S/Nº. – Ambientes de culto (3) – R. T. Hollanda – 13 jan 2008, p. 6

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S/Nº. – Ambientes de culto (3) – R. T. Hollanda – 13 jan 2008, p. 6

 

Ambientes de Culto (III)

Roberto Torres Hollanda

Ambiente informal

Este ambiente, que substitui o formal, decorre, em grande parte, da voluntária informalidade dos atos de culto.

Desde o início da década de 80 nota-se no Brasil uma tendência à improvisação e informalidade no culto cristão, que tem contaminado o culto batista (ver: nosso livro “Culto – Celebração e Devoção”. Rio de Janeiro: JUERP, 2007, pp. 39-40, 75-76).

Alguns crentes contemporâneos acham que a Ordem de Culto limita a ação do Espírito Santo. Por isso, o culto, para eles, deveria ser informal, improvisado, espontâneo e descontraído (op. cit., p. 38). Durante o culto, o assistente tem muitas ocasiões para expressão corporal; às vezes, para a prática da dança.

O culto regido pela liturgia, cada vez mais complexo, desenvolvido na mentalidade européia, tem certa dificuldade em competir com o culto informal, que caracteriza várias denominações e igrejas de cultura extra-européia. O ambiente litúrgico da Igreja Romana, apesar de muito comprometido com os ritos, disputa com o ambiente emocional de certas igrejas evangélicas a preferência dos fiéis (op. cit., p. 125).

As igrejas, especialmente as “carismáticas”, que cultivam o ambiente emocional, cuidam da manipulação psicológica das platéias. Entretanto, as igrejas tradicionais e “ritualistas” também procuram causar impacto emocional sobre as suas congregações. Entre essas igrejas existem as que, por ocasião do louvor, comportam-se como igrejas contemporâneas (op. cit., p. 47). Os batismos, celebrados freqüentemente, despertam, pelo cenário dramático, muito mais curiosidade do público; a celebração da Ceia do Senhor tem menor importância; essas ordenanças são consideradas apêndices do culto (op. cit. , pp. 76, 144 e 149).

No ambiente emocional, os dirigentes procuram excitar as emoções do assistente do culto, conseguir um generalizado sentimento de satisfação e felicidade, e sugerir a presença de Deus na música e na coreografia (op. cit., p. 127).

O ambiente facilita o uso da pregação e da música para comover os corações; não é tão importante edificá-los no entendimento da pregação.

De acordo com o nível cultural da congregação, as bandas e as orquestras nas igrejas introduzem um elemento emocional no louvor, o que confirma a idéia de que a música é um objeto cultural; as bandas, para atender o gosto popular, as orquestras, o gosto erudito da congregação; ambas, desviam-se do padrão bíblico da música-de-culto; não há discernimento entre música-de-culto e música de entretenimento.

O “play-back” é usado com freqüência para acompanhar solos vocais, canto coral e canto congregacional gravados fora do Brasil; esta prática perniciosa revela que há um motivo mercantil que determina o seu uso, ou sucumbência à “lei do menor esforço”. Quando um cantor ou conjunto vocal, depois de ter sido sempre acompanhado por um instrumentista, começa a usar “play-back” é sinal de que entrou numa fase de decadência artística.

Igrejas protestantes e evangélicas, no ambiente ritual ou no ambiente emocional, compartilham recursos mundanos, quando empregam o ritmo, a repetição dos cânticos e a expressão corporal.

Nas igrejas contemporâneas, artificialmente “avivadas”, o culto é aberto de maneira a causar impacto sobre a congregação; a execução musical logo estimula a congregação, sob a liderança (ou comando?) de uma equipe, a participar de um longo período de louvor; o “louvorzão” é mais importante do que a mensagem pastoral (op. cit., pp. 47 e 112). O período serve para “aquecer” os corações dos assistentes (op. cit., p. 105). É oportuno lembrar que Jesus disse: “Ide e pregai”; não disse “Ide e cantai”. Louvor é mais do que canto e música.

Nessas igrejas “avivadas”, muitos jovens preferem o ambiente “emocional” porque se sentem desinibidos em relação à idéia “tradicional”de reverência: podem usar música e coreografia profanas, com o aval da liderança.

Em certas igrejas “carismáticas” à leitura e explicação expositiva da Palavra de Deus é concedido pouco tempo na Ordem de Culto; neste item o que ocorre é uma ampla arenga (sobre dificuldade financeira e prosperidade, doenças e curas, conflitos nos relacionamentos e recursos psicológicos, intranqüilidade e bênção) para satisfazer as emoções primárias dos ouvintes. Mas culto não é oportunidade para catarse individual e êxtase coletivo (op. cit., pp. 39 e 40). Por sua vez, a congregação tem poucas oportunidades para leitura da Bíblia (op. cit., p.89).

Nas igrejas maiores, tradicionais ou contemporâneas, às vezes são oferecidos mega-espetáculos musicados, com os mais avançados equipamentos de som e imagem, quando são repetidos à exaustão, mesmo sem meditação, estribilhos pouco relacionados à doutrina da igreja, como se fossem “mantras” (op. cit., p. 89).

Num passado recente, as igrejas “avivadas” e “carismáticas” davam pouca importância à formação de teólogos e músicos. Isto explica a informalidade de seus cultos. Faltou-lhes o aprendizado e a experiência da teologia do culto. Nas igrejas tradicionais a desorganização de seus cultos decorreu da pouca atenção dada pelas instituições teológicas e musicais (op. cit., p.35).

O perigo do ambiente emocional é cair no misticismo; a música e o canto podem levar uma congregação tradicional a um ambiente místico, de êxtase.

 

(Publicado em “O Jornal Batista”, 13 jan 2008, p. 6).