Reportagem de Roberto Torres Hollanda, com a colaboração de Edsom da Silva Leite e Rosber Neves Almeida (fotos).
“Não se esqueça, Vossa Alteza, de mandar para cá uns órgãos …” (trecho da carta do musicista Pero Fernandes Sardinha, bispo da Bahia, escrita em 1552, a D. João III, rei de Portugal).
A liderança da Igreja, antes da inauguração, lembrou-se de dotar o Templo Memorial Batista de um instrumento musical condizente com sua modernidade e a novidade da capital brasileira.
O Boletim Dominical em 8 de outubro de 1961 informou que tinha sido constituída uma comissão, composta de Alzira Coelho Brito (relatora), Ruth Botelho Vianna, Alda Fonseca Villas Boas e Geraldo Horácio de Oliveira, para estudar a importação de um órgão elétrico para o Templo Memorial.
Em carta escrita em Porto Alegre (RS) e transcrita no BD de 21 de outubro de 1962, o missionário James Musgrave, pastor emérito da Igreja Memorial, comunicou que o órgão “Hammond” estava no porto de New York, dependendo da licença de importação para seu embarque. O deputado federal Raymundo Brito, esposo (não crente) de Alzira Brito, em 1962 apresentou projeto-de-lei que concedia isenção do imposto de importação e das taxas aduaneiras para importação do referido órgão. Discutindo a proposição, falaram: o padre Nobre (que manifestou-se simpático ao projeto), o Sr. Aurino Valois (que lembrou ter sido a Memorial a única igreja em Brasília que não recebeu terreno em doação), o Sr. Eurico Oliveira (que votaria favoravelmente porque “se trata de obra de sentido profundamente meritório”) o Sr. Albérico Antunes de Oliveira (disse que projetos desse tipo devem ser aprova dos, porque “favorecem a cultura no seu setor enriquecido, a música, destacadamente a música sacra”) e o Sr. Áureo Mello (disse que o órgão complementaria “um dos mais belos monumentos de arte de Brasília”). O projeto foi unanimemente aprovado. O órgão tinha sido doado pela Foreign Mission Board, com a seguinte especificação: marca “Hammond”, tipo “Concert”, modelo “RT-3”.
O primeiro concerto foi realizado pela organista Marjorie Traxler, numa promoção do Departamento Cultural, dirigido pelo Ir. Roberto Torres Hollanda, em 1º. de novembro de 1963; a organista metodista, que estudou no famoso conservatório “Peabody”, de Baltimore, Maryland, EUA, executou música sacra.
O segundo, pelo jovem organista Onésimo Gomes da Silva, em 8 de abril de 1966, que executou duas peças (“Ave verum”, de Mozart, e “Ó, fronte ensanguentada”, de Bach) de música sacra. Onésimo, na ocasião, era organista da Igreja Cristã Evangélica “Betel”, em Taguatinga (DF).
Por proposta do ministro de música, Anderson Silveira Motta, foi criada, em 10 de setembro de 1997, uma comissão (Anderson Silveira Motta, Evaldo Nunes Albernaz e Rosber Neves Almeida) para estudar a aquisição de um novo órgão (ver: “Uma Igreja viva para o Deus vivo – História da Igreja Memorial Batista – 1960/2000”, pp. 191 e 192. Brasília: 2005).
O MM Anderson viajou, em 19 de agosto de 2008, para São Paulo (SP), onde visitou o escritório da firma “Roland”, que importa os órgãos da marca “Rodgers”, fabricados desde 1958 nos EUA, e o templo da Igreja Batista da Líberdade, para conhecer o órgão por ela adquirido há alguns meses.
Ele propôs a aquisição de um órgão eletrônico “Rodgers”, modelo “Trillium Masterpiece – 908”, de três teclados e pedaleira, e de tantas caixas de som adicionais quantas fossem necessárias à perfeita audição de todos os recursos técnicos do órgão. O contrato de aquisição foi firmado em 9 de setembro; a instalação ocorreu em 11 de dezembro. O “Rodgers” conta, além de outros recursos, com dispositivos para controle de volume, console com relógio e pistões iluminados. O “Hammond”, que durante 45 anos esteve em funcionamento no Templo Memorial, será transferido para o Auditório “Éber Vasconcelos”. Neste órgão, entre outros, foram executantes, notáveis por sua competência e senso de responsabilidade, Anderson Silveira Motta, Carlos Lopes da Silva, Claudete Pereira Lima Miotti, Clotildes Fraga Dias Ribeiro, Flávia Mirtes Cunha dos Santos, Gunila Kudiess, Laura Costa Granja, Luiz Alberto Nascimento Lemos, Osvaldo Cassimiro da Silva Júnior, Rejane Silveira de Araújo, Roberto de Souza Ramos, Rosmary Wondracek, Thais Maria de Machado Lemos Ribeiro e Zilla Vieira.
Finalmente, no culto dominical matutino de 14 de dezembro de 2008, aconteceu a inauguração.
Para tocá-lo, foi convidado o pianista e cravista Handel Cecílio Pinto da Silva, atual organista da Igreja Batista da Renascença, em Belo Horizonte (MG); seu nome é uma referência paterna ao compositor anglo-germânico de música anglicana e à padroeira italiana da música católica (ver: Rolando de Nassau, “Dicionário de Música Evangélica”, p. 159. Brasília: edição do autor, 1994). Ele foi organista da IB da Graça (por 14 anos) e da PIB de Belo Horizonte (por 18 anos).
Handel Cecílio é bacharel em piano e mestre em música pela Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG); mestre em musicologia histórica e doutorando na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).
Na década de 90, foi vice-presidente da AMB Mineiros. Desde essa década, tem sido diretor do curso de música do STB Mineiro. Recentemente, tornou-se diretor do “Intermezzo”, grupo vocal-instrumental da UEMG.
Musicólogo, participou do 16º. Congresso, em Brasília (2006) e do 17º. Congresso, em São Paulo (2007), da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música (ANPPOM). É especialista em música brasileira.
Em 2007 apresentou monografia sobre o órgão da freguezia de Córregos (MG) e foi aprovado para o curso de doutorado em música da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), a ser iniciado em 2009.
Tocou, em 8 de junho de 2008, o órgão da capela real, no Rio de Janeiro (RJ), no aniversário de Luiz de Orleans e Bragança, acompanhando o Coro Gregoriano de Ouro Preto (MG), regido por Fabrício Rodrigues Pereira.
Em julho deste ano, na UNICAMP, defendeu dissertação de mestrado sobre o órgão setecentista da igreja de Diamantina (MG), tendo como orientador Edmundo Hora; a banca examinadora era constituída de Calimério Soares, Helena Jank e Dorotéa Kerr, “experts” em música para órgão.
Atualmente, é organista e professor da Faculdade Batista de Belo Horizonte (MG).
Durante o culto, Handel Cecílio executou, no processional, “Deus dos Antigos”, música de G. W. Warren (HCC-34); no prelúdio, “A Ti, ó Deus”, de W. H. Monk (CC-1, HCC-8); e acompanhou o canto coral e congregacional.
O diác. Paulo Cezar Vieira dos Santos leu dados históricos e técnicos sobre construção e execução organística desde a Antiguidade e o pr. Josué Mello Salgado depois de ler uma passagem bíblica fez a oração de dedicação do novo órgão.
À tarde do mesmo domingo, Handel Cecílio ofereceu um recital com peças de Purcell, Telemann, Bach, Nebra, Soler, Boellmann, Young e Amaral Vieira.
O “Rodgers” abre uma nova página na história da Memorial e de Brasília
(Publicado em “O Jornal Batista”, 28 dez 08, p. 15)