Música – Nº. 668
Rolando de Nassáu
“Jam a prima adolescentia”, como diria o escritor romano Marcus Tullius Cícero; desde os dias ginasianos (1943-1946), temos seguido as lições dos latinistas Brant Horta, Vandick Londres da Nóbrega e Geraldo de Ulhôa Cintra; mais recentemente, as observações de Thomas Lynch Cullen.
Durante muito tempo, escrevíamos e pronunciávamos “hinódia” e “salmódia”, até que um colega da Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados advertiu-nos: a escrita e pronúncia correta é “hinodia” e “salmodia”.
Ultimamente, nos concertos de música erudita, temos observado que coros evangélicos têm tido dificuldade na pronúncia de palavras latinas. Relembraremos aqui algumas normas que aprendemos com os referidos latinistas.
O alfabeto usado pelos Romanos essencialmente foi conservado no alfabeto português; o “j” foi introduzido para representar o “i”, antes das vogais (jaculatio); o “v”, para representar o “u”, antes das vogais (navis); mas o “u” permaneceu, antes das consoantes (nauta).
Ao conjunto das cinco vogais do latim, pronunciadas com som aberto, acrescentou-se o “y”, usado em palavras oriundas do grego (hymnus, hymnologus); os Romanos usavam vogais longas (fechadas) e breves (abertas), que os dicionaristas indicam com os sinais “____” (longas) e “U” (breves).
Em latim, os mais freqüentes ditongos eram “ae” (caelum – cé-lum; Caesar – cé-sar) e “au” (lauda – láu-da); relativamente raro, o ditongo “oe” (oeconomia – é-co-no-mia).
A consoante “C” tem o som de cá (caritas – cá-ri-tas). As consoantes “CC” e “SC”, antes das vogais “e”, “i”, “y”, e dos ditongos “ae”, “oe”, são pronunciadas assim: ecce– ét-che; descendit – de-chen-dit. As palavras que contêm o conjunto “CE” têm o som “ss” (pacem – pá-ssem; tacet – tá-sset). O conjunto “CH” tem o som de cã (charites – cã-rí-tes; chamaeleon – cã-me-le-on). O conjunto “SC”, entre vogais “e”, tem o som “ss” (crescere – kre-sse-re).
A consoante “G”, antes das vogais “e”, “i”, “y”, e dos ditongos “ae”, “oe”, tem som brando (gemellus – gê-me-lus; agimus – a-jí-mus; genitum – gê-ni-tum; magi – má-jí; nugae – nú-je); antes da vogal “o”, som forte (ego – é-gó); antes da letra “n”, tem som duro (dignus – dig-nus). As consoantes “GN” são pronunciadas como “ní” (magnificat – má-ni-fi-cat).
A consoante “H”, em duas palavras, tem o som de “qui” (nihil – níquil; mihi – mi-qui); nas demais, é sempre muda.
A consoante “J” tem o som de “i” (jam – i-am).
A consoante “R”, antes da vogal breve “e”, deve ser enfatizada (redemptor – rê-demp-tor).
A consoante “S”, entre duas vogais, deve ter pronúncia abrandada (miserere – mi-ze-re-re).
A consoante “T”, entre vogais, soa como “ss” (jubilationis – iu-bi-la-ssi-o-nis). O conjunto “TI”, antes de vogal, é pronunciado como “tsi” (gratia-grá-tsi-a; nationes – ná-tsi-o-nes). O conjunto “TH” é pronunciado como “t” (thesaurus – te-sau-rus).
A letra “X” é sempre pronunciada “ks”, jamais “z” (exercitus – é-ks-ser-ci-tus). O conjunto “XC”, antes das vogais “e”, “i”,”y”, e dos ditongos “ae”, “oe”, é pronunciado assim: excelsis – eks-cel-sis; antes das vogais “a”, “o”, “u”, tem som duro (excandescentia – eks-an-des-cen-tia; excordis – eks-cor-dis; excussorium – eks-cu-sso-ri-um).
As letras gregas “Y” e “Z” são pronunciadas como “i” e como “dz”, respectivamente.
Entre os coros de cultura anglo-saxã ou latina, existe a tendência para uma pronúncia particular. Aos estudiosos sugerimos, para efeito de comparação entre essas peculiaridades de pronúncia, que ouçam: o “Requiem”, de Mozart, interpretado pelo Coro “Bach”, de Munique (Karl Richter), Coro da Ópera de Viena (Karl Bohm), Coro da BBC de Londres (Colin Davis) e Coro “John Al-ldis (Daniel Barenboim), ou o “Requiem”, de Fauré, na interpretação pelo Coro “Lês Chanteurs de Saint-Eustache” (André Cluytens) e pelo Coro do “King’s College” (Philip Ledger).
Depois, digam quais as diferenças de pronúncia encontradas …
(Publicado em “O Jornal Batista”, 01 jun 2003, p. 4).