Nº. 654 – A música na NVI da Bíblia – 22 abr 2002, p. 4

//Nº. 654 – A música na NVI da Bíblia – 22 abr 2002, p. 4

Nº. 654 – A música na NVI da Bíblia – 22 abr 2002, p. 4

 

Música – Nº. 654

A música na NVI da Bíblia

Rolando de Nassáu

Pouco tempo depois do lançamento da Versão Revisada (Imprensa Bíblica Brasileira) e da Tradução na Linguagem de Hoje (Sociedade Bíblica do Brasil), escrevemos sobre algumas incorreções no trabalho editorial dessas edições da Bíblia (ver: “O Jornal Batista”, 23 fev 92, p.2).

Faremos o mesmo em relação à Nova Versão Internacional (Editora “Vida”). Nosso propósito não é discutir a exatidão lingüística da NVI, mas fornecer informações que esclareçam assuntos musicais.

 

I – Cabeçalhos no Primeiro Livro das Crônicas

 

O Primeiro Livro das Crônicas atribui excepcional importância ao canto, à música e à liturgia, dedicando mais espaço à organização dos Levitas do que à dos Sacerdotes. Os Levitas encarregavam-se somente do canto, da música, da manutenção e da vigilância do Templo.

O interesse que o Cronista demonstra pelo canto e na ordem levítica dos Cantores sugere que ele era membro desta classe clerical. Para ele, as palavras litúrgicas dos Cantores, divinamente sancionadas, são tão importantes quanto os atos litúrgicos dos Sacerdotes: os Cantores profetizavam.

Ah! Quem dera fosse o canto dos coristas tão espiritual quanto a homilia dos pregadores!

O uso da expressão “ministério de profetizar” (25:1) tem cabimento no contexto histórico.

Como organizador do culto divino, o rei Davi ordenou que a Arca fosse levada para Jerusalém e que, uma vez colocada no meio da tenda, houvesse um culto solene. Mesmo antes de iniciada a construção do Templo, Davi encarregou certos Levitas e Sacerdotes de praticarem o canto e a música no culto a Jeová.

Entre os Israelitas, após a construção do Templo, erigido pelo rei Salomão, a hierarquia clerical consistia de: 1) clero superior; 2) clero inferior – os Levitas: cantores, músicos, serventes e guardas do Templo. No culto organizado da época pré-exílio, houve oportunidade para profetas. Depois da reconstrução do Templo, o papel do profeta foi desempenhado pelo autorizado, e por isso inspirado, cantor dos textos litúrgicos.

Preliminarmente, verificamos que, nos capítulos 6 e 25 do Primeiro Livro das Crônicas, os cabeçalhos “Os Músicos do Templo” e “Os Músicos”, são inadequados. Pelo capítulo 15, somos informados de que havia, entre os Levitas, cantores e músicos. Portanto, os cabeçalhos deveriam ser substituídos pela epígrafe “Cantores e Músicos”.

 

II – Cabeçalhos dos Salmos

 

São associadas com o uso litúrgico dos Salmos várias palavras hebraicas, às vezes acrescentadas aos cabeçalhos dos Salmos, as quais, provavelmente, são termos musicais ou indicações para os coros da época do Cronista, quando os Salmos foram colecionados. Essas palavras podem ser: 1) descritivas; 2) indicativas; 3) instrumentos musicais; 4) interpretativas; 5) referências a melodias originais; 6) época de execução: 7) local de execução; 8) embora não apareça nos cabeçalhos, mas no final de uma estrofe, a palavra “selah” é usada em 39 Salmos.

Imitando a Versão Revisada e a Tradução na Linguagem de Hoje, e atendendo atavicamente a uma tradição editorial, a NVI inscreveu essas palavras hebraicas, transliteradas ou traduzidas, nos cabeçalhos dos Salmos.

Em nossa opinião, são dispensáveis, pelas seguintes razões: 1ª.) as denominações evangélicas são não-litúrgicas, isto é, não adotam liturgia em seus cultos; 2ª) as palavras dos cantores não têm eficácia litúrgica; 3ª) as palavras hebraicas não fazem parte do texto inspirado da Bíblia; são apenas indicações dos editores dos livros litúrgicos (Crônicas, Salmos, e outros); 4ª.) a inclusão delas nos cabeçalhos dos Salmos não tem nenhuma utilidade prática, nem significação espiritual; não conhecemos as melodias, nem usamos os instrumentos musicais daquela época remota.

A exemplo do que fez Martin Luther em sua tradução para a língua alemã, a NVI, em sua próxima edição, poderia dispensar quaisquer cabeçalhos para os Salmos.

 

III – Indicação de instrumentos musicais

 

No aspecto do estilo musical a ser usado pelas igrejas contemporâneas no culto divino, a Nova Versão Internacional (NVI), mesmo que tenha procurado a exatidão lingüística, comete um erro lamentável, de conseqüências imprevisíveis para a preservação da música sacra: enquanto a Versão Revisada usa a palavra “adufe” (pandeiro árabe usado pelos Hebreus), e a Tradução na Linguagem de Hoje, o termo “pandeiros” (címbalos, pratos-de-orquestra), a Nova Versão Internacional, no Salmo 150, versículo 4, admite “tamborins”, instrumento musical muito usado nas baterias das escolas de samba …

(Publicado em “O Jornal Batista”, 22 abr 2002, p. 4).

 

2018-02-21T14:41:06+00:00 By |Publicações|