Nº. 726 – “Magnificat”, de Buxtehude – 02 mar 2008, p. 4

//Nº. 726 – “Magnificat”, de Buxtehude – 02 mar 2008, p. 4

Nº. 726 – “Magnificat”, de Buxtehude – 02 mar 2008, p. 4

 

Doc.JB-726

“Magnificat”, de Buxtehude

Rolando de Nassáu

(Dedicado ao leitor Aderbal Mattos, de Salvador, BA)

Em 1957 inserimos na discografia de nosso primeiro livro, “Introdução à Música Sacra”, p. 252 (Rio de Janeiro: edição do autor), o “Magnificat”, de Dietrich Buxtehude (1637-1707).

Pudemos ouvi-lo, em janeiro de 1959, por meio de um disco elepê, na interpretação de solistas e dos “The Cantata Singers”, acompanhados por orquestra de cordas e órgão, sob a regência de Alfred Mann.

Na década de 80, surgiram versões em CD das obras de Buxtehude destinadas ao órgão, executadas por Michel Chapuis, Albert de Klerk, Leonel Rogg, Helmuth Walcha, Jiri Reinberger, Marie-Claire Alain, Peter Hurford, René Saorgin e Wolfgang Rubsam, entre outros.

Durante 39 anos (1668-1707), Buxtehude foi organista da “Marienkirche” de Lübeck (Alemanha). Em outubro de 1705, no início do inverno, Johann Sebastian Bach (1685-1750) foi de Arnstadt a Lübeck, a pé, para ouvir Buxtehude; ou para saber se teria oportunidade na sucessão do velho organista, que tinha exigido do pretendente o compromisso de casamento com sua filha. Bach permaneceu quase três meses em Lübeck; sua licença era de algumas semanas. Àquela época, não havia mestre maior que Buxtehude, no que dizia respeito à música para teclado, principalmente o órgão (Rolando de Nassau, “Bach: Vida e Obra Sacra”, p.21; escrito em 1984 e premiado em 1992 pela Academia Evangélica de Letras do Brasil, inédito).

A grandeza de Buxtehude é perceptível nas obras de Bach para órgão compostas em Weimar (1708-1717).

De suas 120 cantatas, 25 foram gravadas em CD na década de 80; como regentes destacaram-se Helmuth Rilling e Wilhelm Ehmann. No conjunto da obra coral sacra de Buxtehude, o “Magnificat” não é tão importante e tão divulgado quanto as cantatas. Rilling realizou duas gravações do “Magnificat” com o conjunto vocal-instrumental de Stuttgart; numa delas, ao de Buxtehude juntou as obras congêneres de Schütz, Monteverdi e Bach. O mestre do norte da Alemanha compôs excelentes cantatas (na época, denominadas “concertos sacros”), baseadas ou não em corais, algumas de grandes dimensões em sua concepção, tais como a de no. 41, “Herzlich lieb hab ich dich, o Herr” (Eu Te amo com amor sincero, ó Senhor), onde a melodia do coral é tratada com a ambição de torná-la peça de um oratório. Nas cantatas, em alguns casos, o coral é enriquecido por outras formas musicais e textos não relacionados. Elas incluem todos os tipos e estilos, desde a composição mais simples de coral até a mais elaborada ária para solo, com acompanhamento instrumental. Buxtehude também compôs para grande conjunto vocal, como no moteto “Laudate pueri”, para seis coros!

É possível que também tenha sido de Buxtehude o modelo de cantata adotado por Bach. Recentemente, pesquisadores descobriram que as cantatas “Furchtet euch nicht” e “Gott hilf mir” serviram de modelo para Bach. Na cantata “Nichts soll uns scheiden von der liebe Gottes”, BuxWV-77, (Nada nos separará do amor de Deus), aparece solenemente a retórica musical que caracterizaria as cantatas de Bach.

Trata-se a obra sob enfoque de um cântico que, nas igrejas litúrgicas (em algumas desde o século V), repete a canção de louvor e gratidão da virgem Maria, relatada no Evangelho de Lucas 1: 46-55. Em latim, “Magnificat anima mea Dominum” (A minha alma engrandece ao Senhor) são as primeiras palavras deste cântico, que, desde o século XIV, tem sido musicado por pelo menos 29 grandes compositores: Bach, Buxtehude, Charpentier, Couperin, Guerrero, Harwood, Howells, Monteverdi, Morales, Murrill, Palestrina, Part, Penderecki, Pergolesi, Rutter, Schubert, Schütz, Stainer, Stanford, Sumsion, Teleman, Victoria, Vivaldi, Walmisley, Walton, Willaert, Willcocks, Wood; apreciamos todas essas versões, mas preferimos a de Johann Sebastian Bach.

As onze palavras-chaves do texto são as seguintes: 1) “Magnificat” – expressa um louvor que nasce na intimidade de Maria; 2) “exsultavit” – é a expansão desse louvor; 3) “respexit” – é a confissão da humildade de Maria; 4) “ecce enim” – revela a consciência da significação da maternidade; 5) “quia fecit” – ressalta a majestade e santidade de Deus; 6) “et misericórdia” – confia na misericórdia divina; 7) “fecit potentiam” – reconhece o poder de Deus; 8) “deposuit” e 9) “esurientes” – proclamam a justiça de Deus; 10) “suscepit” –lembra a providência de Deus nos tempos antigos; 11) “sicut locutus” – confirma o esperança no cumprimento da promessa de Deus.

Esperamos que esta bela obra de Buxtehude seja incluída no repertório musical de nossas igrejas, não para atender ao gosto musical de pessoas, mas para adequar o ambiente ao culto solene e reverente.

 

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(Publicado em “O Jornal Batista”, 02 mar 08, p. 4)

 

2018-02-21T14:21:07+00:00 By |Obras musicais|