Nº. 710 – 55 anos de crítica musical (1) – 03 dez 2006, p. 4

//Nº. 710 – 55 anos de crítica musical (1) – 03 dez 2006, p. 4

Nº. 710 – 55 anos de crítica musical (1) – 03 dez 2006, p. 4

 

Música – Nº. 710

55 anos de crítica musical

Rolando de Nassáu

(Dedicado à leitora Betty Antunes de Oliveira, do Rio de Janeiro, RJ)

Em 13 de dezembro de 1951 foi publicado nesta coluna nosso primeiro artigo de crítica musical. Desde então, em 709 artigos temos opinado sobre recitais e concertos; gravações e publicações; obras, formas, estilos e instrumentos; compositores e hinógrafos; hinários, hinos e hinologia; personalidades e instituições; organização e repertório da música-de-igreja.

Esta coluna constituiu-se em repositório de subsídios para uma futura história da música nas igrejas batistas do Brasil. Neste artigo relembraremos os recitais e concertos que foram eventos marcantes nas últimas seis décadas.

Nas décadas de 50 e 60, mereceram nossa atenção o Coral Excelsior e a Associação Coral Evangélica, as mais atuantes instituições musicais no Rio de Janeiro. O “Excelsior” especializava-se na execução de oratórios, óperas e cantatas do compositor batista Guilherme Loureiro, de índole nativa e caracterizadas pelo vigor de sua originalidade. A “ACE”, regida por Levino Ferreira de Alcântara e Heitor Argolo, divulgava as obras dos mestres da música religiosa, por meio de grandes massas corais. Entre elas havia algo de competição na excelência musical.

O elevado nível artístico do repertório dessas instituições era emulado pelos coros de igrejas batistas cariocas, regidos por Heitor Argôlo (S. Francisco Xavier), Natanael Mesquita (PIB do Rio de Janeiro), Dorivil de Souza (Madureira) e Saulo Velasco (Campo dos Afonsos), e pelo coro da Primeira Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo (João Wilson Faustini).

Na década de 70, em Brasília despontou o Coro Memorial, regido por Tasso Brasileiro do Vale e Albano Sílvio de Freitas, nas várias execuções da cantata “Maior Amor”, de John Peterson (1921-2006); essa obra, 30 anos depois, ainda conserva o viço de sua beleza melódica e expressividade literária. No Rio de Janeiro, na Igreja Batista do Méier, sob a regência de Guilherme Loureiro, o coro interpretava a cantata “Maravilhoso Salvador”, também de Peterson. Essa era a música “séria” executada nas igrejas batistas, antes de uma lastimável transição.

Nas décadas de 60 e 70 tinham começado a produzir seus efeitos maléficos na música-de-igreja (evitamos falar música sacra) o “rock” profano e as melodias “litúrgicas” promovidas pela Igreja Anglicana e pela Igreja Romana. De pronto, denunciamos as músicas inconvenientes aos cultos das igrejas batistas, de origem erudita ou popular, mas não deixamos de apontar aos líderes das igrejas as origens e os rumos da verdadeira música-de-igreja. Nos EUA, o canto coral tinha sido deturpado pela suposta necessidade de ser acompanhado de expressão corporal; a atenção do auditório era desviada do senso auditivo para o visual. Com essa concepção novidadeira, Buryl Red musicou o espetáculo “Celebrate Life”, que, em 1975, sob o título “Celebração”, foi encenado em Brasília por Roger Cole com a participação do Coral Jovem de São Paulo.

Na década de 80, os coros da Faculdade Teológica Batista de Brasília (Edith Brock Mulholland) e da Igreja Batista na Vila Mariana, em São Paulo (Maria Isabel Glasser Leme Stach) estavam num dos seus melhores tempos.

Nessa década brotou um ramo artísticamente pobre na música evangélica importada pelo Brasil: o aparecimento do conjunto musical paulistano “Água Viva”, patrocinado pelo MILAD, quase simultaneamente com o florescimento da “Contemporary Christian Music” (música cristã contemporânea), que produziu o fenômeno “praise and worship” (louvor e adoração). Para piorar o nível dessa música evangélica de apelo popular, alcunhada de “gospel music”, também entrou em cena com seu “rock” o “Rebanhão”, um imenso rebanho sem pastor.

Na década de 90 prestigiamos os bons concertos corais, realizados pelo Coro da Igreja Batista do Brás (Elias Moreira da Silva), Coral “Eclésia” (Anna Campello Egger), “Hiero Madrigal” (Maurílio Costa), Coral Excelsior (João Genúncio), Coro “Mensageiros da Paz” (Albano Sílvio de Freitas) e Coro Memorial (Anderson Silveira Motta), e os recitais de Gamaliel Perruci, Dorotéa Kerr e Marylin Cochran, que salvaram a música batista da horripilante mediocridade, disseminada na época pelos “musical shows”.

Na década atual, combatemos o “gospel rock” (“roque evangélico”), a bateria, a coreografia e a dança no templo, mas elogiamos o concerto de música sacra barroca, realizado pelo grupo vocal (sic) “Per Sonare”, o recital de Ralph Manuel e os encontros de quartetos masculinos, patrocinados, em Brasília, pela Igreja Memorial Batista.

Tivemos oportunidade de comentar os concertos do coro infanto-juvenil de Leipzig (1955), dos coros “Bach” do Recife (1955), de São Paulo (1961) e de Niterói (1976) e as turnês dos “Teentoners” (1968), dos “Centurymen” (1977 e 1998) e dos “Singing Men of Texas” (1982). Isso demonstra que o que é bom demora a vir, mas raramente volta …

 

Recitais e concertos de uma categoria especial foram os de órgão, realizados, no Rio de Janeiro, por Marília Soren (1959), Domitila Ballesteros (1980), Edson Lopes Elias e Dorotéa Kerr (1993), e em Brasília, por Marjorie Traxler (1963), Onésimo Gomes da Silva (1966) e Betty Antunes de Oliveira (1980). Ainda está longe de ser alcançado o ideal de termos música de órgão, de boa qualidade, nas igrejas batistas do Brasil.

(Publicado em “O Jornal Batista”, 03 dez 2006, p. 4).

 

2018-02-21T14:42:39+00:00 By |Publicações|