, HCC-329). Tendo passado por grande provação, Entzminger, tal como Spafford (que perdeu quatro filhas no naufrágio do transatlântico “Ville du Havre”), poderia escrever: “Se paz a mais doce me deres gozar, se dor a mais forte sofrer, oh! seja o que for, Tu me fazes saber que feliz com Jesus sempre sou!”. Este hino foi publicado em OJB (05 nov 1908, p.1), pouco tempo depois do “The Baptist Hymn and Tune Book” (1904).
Inspirado pelo hino patriótico norte-americano “My country, ‘tis of thee”, de Samuel Francis Smith, Entzminger fez uma adaptação (“Do meu país Brasil, ó terra varonil, é meu cantar”), que a Comissão do HCC alterou em 1990. O hino (CC-574, HCC-600) foi dedicado aos alunos dos colégios evangélicos no Brasil (OJB, 06 abr 1910, p.2). É possível que Entzminger, então diretor de “O Jornal Batista” e residente no Rio de Janeiro, tenha ficado entusiasmado com a recente organização, pelo missionário John W. Shepard, do Colégio Batista do Rio. Na época, o Itamarati incentivava o intercâmbio cultural entre o Brasil e os EUA.
O vetusto hino “Rock of Ages”, de Augustus Montague Toplady, foi traduzido em 1913 (“Rocha eterna, foi na cruz que morreste tu, Jesus”, CC-371, HCC-307), quando Entzminger já estava em seu 20o. ano de ministério no Brasil (OJB, 31 jul 1913, p.2).
O célebre hino “Stille nacht”, escrito por Joseph Mohr em 1818, foi traduzido do alemão para o inglês por John Freeman Young. Provavelmente usando essa versão inglesa, um século mais tarde o hino de Mohr foi traduzido por Entzminger (“Noite de paz! Noite de amor!”, CC-30, HCC-91, OJB, 01 nov 1917, p.1).
Também em 1917, Entzminger traduziu outro hino famoso, o “Brighten the corner where you are”, escrito em 1912 por Ina Duley Ogdon, o que demonstra que Entzminger, em plena Primeira Guerra Mundial (1914-1918), procurava acompanhar o lançamento de novos hinos evangelísticos; deu-lhe o título “Brilha no meio do teu viver” (CC-417, HCC-488, OJB, 04 e 11 jan 1917, p.1).
Das quatro estrofes do hino “Have Thine own way, Lord”, de Adelaide Pollard, Entzminger traduziu livremente três, sob o lema “Cristo, bom Mestre, eis meu querer” (CC-175, HCC-369); o hino tinha sido publicado em 1907 no “Alexander’s Supplement” para o “Northfield Hymnal”, compilado por George Stebbins, e na coletânea “Kingdom Songs” (1921). Sua esposa Maggie Grace tinha falecido recentemente quando Entzminger escreveu a letra do hino, o que é muito provável (OJB, 01 dez 1921, p.11). Não nos parece ter sido escrito quando seus filhos morreram (1891 e 1894) no Recife (PE); o hino de Adelaide Pollard foi originalmente escrito mais tarde (1902); nem quando viajou para os EUA (1904) para tratar-se da lepra (ver: Edith Brock Mulholland, HCC-Notas Históricas. Rio de Janeiro: JUERP, 2002, pp.286 e 287).
Entzminger escreveu o estribilho (aproveitado no hino “Com alegria venho, ó Deus”, HCC-367) e as estrofes do hino “Aqui no mundo branda luz” (CC-528), que foram publicadas em 1925, sem a música de Robert Harkness (OJB, 08 jan 1925, p.13). Era um hino dedicado às crianças de nossas igrejas. Na época, Entzminger estava casado com sua segunda esposa, a missionária Amélia Joyce.
Lamentavelmente, do CC não foram aproveitados, entre outros, os hinos nos.53, 97, 210, 340, 370, 413, 451, 466 e 499; estes estavam entre os hinos mais queridos do povo batista no Brasil. Eram hinos de Entzminger.
Hinos de Ginsburg – Na primeira edição (1891) do “Cantor Cristão”, encontramos 16 hinos; três apresentam letras originais de Salomão Luiz Ginsburg (1867-1927); os outros treze, são traduções de hinos escritos por Crosby, Whittle, Bullinger, Norton, Rowley, Bonar, Ogden, Nettleton, Reed e Neumeister.
As letras originais são: “Oh! vem, divina luz!” (CC-263), “Eu ouví a voz de Deus” e “Oh! que farei prá me salvar?” (posteriormente retiradas).
As traduções são: “Chuvas de bênçãos” (CC-l68), “Tão perto do Reino” (posteriormente substituída pela de Ricardo Pitrowsky), “Avançai!” (CC-446), “Vinde a Mim!” (CC-218), “Do Deus santo somos filhos” (CC-364), “Conta-me a história de Cristo” (CC-196), “Cantarei a linda história” (CC-44), “A cruz ainda firme está” (CC-l97), “A mensagem do Senhor” (CC-198), “Cristo, meu Salvador, veio a Belém” (CC-200), “Oh! vinde à fonte de sangue!” (CC-215), “Ó corações, considerai” (CC-233), “Cristo salva o pecador” (CC-234).
Ginsburg escreveu, pelo menos, 115 hinos, dos quais 105 figuram no “Cantor Cristão” (edição de 1971). Pelo volume de sua contribuição e pela ousadia de sua iniciativa, Ginsburg teve participação destacada e importante na construção do nosso primeiro hinário batista.
Hinos de Manuel Avelino – Manuel Avelino de Souza (10 nov 1886 – 27 set 1962) nasceu na Bahia; lá se converteu, e foi batizado, em dezembro de 1906, graças à pregação evangelística de Salomão Luiz Ginsburg (1867-1927).
Era empregado de um armazém, onde também vendia bebidas alcoólicas, sendo considerado indispensável pelo seu patrão por causa de sua honestidade. Em junho de 1907, com 21 anos de idade, assistiu a primeira assembléia da Convenção Batista Brasileira. Em 1910, conversando longamente com T.B.Ray, secretário-auxiliar da junta de missões estrangeiras da convenção batista do Sul dos Estados Unidos da América, decidiu-se pelo trabalho evangelístico, apesar da resistência de seu patrão.
Foi para o Rio de Janeiro; entre 1911 e 1916, freqüentou, juntamente com Ricardo Pitrowsky e Sebastião Angélico de Souza entre outros, o Colégio Batista e o Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil; durante os estudos, foi evangelista, auxiliando o missionário William Edwin Entzminger, pastor da Primeira Igreja Batista de Niterói e redator de “O Jornal Batista”. Em 1916, bacharelou-se em Teologia, na primeira turma formada pelo STBSB.
Em 1917, obteve o grau de Mestre em Teologia; em agosto desse ano, foi consagrado pastor da PIB de Niterói e iniciou a construção do templo dessa igreja.
Em 1918, pouco tempo depois de ter concluído os cursos no seminário, aconteceu a sua primeira eleição para a presidência da CBB.
Em dezembro de 1919, casou-se com D.Eva. Em 1921, inaugurou o templo da PIB de Niterói, na Rua Visconde de Sepetiba (ver: OJB, 21 dez 86, p.2).
Nos anos de 1923 e 1924, fez curso de aperfeiçoamento em Homilética no seminário batista de Louisville, Kentucky (EUA). Em 1925, 1928 e 1929, foi novamente eleito presidente da CBB.
Em 1929, obteve o doutoramento em Filosofia na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Rio de Janeiro.
Foi professor de Filosofia, Teologia e Homilética no STBSB e fundou o Colégio Batista de Niterói.
Em 1930, foi eleito 2o. vice-presidente do Congresso Batista Latino-Americano.
Em 1931, traduziu o livro “A Wandering Jew in Brazil” (“Um Judeu Errante no Brasil”), autobiografia de Salomão Luiz Ginsburg.
De 1934 a 1939, ocupou uma das vice-presidências da Aliança Batista Mundial. Em 1941 e 1942, foi eleito presidente da Convenção Batista Brasileira, voltando, em 1945, pela sétima e última vez, à essa presidência.
Foi duas vezes orador oficial da Convenção Brasileira (1920 e 1932) e várias vezes presidente da Convenção Fluminense.
Em 1960, construiu o segundo templo, na Rua Marquês do Paraná, diante da principal artéria da então capital fluminense.
Manuel Avelino faleceu em 27 de setembro de 1962 e foi sepultado no cemitério de Maruí, em Niterói (RJ).
Ele escreveu para o “Cantor Cristão” 26 letras originais e adaptou três letras que encontrou traduzidas.
Pesquisamos as edições de “O Jornal Batista” dadas a lume entre 1917 e 1928; nesse período, foram publicados 14 hinos, dos quais 11 foram aproveitados no “Cantor Cristão”. Os três hinos que não foram incluídos no CC são os seguintes: 1) “Vinde a Jesus”, escrito no Rio de Janeiro em 1o. de outubro e publicado em OJB (25 out 1917, p.9); 2) “Cristo, o Mestre, nos manda”, dedicado a João Isidro de Miranda (OJB, 30 ago 1928, pp.1 e 7); 3) “Santos hinos de louvores”, escrito em Niterói em 27 de setembro e dedicado à PIB de Vitória (ES), Loren M.Reno e Almir S.Gonçalves (OJB, 04 out 1928, p.11).
Justamente o mais famoso, “Temos por lutas passado”, escrito em 1917, quando iniciava-se a construção do templo da Rua Visconde de Sepetiba, embora tenha entrado em sucessivas edições do CC, inclusive por ocasião da revisão de 1958, não foi previamente publicado em OJB.
Presumivelmente, foram escritos, e talvez publicados em OJB, depois de 1928, mais 18 hinos, os quais não temos condições de determinar as suas datas de composição; seria necessário pesquisar as edições de OJB entre 1928 e 1971, quando foi lançada a 36a.edição.
Em 1921, foram publicados cinco hinos: “Hoje, inaugura-se aqui” (CC-564) e “Vamos nós louvar a Deus” (CC-385), escritos especialmente para a inauguração do templo na Rua Visconde de Sepetiba, ocorrida em 17 de abril de 1921 (OJB, 21 e 28 jul 1921); o hino “Nós iremos com Cristo Jesus” (CC-495), uma adaptação feita por Manuel Avelino em 1o. de outubro (OJB, 13 out 1921, p.5); o hino “Bendito Senhor, nosso Rei Jesus” (CC-418), dedicado à Sociedade Feminina da PIB de Niterói (OJB, 17 nov 1921, p.5) e o hino “O povo, sim, coberto de densas trevas” (CC-29), escrito para o Natal (OJB, 22 dez 1921, p.4).
O hino missionário “Disse Jesus: Ide por todo o mundo” (CC-438) foi escrito em Niterói, em 15 de maio, e dedicado à CBB (OJB, 25 maio 1922, p.6). Escritos também em Niterói, os hinos sobre oração: em 21 de julho, “Nosso Deus e Pai bondoso” (CC-158) (OJB, 27 jul 1922, p.11); em 31 de agosto, “Ó Deus bendito, atende o nosso rogo” (CC-156) (OJB, 12 out 1922, p.3).
No início de 1923, três hinos que falam de amor foram escritos antes de viajar para o seminário de Louisville: 1) “Duas vidas” (CC-567), dedicado a Esther Silva Dias (OJB, 04 jan 1923, p.8); 2) “Oh! Maravilha do amor de Jesus” (CC-36) (OJB, 08 fev 1923, p.1) constou do 1o. fascículo da la. edição musicada do CC, que foi lançada, na íntegra, em 1924; 3) “Que doce voz tem meu Senhor!” (CC-384) (OJB, 19 abr 1923, p.1).
Por intermédio da Ir.Flávia Mirtes Cunha dos Santos, o venerando pr.Samuel de Souza (PIB do Ingá, em Niterói, RJ), filho de Manuel Avelino, prestou-nos valiosas informações sobre mais quatro hinos, que a seguir adicionamos a este artigo. O pr.Samuel de Souza esclareceu que o hino intitulado “A chamada” (“Vinde a Jesus”) (OJB, 25 out 1917, p.9), não incluído no “Cantor Cristão”, foi escrito para a posse do pr.Leobino Rocha Guimarães; que o hino intitulado “A tarefa da Igreja”, com música de C.H.Gabriel (“Cristo, o Mestre, nos manda”), foi dedicado a João Isidro de Miranda, membro da Igreja Batista em Castro Alves (BA); que o hino dedicado aos 25 anos (1903-1928) da PIB de Vitória (ES), com o título “Reconhecimento”, era uma adaptação do hino no.62 do “Cantor Cristão” (1971).
Em 1921 e 1924, foram publicados mais dois hinos: “Vida feliz” (OJB, 01 dez 1921) e “Natal de Jesus” (OJB, 25 dez 1924), possivelmente enquanto estudava em Louisville, Kentucky (EUA).
Para a revisão de 1958, Manuel Avelino escreveu, musicados por sua filha Helena de Souza, os hinos alternativos: “Unidas trabalhando” (no.486), para ser cantado pelas senhoras da PIB de Niterói (RJ); “Vamos à guerra santa!” (no.352); “A nossa fortaleza é Deus” (no.402), para a consagração do pr.Rafael Zambrotti; e “Nós iremos com Cristo Jesus gozar uma vida de eterno prazer e amor” (no.439).
O pr.Samuel de Souza esclareceu ainda que o hino “União vital” (“Duas vidas, Senhor, se unem num só ser”), dedicado a Esther Silva Dias, tinha sido usado em 1922 também no casamento do pr.Alberto Portela (CC-495, ed.1958, CC-567, ed.1971).
A CBB, em sua assembléia, em janeiro de 1958, mandou publicar a revisão do CC, feita por uma comissão composta de Manuel Avelino, Ricardo Pitrowsky, Moisés Silveira e Alberto Portela. Uma revisão radical: de acordo com o relatório, das 29 letras de Manuel Avelino, 10 deveriam ser retiradas do CC. Mas em 1971 os hinos nos. 29, 51, 52, 83, 94, 156, 336, 495, 511 e 555-CC, escritos por Manuel Avelino, foram poupados de serem excluídos do CC (36a. edição), o que tinha sido aprovado pela Comissão de 1958, presidida pelo próprio hinógrafo!
Manuel Avelino não era músico, mas sabia escolher música para as letras de seus hinos. Aproveitou músicas de Bliss, Bradbury, Gabriel, Kirkpatrick, Miles, Ogden, Scholfield, Sweeney, Towner e outros.
Manuel Avelino captou melodias de agrado popular. Não era músico genial, mas tinha que ser um poeta congenial. Acostumada ao cantochão das ladainhas católicas, repetitivas até a exaustão (os cânticos evangélicos da atualidade são tão repetitivos quanto os mantras), a religiosidade brasileira em contato com o canto evangélico recebeu a novidade de afirmações doutrinárias serem cantadas em estrofes. Além disso, o ritmo do “gospel hymn” era um elemento de modernidade no canto religioso, que atraía os que se aproximavam das “novas seitas”.
Na primeira metade do século 20, a música evangélica tinha sua identidade, não se confundia com a música profana popular.
Amigo da música tradicional, Manuel Avelino pressentia a aproximação, na década de 50, de estilos musicais incomuns e extravagantes, que poderiam desvirtuar (como desvirtuaram, depois de 1960!) o canto congregacional dos batistas. Afinal de contas, cabia-lhe preservar a hinodia constante do “Cantor Cristão”, do qual era um dos poucos contribuintes brasileiros. O “gospel-rock” estava começando a desembarcar nas praias de Niterói … Mais tarde, viriam os teclados, as guitarras, os saxofones, as baterias, os pandeiros, a coreografia, a dança …
Qual foi a contribuição de Manuel Avelino? Dar sentimento nacional a uma hinodia importada; não poderia oferecer-lhe uma melodia de índole nativa, por não ser músico.
A Comissão do HCC mostrou-se mais radical: das 29 letras, somente cinco (CC-94=HCC-304; CC-191=HCC-296; CC-335=HCC-497; CC-361=HCC-251; CC-454=HCC-502) foram aproveitadas no “Hinário para o Culto Cristão” (HCC).
No dizer de José dos Reis Pereira, as obras de Manuel Avelino de Souza “permanecem e testificam do grande valor de sua vida” (OJB-09 nov 1986, p.1)
Hinos de Pitrowsky – Como autor, Ricardo Pitrowsky (1891-1965) figura no “Cantor Cristão” com 23 hinos, sendo seis originais, uma adaptação e 16 traduções.
Com exceção de uma, todas as traduções de Pitrowsky obtiveram o agrado geral das congregações, sendo cantadas com muita animação e estando entre os hinos favoritos do povo batista (ver: “Cantor Cristão”, nos. 99, 112, 160, 207, 236, 237, 239, 253, 3l4, 347, 441, 447, 489, 504 e 535).
Como compositor, fez os arranjos dos hinos nos. 179 e 416, e a música para o atual no.544, e o antigo no.551; neste, pulsava a veia patriótica de Pitrowsky; nos demais, a sua paixão pelas almas perdidas.
Em seus hinos, Pitrowsky revela-se o literato conciso, o crente fiel e o pregador inflamado (ver: nos. 99, 314 e 190).
No hino no.99, deu vigor à idéia de que Jesus, ressurreto, pode conceder vida ao pecador arrependido, agora, enquanto o autor do poema original (Robert Lowry) promete uma vida futura. As frases de Pitrowsky contêm mais força; ele é sintético, objetivo e consequente em sua expressão literária.
No hino no.314, Elisha Albright Hoffmann fala a respeito da proteção divina, peregrinação do crente e companhia de Jesus. Pitrowsky afirma que Deus “tem prazer em me proteger” e, por isso, pode ficar “junto a meu Senhor”. Pitrowsky é categórico em sua profissão de fé; é mais convicto, por isso convence.
No hino no.190, Pitrowsky adaptou a letra de Leila Naylor Morris (toda ela visando um acontecimento futuro, embora próximo), de modo que o pecador se lembre de um fato passado e tome uma decisão importante para sua vida espiritual. O apelo evangelístico de Pitrowsky é mais incisivo.
A poetisa norte-americana dá oportunidade a que o pecador protele a sua decisão. Pitrowsky é um evangelista pressuroso.
Cantemos os hinos de Pitrowsky não somente com o coração, mas também com a inteligência. Veremos que ele tinha as palavras certas em cada hino.
Hinos de Pitrowsky II – Ricardo Pitrowsky dedicou boa parte de sua vida, à sua grei (Igreja Batista do Engenho de Dentro) e ao seu hinário (“Cantor Cristão”).
Gaúcho, Pitrowsky, com 20 anos de idade, mudou-se, em março de 1911, para o Rio de Janeiro, onde matriculou-se no Colégio Batista; aí conheceu Manuel Avelino de Souza.
Em 1914, juntamente com Avelino e Frederico Freymann, integrou a primeira turma do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil. Salomão Luiz Ginsburg dedicou-lhes o hino “O mundo, vasto, imenso, pra Cristo conquistar” (CC-427) (OJB, 13 maio 1914, p.01).
Pitrowsky, em 25 de fevereiro de 1917, foi consagrado ao ministério, pastoreando , simultaneamente, quatro igrejas na Bahia.
Durante 17 anos, a Primeira foi a única igreja batista na cidade do Rio de Janeiro. Em 12 de junho de 1901, foi organizada a Segunda, no subúrbio carioca do Engenho de Dentro, tendo como pastor o missionário William Edwin Entzminger.
Na ocasião, foi cantado o hino “Ao Deus de amor e de imensa bondade”, de Ginsburg (CC-7) (OJB, 13 jun 1902, p.04). Em 1907, a igreja foi pastoreada, interinamente, por Francisco Fulgêncio Soren (1869-1933) (OJB, 23 jan 1908, p.5).
Em 12 de junho de 1912, por ocasião do 11o. aniversário da igreja, foi inaugurado seu novo templo (que custou 19 contos de réis e ainda servia, em 2001, à igreja), tendo o sermão oficial sido proferido por Entzminger (OJB, 20 jun 1912, p.2).
Pitrowsky em 13 de fevereiro de 1918 assumiu o pastorado da Igreja Batista do Engenho de Dentro, no qual permaneceu até 1956.
Marcando o início do seu ministério pastoral e antecipando, em 46 anos, o que, por último, registraria em 15 de novembro de 1964 no seu “Diário” (“não levará mais muito tempo até a minha transferência para o lugar de descanso”), Pitrowsky escreveu o hino “Já ouço a harmonia da hoste angelical” (OJB, 05 Set 1918, p.01), que, entretanto, não foi incluído no “Cantor Cristão”, para o qual contribuiu com letras originais para seis hinos e traduções para 16 hinos.
Empenhado no pastoreio, Pitrowsky em pouco tempo ficou impressionado com o indiferentismo dos crentes e escreveu o hino “Não te importa se algum dos amigos morrer sem ter conhecimento de Cristo?” (CC-447) (OJB, 22 dez 1921, p.04).
Em 1922 já estava em preparo na Casa Publicadora Batista (antecessora da JUERP) a 18a. edição do “Cantor Cristão”, com e sem música, para a qual Pitrowsky escreveu o hino “Eis que, ó Pai, prostrados Te rogamos nós” (CC-149); na ocasião, Pitrowsky enfrentava grandes problemas e sentiu a necessidade de perseverar na oração (OJB, 07 dez 1922, p.1).
No princípio do seu pastorado no Engenho de Dentro, Pitrowsky sofreu tremendos ataques. Inspirado pela experiência semelhante do missionário John W.Shepard (1879-1954), diretor do seminário e pastor interino da Primeira Igreja, Pitrowsky escreveu o hino “Vindo sombras escuras nos caminhos teus” (CC-347) (OJB, 20 set 1923, p.9, e 22 maio 1924, p.1).
Seu zelo evangelístico levou-o a escrever a letra do hino “Depressa vem, amigo” (CC-254) (OJB, 08 nov 1923, p.1).
Em 1924, Pitrowsky apresentou as emendas das letras do “Cantor Cristão” (OJB, 29 maio 1924, p.4), que, pela primeira vez, foi publicado com música, e traduziu a letra do hino “Que consolação, tem meu coração” (CC-314) (OJB, 28 set 1924). Nessa época, Pitrowsky até conselho recebeu para abandonar a igreja, mas sentiu-se sustentado por Deus em seu trabalho, mesmo sabendo que “lutas sem cessar hei de atravessar”.
O hino “De todas as terras das raças humanas” (OJB, 13 dez 1928, p.1) não foi incluído em nenhuma edição do “Cantor Cristão”.
Já tivemos oportunidade de analisar os hinos de Pitrowsky (OJB, 27 jan 85, pp.2 e 11, e 03 fev 85, pp.2 e 11).
A Pitrowsky deve-se creditar a edição com música do “Cantor Cristão”.
Na grei de Pitrowsky não era contemplada apenas a Igreja do Engenho de Dentro: ele colaborou com o Instituto Evangélico de Cegos, o Orfanato Batista, a Junta Patrimonial e a antiga Junta de Missões Estrangeiras (atual Junta de Missões Mundiais).
Ao comemorar o centenário da Igreja Batista do Engenho de Dentro (Segunda do Rio de Janeiro), por dever de justiça, deve-se ressaltar a obra pastoral, de ação social e denominacional de Ricardo Pitrowsky. Mais do que isso, preservar o seu legado hinodico!
Opiniões sobre música-de-culto – Em sua comunicação, apresentada em julho de 1996 à Comissão sobre Culto da Aliança Batista Mundial, reunida em Hong Kong, M. J. Quicke escreveu:
“Os últimos 30 anos evidenciaram o mais significativo período da música-de-culto, com um dramático aumento em sua variedade e vitalidade… a nova música-de-culto coincide com os primórdios da renovação carismática nas principais denominações protestantes” …
“Donald Gee … convenientemente descreveu este movimento como Pentecostes fora do Pentecostalismo. Como em muitos grupos batistas ao redor do mundo, as respostas dentro do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte a este movimento variaram desde uma amedrontada recusa … até uma entusiástica adesão.” …
“É importante distinguir entre o impacto da teologia carismática e o da cultura carismática nas igrejas batistas britânicas, porque tem havido controvertidamente menor influência da teologia do que da cultura a respeito do culto.
“Em 1989, uma pesquisa nas igrejas batistas britânicas revelou que 22% delas identificavam-se estreitamente com a renovação carismática, mas numa proporção muito maior, provavelmente cerca de 80%, tinham sido influenciadas em seus estilos de culto.” …
“Comentando os antecedentes do hinário Baptist Praise and Worship (1991), o prefácio confirma que, desde os meados da década de 60, “os movimentos ecumênicos e carismáticos tinham desafiado muitas das mais rígidas tradições de culto, e houve uma explosão na elaboração de hinos” …
“Nós devemos ser cuidadosos em não limitar o impacto do movimento carismático à questão da música-de-culto. Contudo, o mais óbvio aspecto do movimento nessas três últimas décadas tem sido um novo estilo de culto. … O advento da nova música e um muito maior componente de participação congregacional têm dramaticamente mudado a cultura e espiritualidade de muita igreja britânica. … a maioria das igrejas batistas britânicas agora tem livros de cânticos, os quais são suplementares aos hinários, e muitas também empregam um retroprojetor para envolver a participação congregacional … muitas comunidades têm desenvolvido grupos musicais nos quais podem existir consideráveis habilidades musicais, embora não necessariamente dons para a condução do culto”.
A respeito da situação em seu país, John Simpson escreveu:
“É difícil achar uma congregação na Austrália nos dias atuais onde a escolha da música-de-culto não se torne um ponto-de-debate.
Os primeiros sinais da mudança apareceram anos atrás quando o Baptist Hymn – Book, de capa verde, foi substituído em muitas de nossas igrejas por coletâneas alternativas.
… Desde aqueles dias, tem havido uma proliferação de novos cânticos e o modesto hinário ou livro de cânticos em muitos lugares tem sido substituído pelo retroprojetor. Pouquíssimas igrejas estão comprando a mais recente edição do Baptist Praise and Worship.
… não é uma questão da nova hinódia ser melhor do que a antiga”.
Simpson apontou para a matéria realmente importante, o significado do culto, com estes argumentos:
“Falta-nos clareza de propósito em nossos cultos dominicais matutinos.
… nós ainda não temos entendido o propósito e a natureza do culto a Deus.”
“Nós não estamos convencidos se nós queremos focalizar sobre o evangelismo ou o culto.
… podem dois esforços espirituais muito diferentes ser realizados ao mesmo tempo? …
Nossa intenção de atingir um objetivo evangelístico será muito diferente de obter uma experiência de culto.” …
“Um enfoque simplista de uma determinada forma de música tem limitações significativas.
Considerando que o futuro da igreja é visto como apoiar-se na conquista da geração mais jovem para a fé, algumas igrejas têm decidido, muito evidentemente para todos, que a sua música é escolhida tendo em mente só essa geração. … todas as gerações deveriam ser ajudadas a entender as necessidades de cada uma delas.” …
Há boa e má qualidade, na música antiga e na nova.
Alguns dos hinos antigos tinham grande significado em seu tempo, mas a escolha da linguagem, as imagens literárias e os sentimentos subjacentes agora oferecem pouca substância. … Mas alguns dos cânticos mais novos não são melhores. … Há a necessidade de discernimento e o exercício de coragem ao fazer avaliações quanto ao que poderá ser motivo de elevação espiritual para as pessoas que conhecemos.”
Milburn Price, educador americano e conferencista convidado na reunião anual de 1992 dos músicos batistas do Brasil, apresentou também suas opiniões à Comissão de Culto da Aliança Batista Mundial:
“Um astuto observador das práticas de culto dos Batistas ao redor do mundo nos anos recentes poderia dizer: “Há problemas entre os Batistas”, em relação às maneiras pelas quais em geral nós cultuamos, mas particularmente a respeito da música que usamos em nosso culto.”
“Tenho ouvido falar das tensões que têm emergido em congregações batistas nos Estados Unidos, no Brasil, na Grã-Bretanha, Argentina, Austrália, Nigéria, Suécia, Coréia e no Canadá.”
“… É uma luta entre aqueles que preferem a música que tem sido tradicional para um ambiente particular … e aqueles que preferem novos sons musicais, usualmente sons que são fortemente influenciados pela música da cultura popular. Em igrejas nos Estados Unidos, Grã-Bretanha e outros países influenciados pelas tradições culturais euroamericanas, a música tradicional pode ser a música da tradição clássica ocidental, outras formas de música-de-igreja influenciada por aquela tradição clássica, ou várias combinações de cânticos evangelísticos e canções folclóricas religiosas.
“Em igrejas de outras culturas, a música tradicional pode ser qualquer música que, por causa da influência do trabalho missionário, reflete as tradições de culto euroamericanas, ou pode incluir formas de música indígena que se tornou costumeira naquela cultura.”
“Nós devemos entesourar a herança do passado.
A rejeição das tradições do passado na música e no culto, que é encontrada entre alguns batistas contemporâneos, parece estranhamente dissonante com o tom solene da afirmação do salmista, que “minha herança é bela para mim” (Salmo 16:6).
… o uso de seleções representativas da música do passado revela as maneiras pelas quais fiéis músicos de igreja (como compositores ou intérpretes) e frequentemente pastores (como autores de textos) têm expressado a profundidade da fé por meio de seus dons criativos e, assim fazendo, têm abençoado suas congregações, conduzindo-as no culto a Deus.”
Nós deveríamos estar abertos às expressões musicais.
… das igrejas primitivas esperava-se que cantassem salmos, que providenciavam uma ligação musical com a herança do culto judaico. Mas também que cantassem hinos e cânticos espirituais – expressões de sua nova fé…”.
“Roteiros para a seleção musical.
… há uma diferença entre esforços criativos em busca da elaboração de melodia, harmonia e ritmo numa obra significativa, e esforços menos satisfatórios que dependem do clichê, da fraca imitação, do predomínio rítmico, ou do nível em decibéis para conseguir algum efeito.”
Obs. O texto original encontra-se nos TOPICS IN ENGLISH .
Os hinos de Hiram Rollo – Em pelo menos três hinos (nos.21, 275 e 326 do HCC) de Hiram Simões Rollo Júnior (ver: “Nassáu”, p.151) encontramos a adequação do estilo musical com o caráter das letras. Especialmente nos hinos nos.275 e 326, Hiram apropriou-se de um estilo genuinamente nativo.
No hino “Tu és dígno de louvor”, a letra combina com a melodia, pois, falada ou cantada, parece ressoar um carrilhão que, em compasso ternário, convoca jubilosamente a congregação para o ato de adoração.
No hino “Perdoa-me, Senhor”, Hiram Rollo deu a melhor demonstração de seu talento poético, e, numa linha melódica muito aproximada do que poderia ser uma canção brasileira nativa, ofereceu um bom exemplo de criação musical. A letra encerra muita coerência nas idéias. A tonalidade menor e a melodia melancólica expressam intenso despojamento dos sentimentos. É um dos melhores hinos da nova hinodia batista.
No hino “Jesus, em Ti eu tenho paz”, talvez influenciado pela música vocal de Heitor Villa-Lobos, Hiram revelou-se o modinheiro do HCC. Esta canção sentimental simplesmente encanta; o que tem de mais notável é a aproximação da modinha.
Em cada um desses três hinos, Hiram deu ênfase ao emprego de uma classe de palavras: aos adjetivos, no HCC-21; aos verbos, no HCC-275; e aos substantivos, no HCC-326.
O n°.21 é um hino de contemplação da glória de Deus; sua palavra-chave é “glorioso”.
O n°.275 é um hino de reflexão,arrependimento e confissão de pecados; tem como palavras-chave os verbos viver, sondar e ver.
O n°.326 é um hino de definição de opções; “paz” é sua palavra-chave.
A música nativa (que não deve ser confundida com a música popularesca) e o texto baseado na Bíblia,nas mãos do compositor batista, a exemplo do que ocorreu com as composições de Hiram Rollo, são a maneira eloquente pela qual a Palavra de Deus se transmite aos participantes do culto durante o canto congregacional.
Salmos e Hinos” – Raridades
Em abril de 1977, na Igreja Evangélica Fluminense, fomos presenteados pelo presbítero Nathaniel Biato, membro da Comissão Revisora, com um raro exemplar da Parte Suplementar, publicada em 1919, à Terceira Edição (1899) de “Salmos e Hinos com Música Sacras”, na qual as letras eram acompanhadas por músicas de cantochão.
Exatamente 21 anos depois, o pastor Alcineo de Paula Vianna, do Rio de Janeiro (RJ), envia-nos outro raro presente: a Parte Terceira da mesma edição (1899), mas publicada anteriormente, em 1917, que contém preciosos dados hinológicos; João Gomes da Rocha, o compilador, escolheu o ano de 1917 por ser o 75o. desde que Robert Reid Kalley escreveu o seu primeiro hino em português e o 50o. desde que Sarah Poulton Kalley elaborou as músicas, publicadas em 1868 na primeira edição musicada do hinário congregacionalista. Entre os novos hinos da Terceira Edição (1899), destacamos o “Mais perto quero estar” (“Nearer,my God, to Thee”), comentado no tópico “Hinologia” da edição anterior desta home page./div>
Durante mais de 70 anos, esses documentos hinológicos têm sido preservados, primeiro pelo presbítero Nathaniel Biato, depois pelo diácono José Alves de Andrade e pelo pastor Alcineo de Paula Vianna.
Agora, estão sob nossa custodia, para nossa honra e alegria.