S/Nº. – Ambientes de culto (2) – R. T. Hollanda – 16 dez 2007, p. 14

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S/Nº. – Ambientes de culto (2) – R. T. Hollanda – 16 dez 2007, p. 14

 

AMBIENTES DE CULTO (II)

Roberto Torres Hollanda

 

Ambiente formal

 

Neste ambiente, em que o formato do culto pode ser litúrgico ou não-litúrgico, é muito importante a formalidade dos atos de culto. No ambiente ritual (não-litúrgico), a Ordem de Culto é invariável, atendendo ao critério racional de suas partes, que devem ser inteligíveis pela congregação (I Cor. 14.15).

Durante um século (1880-1980), a maioria dos Batistas no Brasil adotou o formato não-litúrgico e prestou culto num ambiente ritual.

Em muitas igrejas batistas, que, por definição, são não-litúrgicas (ver: nosso livro “Culto – Celebração e Devoção”. Rio de Janeiro: JUERP, 2007, pp. 56-67), o ambiente ritual foi indevidamente impregnado pelo formalismo.

Este ambiente exige planejamento do culto; há dirigentes que não estão capacitados para elaborá-lo, ou não têm condições de tempo para fazê-lo.

Em geral, a Ordem do Culto prevê comunicações, saudação aos visitantes, orações, leitura e explicação da Palavra de Deus, além das partes musicadas (convocação, processional, prelúdio, interlúdio, poslúdio, recessional, canto coral e congregacional); todos esses itens devem ser concatenados, a fim de atender ao objetivo educativo do culto. Se não houver a concatenação, o ambiente poderá transformar-se em emocional, dando lugar à improvisação e informalidade.

No ambiente ritual, o que caracteriza a execução musical é que os cantores e os instrumentistas pelo menos não tentam manipular os sentimentos dos cultuantes; os sentimentos são a resposta ao que é racionalmente entendido e apreciado pelos cultuantes; as letras e as melodias dos hinos são associadas às idéias e convicções dos cultuantes em relação a Deus, hauridas durante o trabalho educativo da igreja, por meio das aulas da Escola Bíblica Dominical e dos sermões pastorais; a execução musical não suscita emoções, mas reflexões.

A música de Johann Sebastian Bach é a que melhor serve ao ambiente ritual. Nenhuma igreja pode pretender atingir a excelência na execução musical se não tem em seus cultos a música de Bach, pelo menos como parâmetro. A cantata sacra, especialmente a de Bach, funciona como “segundo sermão”; ajusta-se à uma Ordem de Culto bem planejada; tem objetivo hermenêutico na reflexão da Palavra de Deus; é teocêntrica e cristocêntrica; leva a congregação ao entendimento e à apreciação da finalidade do culto; dá ao cultuante oportunidade para responder intelectual e afetivamente à mensagem pastoral.

Um ambiente ritual que dispense a música de melhor qualidade técnica, artística e espiritual significa que trata o culto como mera formalidade.

O mesmo ocorre com a pregação; o pregador não tenta manipular psicologicamente o auditório provocando emocionalismo; os ouvintes entendem e refletem sobre a mensagem (Rom. 10. 17).

Apesar da pretensão de alguns cantores e instrumentistas, a música não afeta a alma, somente as emoções humanas. A alma é ativada e impressionada pela mente, sob a inspiração do Espírito Santo. Se o assistente do culto necessita de música ritmada, em alto volume sonoro, produzida por guitarra, bateria e outros instrumentos de percussão, é porque precisa de excitação dos sentidos, não de despertamento dos seus sentimentos.

Durante o culto, num ambiente ritual é mais propícia a edificação do entendimento do ouvinte quanto às questões espirituais; essa edificação é um trabalho lento, contínuo e organizado dos ministérios da igreja; o canto, a oração e a pregação devem servir para a edificação espiritual (I Cor. 14. 26); por isso, há necessidade de ordem no culto; o ambiente, não sendo planejado e orientado à edificação espiritual, dará lugar ao canto performático, à oração vazia e à pregação vaidosa ((I Cor. 2. 4-5).

Cada parte do culto deve ser entendida pelo cultuante; ele deve ser movido espiritualmente, não pela música ou pelo espetáculo.

O perigo do ambiente ritual é cair no formalismo e no esteticismo.

A igreja não pretende realizar cultos litúrgicos, mas a Ordem de Culto pode tornar-se rígida, previsível e irrelevante; a congregação já advinha quais os rumos da mensagem pastoral, quais hinos serão cantados, quais petições serão feitas. No decorrer dos anos, os membros da igreja aprendem quais são os momentos que facilitam a sua saída antecipada do templo …

Considerando os cuidados no planejamento do culto, é possível que haja excessiva preocupação com os elementos artísticos da execução musical e da oratória pastoral. O ambiente ritual pode ser profanizado pelo uso de música erudita inadequada e de conceitos da cultura mundana.

O formalismo pode fazer com que os itens da Ordem de Culto sejam realizados mecanicamente, como que “para cumprir o programa”. Até a celebração cronometrada dos batismos e da Ceia do Senhor padece da característica secular: a celeridade. Onde e quando isso acontece, não há reflexão apropriada.

Em certas igrejas (a de Rick Warren, por exemplo) não há intervalos entre as partes do culto; alegam que quando há pausas “os não-crentes já caíram no sono”; adotam a rápida seqüência das cenas que se observa nos programas de televisão. Embora, aparentemente, rejeite o formato litúrgico, esta prática de Rick Warren e de seus admiradores não deixa de ser um ritual “eletrônico”.

Desde a década de 80, o ambiente ritual tem sido substituído.

 

(Publicado em “O Jornal Batista”, 16 dez 2007, p. 14).