Música – Nº. 713
Rolando de Nassáu
(“In memoriam” do leitor Moacyr Gomes Leal, do Rio de Janeiro, RJ)
No próximo dia 21 de março, quarta-feira, às 19h30min, comemorando seus 40 anos de existência, o Coral “Eclésia”, o principal dos conjuntos vocais da Primeira Igreja Batista do Rio de Janeiro (Rua Frei Caneca, 525, Estácio), executará um programa de altíssimo nível artístico, selecionando trechos de Bach, Haendel, Haydn, Mozart, Mendelssohn e Júlio de Oliveira.
Para quem conhece o Coral “Eclésia”, esse programa apenas confirma a tradição de um coro de igreja que sempre executa música de excelente qualidade (ver: Rolando de Nassau, Dicionário de Música Evangélica, p.59).
O “Eclésia em 21 de março de 1967 foi criado pelo pastor João Filson Soren e organizado pela maestrina Anna Campello Egger. Na escolha de suas músicas, o “Eclésia”, como disse o maestro João Genúncio, optou pelo refinamento.
João Soren foi o pastor e musicista (ver: OJB, 06 jan 85, pp. 2 e 10); Anna Campello é a professora e musicista do “Eclésia” (ver: “Louvor”, abr.jun 92, pp. 4-6), que herdou 52 anos de atividades corais desenvolvidas, entre outros, por Daniel Cordes (1915-1929), Arthur Lakschevitz (1930-1950), Levino de Alcântara (1954-1956), Natanael Mesquita (1956-1960) e Marília Soren (1962-1964). Anna Campello aceitou o desafio com coragem e pertinácia, por isso falar sobre o”Eclésia” é falar sobre sua liderança coral (ver: OJB, 01 dez 85, p.8).
No culto noturno comemorativo do 83º. aniversário da PIB-RJ, em 27 de agosto de 1967, numa de suas primeiras apresentações, o “Eclésia” suavemente interpretou “O vigia de Israel não adormecerá”, do oratório “Elias”, de Mendelssohn, obra-prima da polifonia romântica.
Filha do missionário Zacarias Campello, pioneiro na evangelização dos indígenas brasileiros, Anna fez cursos de canto orfeônico e piano em São Paulo (SP); foi a primeira brasileira a estudar música-de-igreja em Louisville, Kentucky (EUA) (ver: Rolando de Nassau, Dicionário de Música Evangélica, p. 69).
Ela tem feito o trabalho de preparadora vocal, pois o repertório é muito exigente. Tivemos o privilégio de ouvir, no culto dominical matutino de 24 de dezembro de 1972, uma obra muito difícil; era a comemoração do Natal, quando a maioria dos coros das igrejas prefere encenar espetáculos musicados (“musical shows”) ou cantar hinos natalinos tradicionais, mas Anna escolheu o “Te Deum”, de Bruckner, uma obra que impressiona pela arquitetura sonora, engenharia da escritura musical e majestade da expressão de fé; o “Te Deum”, simbolizando uma vasta catedral, teve para sua execução o local ideal: o majestoso templo da PIB-RJ. Não publicamos crônica sobre o evento porque estávamos no exílio …
No Natal de 1976, foi escolhido o “Salmo 150”, do mesmo Bruckner, que exigiu dois anos de preparo vocal; é um hino triunfal, que, em apenas oito minutos, mostrou um multicolorido vitral sonoro, graças à virtuosidade do organista Edson Lopes Elias, que, em 1977, conquistou na Áustria o Prêmio “Beethoven”.
Também tem sido muito importante para o bom desempenho coral o acompanhamento realizado por outros instrumentistas: Nicéa Soren, Frederico Egger, Betty Pitrowsky Antunes de Oliveira, Leuzi Soares Figueira, Illen Vargas, Domitila Ballesteros, Regina Lacerda e Ângelo Dell’ Orto.
Algumas das peças citadas reclamaram a participação de boas vozes solistas: Yumiko Tanno, Naibel Medrado, Takeshi Tanno, Ezequiel Decotelli, Ruth Santos, Wellington Dutra, Gilberto Silva, Rogério Senna Dias, Ernestine Egger Freitas, Lia Lima, Lydia Sant’Anna, Jefferson Dias e Paulo Moreira.
Para o culto gratulatório do 109º. aniversário, em 24 de agosto de 1993, foram selecionados trechos do “Cântico de Louvor” (Mendelssohn) e do “Salmo 150” (Franck).
Os 25 e os 35 anos de regência de Anna Campello foram comemorados, em março de 1992 e março de 2002, na Sala “Cecília Meireles” (Largo da Lapa, Rio de Janeiro, RJ), prestigiosa casa de cultura musical, sempre sob o bafejo dos grandes compositores eruditos.
Possuímos dois CDs, gravados em 1997 e 2002, que nos têm proporcionado momentos de saudade do tempo em que pertencíamos à PIB-RJ (1954-1961), quando o Rio de Janeiro era a Cidade Maravilhosa.
Nos últimos 40 anos, o “Eclésia” realizou excursões de finalidade evangelística a cidades do Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo, Minas Gerais e Distrito Federal. Em 09 e 10 de outubro de 2004, esteve na Igreja Batista Central de Taguatinga (DF), tendo apresentado um programa de excelência estilística, no qual sobressaíram trechos de Bach (moteto “Cantai ao Senhor um novo cântico”), Haendel (oratório “Judas Macabeus”), Haydn (oratório “A Criação”), Mozart (moteto “Exsultate, jubilate”), Mendelssohn (oratório “Elias”) e Brahms (“Réquiem Alemão”) (ver: OJB, 07 nov 04, p.4).
A presença do pastor João Soares da Fonseca, entusiasmado hinógrafo e sóbrio dirigente de culto, no púlpito da PIB-RJ, é garantia de que será preservada e prestigiada a participação do “Eclésia” nesta nova fase da Igreja.
Certamente, a PIB-RJ muito deve ao “Eclésia” e a Anna Campello a inspiração musical, insuflada pelo sentido espiritual, que marca os momentos de louvor nos cultos dessa tradicional igreja carioca.
(Publicado em “O Jornal Batista”, 04 mar 2007, p. 4).