Nº. 716 – Tributo a Marília Soren – 03 jun 2007, p. 4

//Nº. 716 – Tributo a Marília Soren – 03 jun 2007, p. 4

Nº. 716 – Tributo a Marília Soren – 03 jun 2007, p. 4

 

Música – Nº. 716

Tributo a Marília Soren

Rolando de Nassáu

(Dedicado à leitora Leda Gurgel Mainhard, do Rio de Janeiro, RJ)

Privilegiados, ao surgir a primeira (1950-1975), ao desenvolver-se a segunda (1976-2000) e ao despontar a terceira (2001-2007) gerações, pudemos escrever a respeito dos músicos evangélicos no Brasil.

Marília Soren (1936-2007) foi uma das musicistas que se destacaram na música evangélica nos últimos 50 anos; poucas tiveram tão extensa e duradoura folha-de-serviços, nas igrejas e no meio artístico, como intérprete ou executante de páginas da literatura operística e de peças da música instrumental, bem como na regência de obras da música coral (http://www.abordo.com.br/nassau/galeria.htm.

Nesta coluna, nossas primeiras referências à sua atuação foram motivadas pelos trechos do oratório “Messias”, de Haendel, que cantou na chamada “Semana Santa” de 1954 (ver: OJB, 13 jan 55) e no concerto regido por Natanael Mesquita (ver: OJB, 24 nov 55), quando também executou ao órgão uma “Toccata e Fuga”, de Bach; na época, o Coro da PIB-RJ (109 coristas) foi considerado o maior e melhor coro de igreja evangélica do Brasil, e Marília Soren estudava piano no Conservatório Brasileiro de Música, onde diplomou-se “com distinção”, e órgão na Escola de Música (atual UFRJ) com Antônio Silva e Gertrud Mersiovsky, revelando-se uma das melhores alunas.

Marília estudou canto no Conservatório Nacional de Canto Orfeônico (fundado em 1942 por Heitor Villa-Lobos), conquistando o primeiro lugar no concurso para aperfeiçoamento, e na Escola de Arte Lírica do Teatro Municipal do Rio de Janeiro; dedicou sua arte lírica à música sacra: foi meio-soprano da PIB, do Coral Excelsior e da Associação Coral Evangélica do Rio de Janeiro.

Em 23 de novembro de 1957, em dueto com a soprano Gláucia Simas (outra grande cantora), num concerto da ACE, Marília interpretou o “Recordare”, de Verdi; em nosso artigo de crítica, escrevemos: “após o soturno refrão que sublinha o texto litúrgico, Marília iniciou, com uma voz homogênea, no melhor diapasão, e num timbre claro e puro, obtendo surpreendente perfeição, a frase “Recordare, Jesu pie, quod sum causa tuae viae”, demonstrando possuir qualidades eminentemente aptas à interpretação desta página religiosa” (ver: OJB, 30 jan 58). Em 1959, depois de brilhantes apresentações no Teatro Experimental de Ópera, venceu o concurso para solistas da Orquestra Sinfônica Brasileira, sob a regência de Eleazar de Carvalho.

Marília foi assídua ocupante do “console” do órgão eletromagnético “Hammond” da PIB-RJ e reinaugurou os órgãos-de-tubos das igrejas luteranas de Juiz de Fora (MG) e de Petrópolis (RJ) (ver: Rolando de Nassau, Dicionário de Música Evangélica, p. 163). Em 29 de maio de 1959, Marília participou do Quarto Festival de Música Sacra oferecendo um recital de órgão; no “Andantino”, de Franck, Marília transmitiu as emoções religiosas do compositor; na “Prece”, de Nepomuceno, captou o sentimentalismo bem brasileiro da obra; na “Toccata”, de Gigout, exibiu um extraordinário virtuosismo; no “Concerto”, de Vivaldi, aproveitou, em belas sonoridades, a riqueza desta obra; no “Prelúdio e Fuga”, em ré menor (BWV-539), de Bach, conseguiu soberba interpretação (ver: OJB, 23 jul 59 e 11 fev 60).

Em 26 de setembro de 1959, Marília foi uma das solistas do “Requiem”, de Mozart, executado pelo Pequeno Coro da ACE do Rio de Janeiro na Escola Nacional de Música (ver: OJB, 05 nov 59). Marília foi altamente considerada por sua brilhante atuação no “Réquiem”, “tendo exata noção do colorido próprio de cada trecho e aproximando-se do verdadeiro estilo da obra” (ver: OJB, 11 fev 60). Seu prestígio continuou em 1960: foi distinguida como “a melhor amiga da Música Sacra”, não somente pela cuidadosa escolha e execução de seu repertório dominical na PIB-RJ, mas também pelo concerto inaugural do órgão do STBSB” (ver: OJB, 09 mai 61).

De 1960 a 1966, Marília regeu o Coro da PIB-RJ. Com a nossa mudança para Brasília, em 1961, não pudemos acompanhar de perto a brilhante trajetória artística de Marília. Mas tivemos a grata satisfação de assistir ao concerto de canções natalinas do Coro da PIB-RJ (então com 78 coristas), em 26 de dezembro de 1965, regido por Marília Soren (ver: OJB, 06 fev 66).

João Filson Soren, pastor (1935-1985) da PIB-RJ, foi o mentor das atividades artísticas de sua filha Marília; musicista (ver: OJB, 06 jan 85), aconselhava como deveria cantar, tocar e reger; ele não tinha ministro auxiliar para a música e o louvor (cantado ou falado), nem dispunha de um boletim para orientar a congregação em suas reuniões dominicais, mas, como poucos em sua geração, conhecia muito bem a arte do culto público.

Depois de 12 anos (1954-1966) de ininterrupta liderança na atividade lírica, pianística, organística e coral, Marília não deixou de exercer sua benéfica influência na área musical da PIB-RJ, bafejada pelo apoio do pr. Soren.

Em 1975, contribuiu para a formação do “Aulos”, conjunto de flautas-doces, integrado por jovens e adolescentes flautistas (entre os quais Suray Soren e Domitila Ballesteros) e dirigido por Amaru Soren. Desde 1988, vinha regendo o Coro “João Soren”, que tinha sido criado para comemorar, em 1984, o centenário da PIB-RJ. Marília honrou o seu pai, a sua Igreja e a sua Denominação!

 

(Publicado em “O Jornal Batista”, 03 jun 2007, p. 4).

 

2018-02-21T14:35:27+00:00 By |Personalidades|