Nº. 701 – Bateria (1) – 05 mar 2006, p. 4

//Nº. 701 – Bateria (1) – 05 mar 2006, p. 4

Nº. 701 – Bateria (1) – 05 mar 2006, p. 4

Música – Nº. 701

Bateria

Rolando de Nassáu

(Dedicado ao leitor Helmuth Mohn, de Brasília, DF)

 

Os favoráveis (principalmente os bateristas) ao uso da bateria nos cultos de nossas igrejas sempre alegam que a Bíblia contém dezenas de passagens onde figuram instrumentos de percussão. Com efeito, no Velho Testamento encontramos 20 passagens a respeito desses instrumentos; vários tipos de tambores: Gênesis 31:27, 1º. Samuel 10:5, 2º. Samuel 6:5, Êxodo 15:20, Jó 21:12 e Isaías 5:12; adufes e pandeiros: 2º. Samuel 6:5; Salmo 68:25, Salmo 81:2 e Salmo 149:3; triângulos: 1º. Samuel 18:6; címbalos (pratos): 2º. Samuel 6:5, 1º. Crônicas 13:8, 1º. Crônicas 25:1, 1º. Crônicas 25:6, 2º. Crônicas 5:12, Esdras 3:10, Neemias 12:27 e Salmo 150:5; castanholas e chocalhos: 2º. Samuel 6:5.

Em contundentes comentários, Paul Mc Common adverte que os instrumentos de percussão eram tocados em ocasiões festivas, porém “nunca em conexão com os cultos realizados no Templo”. Paul Mc Common lembra que os hebreus “eram cuidadosos em não incluir certos instrumentos nos cultos divinos realizados no Templo, devido ao fato de não serem apropriados, ou não induzirem à adoração. Usavam somente os instrumentos que podiam contribuir para acrescentar dignidade e beleza aos cultos. Os outros instrumentos (os de percussão) eram reservados para as ocasiões festivas e seculares” (A música na Bíblia. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1963).

Escreveu o baterista Daniel Batera, numa página na Internet, que verificou, em 99% das igrejas por ele visitadas no Brasil, a existência da bateria, independentemente da Denominação, incluindo as igrejas ditas como tradicionais.

Os favoráveis ao uso da bateria às vezes assumem uma posição cautelosa; dizem: “Tocar bateria não é para qualquer um, mas para quem sabe”. Com este argumento, abrem-se as portas dos templos e as oportunidades no culto para os bateristas profissionais (Daniel Batera, Julio Figueroa, Rogério Bocatto, etc.), que no exercício da profissão tocam para Madonna, Michael Jackson et caterva.

Outro argumento: o exagero e o profano prejudicam a verdadeira adoração; a questão, para eles, é: quando usar a bateria? de que forma usá-la? A quem compete usá-la? Ora, a grande maioria dos bateristas em nossas igrejas exageram nas batidas, transformando os “shows” (não são cultos) em verdadeiras sessões de tortura auditiva. Os deficientes auditivos têm sido pretextos para a participação do baterista … Vimos, numa igreja até agora considerada conservadora, uma bateria para marcar os movimentos corporais de um grupo de surdos; para que? Eles não ouvem a música de fundo, mas talvez ouçam o barulho da bateria …

Há bateristas que só querem bater nos tambores e nos pratos …

Os instrumentos de percussão, de índole profana, são inadequados ao templo. Quando usar a bateria deveria ser um exercício de bom-senso do baterista e do ministro ou diretor de música. A forma deveria ser a mais discreta possível, isto nas igrejas que admitem a bateria. Há membros de igrejas que acham não poder o “período de louvor” dispensar a bateria. Na pior das hipóteses, alguém técnica e artisticamente capacitado para tocar a bateria deveria escolher a música.

Já ouvimos um argumento capcioso: “muitos rejeitam a bateria, mas aceitam o piano, instrumento também percussivo, que no passado era totalmente proibido nas igrejas”. Um piano tocado percussivamente (em geral no prelúdio ou póslúdio) também deve ser motivo de admoestação pelo dirigente da música. Por esse argumento, a igreja deve aceitar os instrumentos de percussão fingindo tratarse de instrumentos adequados ao culto e ao templo.

Outros que advogam o uso da bateria afirmam: “precisamos estudar a bateria, pois estamos em novos dias”. Em outras palavras: precisamos nos acomodar à música profana e conformar aos costumes de nossa época.

Alguns crentes acham que o baterista não deve tocar como um passatempo. Se a música profana é, por sua própria natureza, um entretenimento, como o baterista poderá resistir à tentação de divertir-se na execução musical?

Neste periódico denominacional temos lido cartas de leitores que se queixam das batidas fortes, que, em vez de embelezar a música, enfeiam-na. Que dizer da música para vozes solistas, coro e congregação, acompanhada pela bateria? Quase não se ouve, ou não se entende, as palavras do canto.

Pensando bem, até para marcar o ritmo da música, a bateria é dispensável; só não é quando se trata de música visceralmente ligada à tradição militar ou aos rituais tribais; é indispensável na música profana popular.

Em algumas igrejas, já estão sendo usados atabaques (tambores de origem africana), a título de manifestações folclóricas (OJB, 22 set 02, p.4).

Alguns bateristas profissionais têm sido acolhidos em seminários e faculdades teológicas; eles compartilham a idéia de que qualquer tipo de instrumento, qualquer estilo ou ritmo musical, pode ser usado no culto e no templo; é uma idéia que vem contaminando o pensamento da liderança.

Para nós, bateria é instrumento que, mal tocado, mesmo na música profana, só serve para fazer barulho; bem tocado, no culto e no templo, não contribui para a dignidade do culto e não induz à adoração.

 

Uma igreja que valorize a execução musical em seus cultos certamente abandonará a bateria de triste memória.

(Publicado em “O Jornal Batista”, 05 mar 2006, p. 4).

 

2018-02-21T14:19:26+00:00 By |Instrumentos musicais|