Doc.JB-702
Rolando de Nassáu
Em 1986, o prezado leitor Élcio Éder Bondarchuk, de Colorado (PR), pediu-nos um artigo “sobre a bateria na música sacra”. Atendemos, esclarecendo que a música sacra não usa esse instrumento.
Já notamos que os Hebreus e Israelitas não usavam instrumentos de percussão nos cultos (Paul Mc Common, A música na Bíblia).
Na música erudita, entre os instrumentos de percussão que podem ser “afinados” encontramos os tímpanos (em inglês e em italiano: timpani; em francês: timbales; em alemão: pauken); entre os que não podem ser “afinados”, tocam apenas ritmos, o bombo (em inglês: bass drum; em italiano: gran cassa; em francês: grosse caísse; em alemão: grosse trommel). Durante muito tempo, os timpanos foram os únicos instrumentos de percussão admitidos na orquestra. Hector Berlioz, no “Tuba mirum” de seu “Réquiem”, prescreveu o uso de 16 tímpanos; em sua “Sinfonia Fantástica”, recorreu ao bombo. Na música de concerto esses instrumentos eram usados para fazer barulho … Recentemente, a Philadelphia Orchestra executou um concerto de Jennifer Higdon; o percussionista Colin Currie, ao tocar a bateria, teve seu momento de Max Roach …
Na década de 80, começaram a penetrar sutilmente nos templos os instrumentos barulhentos, entre eles a bateria (em inglês: drum set); é o conjunto de vários instrumentos percussivos acoplados adequadamente para serem tocados por um só músico; inclui uma caixa clara, um bumbo (percutido por pedal), um “tom” e um tambor surdo, e cinco tipos de pratos (“hi-hat”, “splash”, “crash”, “ride” e “china”).
Em nossos dias, instrumentos fragorosos estão sendo tocados em muitas de nossas igrejas, inclusive nas consideradas tradicionais. Isto é a conseqüência natural da adoção do “rock”. Os evangélicos, em geral, protestaram contra a realização dos festivais “Rock in Rio”, mas continuam admitindo o “rock” em suas igrejas. Seria farisaísmo proibir a bateria e aceitar o “rock” dentro do templo. O “rock” é ouvido pelos jovens por meio de discos, fitas, rádio, televisão, cinema e Internet, durante uma semana inteira. Será que esse estilo musical pode ser substituído totalmente no domingo? A bateria é indispensável ao “rock”, pois a batida forte é que mantém o interesse do ouvinte, por causar-lhe uma reação física. No dizer de Bob Larson, ex-roqueiro que se tornou evangelista (ver: The Day Music Died), a música de “rock”, “quando despida do toque repetitivo da bateria, jamais apelará ao ouvinte”.
A bateria está entre os intrumentos de percussão indispensáveis a qualquer conjunto de música popular; sem ela, a música não tem sentido, pois o ritmo, o beat, é o elemento coordenador de qualquer estilo instrumental jazzístico (ragtime, swing, bebop, etc.). O baterista é o músico que dá vida ao beat.
No início do jazz (por volta de 1890), não havia solos de bateria; o baterista não tinha mais nada a fazer do que executar regular e passivamente as suas batidas. A partir de 1920, o baterista passou a ter oportunidades de execução virtuosística. Na década de 60, foi “africanizada” a batida (Joachim Ernst Berendt, The Jazz Book).
Outro elemento indispensável ao prestígio da bateria e do conjunto de música popular é a amplificação do volume sonoro no ambiente. A tremenda força do som agride os ouvidos (a reação do jovem é: “eu não estou nem aí” …) e fragmenta as mentes das pessoas na congregação; por outro lado, eleva o nível-de-ruído no templo, de tal maneira que as palavras cantadas são freqüentemente inaudíveis ou ininteligíveis.
Concluímos que: 1º) a bateria não é instrumento apropriado para a execução de música sacra; 2º) os bateristas e seus advogados têm-se esforçado em traçar um paralelo entre os instrumentos de percussão mencionados na Bíblia e a atual bateria; 3º) a bateria não é instrumento percussivo próprio de uma orquestra para execução de música erudita; 4º) foi sutil, na década de 80, a penetração da bateria em alguns templos evangélicos; atualmente, menos de 25 anos depois de ter penetrado, a bateria parece dominar os templos, que não têm altares, mas palcos; 5º) com a bateria, entrou o “rock”; 6º) jovens evangélicos, por muito ouvir a música de “rock”, trouxeram-na para dentro dos templos; 7º) querendo imitar os músicos mundanos, jovens evangélicos promoveram dentro das igrejas e dos seminários o ensino e a prática da música de “rock” usando a bateria; 8º) o estilo, o instrumento e o ritmo musical exigiram a amplificação do volume sonoro dos templos; 9º) para mais rapidamente sensibilizar com simpatia as congregações, os bateristas, os roqueiros e os coreógrafos passaram a usar os deficientes auditivos em apresentações coreografadas, ao som de música popular; 10º) os seminários e as faculdades teológicas, para atender “à demanda do mercado”, abriram cursos de “musica cristã contemporânea”, que dão oportunidades à coreografia e à bateria durante os cultos dentro dos templos.
Esta é uma triste e constrangedora situação: conviver com música que agita as congregações e fragmenta as mentes das pessoas.
(Publicado em “O Jornal Batista”, 02 abr 2006, p. 4).