Nº. 691 – A formação do ministro de música – 01 mai 2005, p. 4

//Nº. 691 – A formação do ministro de música – 01 mai 2005, p. 4

Nº. 691 – A formação do ministro de música – 01 mai 2005, p. 4

 

Doc.JB-691

A formação do ministro de música

Rolando de Nassáu

Muitos problemas na atual situação do ministério da música nas igrejas têm origem no curso de música, realizado num seminário ou numa faculdade.

A igreja que não investe na formação de um ministro, nunca terá um ministro razoavelmente capacitado para a função. Mesmo sem usufruir a experiência de um ministro, pelo menos a igreja deveria pagar os custos de sua graduação, num seminário ou faculdade teológica, ou seu aperfeiçoamento (mestrado ou doutorado); seria um investimento na formação do ministro, que, três ou cinco anos mais tarde, teria como retorno a melhoria da música na igreja.

A formação do ministro de música, que, em geral, será contratado por uma igreja grande, exige que o curso tenha um currículo mais complexo. Para formar pianistas, organistas e regentes corais, que vão servir às igrejas médias e pequenas, talvez os atuais cursos sejam longos e onerosos para essas igrejas. A seleção para o curso de mestrado em música numa universidade é feita por doutores formados em composição, regência, pedagogia, história, musicologia, etnomusicologia, entre outras disciplinas. Num seminário batista, por doutores em ministério de música, que exigirão dos bacharéis conhecimentos de metodologia da pesquisa, hinologia, história da música, regência e estudos teológicos. Há ministros que gastaram tanto ou mais tempo em seu preparo acadêmico para o ministério da música quanto os ministros da Palavra.

Os atuais cursos de música dos seminários continuam sendo deficientes; ou “preparam” para igrejas que não possuem talentos musicais, ou para igrejas que exigem do ministro maior conhecimento teórico; ou são encaminhados a igrejas de baixo nível artístico, sem condições de apreciar o repertório planejado pelo ministro, ou a igrejas cujas membrezias esperam um repertório mais sofisticado. Deveria existir um banco-de-dados, onde os candidatos pudessem obter informações sobre os cursos; muitos vão às cegas para um seminário escolhido pela liderança da igreja.

É um equívoco dizer que nossos seminários precisam se atualizar, isto porque, nos dias atuais, atualização significaria acomodar, conformar, adaptar o ensino à música profana, o que já acontece em muitas igrejas sem que o ministro necessite frequentar um seminário. O de que os seminários precisam é ensinar a música sacra, com eficiência didática tal que a simples música-de-igreja possa tornar-se uma verdadeira música-de-culto. Atualizar significa fazer da música-de-igreja uma música-de-entretenimento. Desde os últimos quinze anos, o maior pecado cometido por alguns cursos de música dos seminários e faculdades teológicas é não saberem distinguir os gêneros sacro e profano. Alguns deles estão desvirtuando as suas finalidades, com a implantação do ensino de ritmos e instrumentos musicais profanos (alguns professores não saberão dizer porque não devem ser usados no culto divino), e de estilos eufemisticamente chamados de “música cristã contemporânea”. Felizmente, aconteceu recente substituição de uma diretora de curso de música, que, ao invés de procurar a elevação do nível artístico, tudo fez para rebaixá-lo. Nesse seminário não foi tomado como exemplo o padrão de excelência adotado pelo curso de música sacra do seminário batista de Fort Worth (Texas, EUA), mas o de qualquer cursinho de música popular, com a agravante de incluir no ensino a coreografia e os pandeiros.

É extremamente necessário que os cursos de música permaneçam nos seminários, para que, dentro de cinco anos, tenhamos novos ministros; mas é absolutamente indispensável que eles se dediquem à música sacra; senão, dentro de cinco anos, teremos outros compositores, letristas e cantores … de música popular ! As juntas administrativas dos seminários e faculdades teológicas precisariam ter condições de avaliar o ensino ministrado nos cursos de música, a fim de que eles preparem ministros para a música-de-igreja, e não a música-de-entretenimento. Tudo o que escrevemos também vale para as escolas de música anexas às igrejas.

Numa pesquisa de 1979 constatamos o fato de os cursos de música recrutarem e formarem bacharéis predominantemente dentro do elemento feminino de nossas igrejas. Algumas igrejas preferem (ou toleram) as moças, porque recebem remuneração menor do que seria paga aos ministros. Muitos jovens vocacionados (mas que não sabem em que seara iriam trabalhar) têm preconceito em relação ao estudo da música sacra, a ponto de colocá-lo em plano secundário no currículo e na carga horária. Há seminarista que encara o curso como meio de conseguir um trabalho remunerado (ainda que seja mal remunerado) ou um certificado que o habilite a participar de um concurso para ingresso no Serviço Público. Com tal concepção, não é de estranhar-se que o bacharel não sinta a vocação nem esteja preparado para o exercício competente do ministério.

A existência dos problemas aqui apontados explica a ligeireza na formação e a lentidão na alocação dos bacharéis, e a consequente precariedade da execução musical em nossas igrejas.

(Publicado em “O Jornal Batista”, 01 mai 2005, p. 4).