Nº. 656 – Tipologia do “gospel” – 03 jun 2002, p. 4

//Nº. 656 – Tipologia do “gospel” – 03 jun 2002, p. 4

Nº. 656 – Tipologia do “gospel” – 03 jun 2002, p. 4

 

Doc.JB-656

Tipologia do “Gospel”

Rolando de Nassáu

Em nossa página eletrônica http://www.abordo.com.br/nassau/ na Internet, tratando dos estilos de música religiosa, escrevemos sobre o “Gospel”.

Há três tipos de “gospel”: o de culto, o de concerto e o de espetáculo; em suas turnês pelo Brasil, passando por Brasília, foram exemplificados pelo “The Mount Moriah Choir”, pelo “The American Spiritual Ensemble” e pelo “Harlem Gospel Choir”; nas três apresentações, as salas-de-concerto ficaram superlotadas.

Vejamos as constituições, os temperamentos e os caracteres deles. Cada um tem membrezia, localidade, orientação, repertório e estilo de execução.

O “The Mount Moriah Choir” (MMC), de uma pequena e modesta igreja batista negra localizada no bairro do Harlem, em New York (pastoreada por Edward-Earl Johnson), é dirigido por Daniel Damen e regido por Paul Smith; compõe-se de 17 vozes femininas e 5 masculinas; atuam como solistas as contraltos Joyce Lockette e Roberta Jones.

No primeiro trimestre de 1995, o MMC gravou “ao vivo” e produziu um CD, com uma canção tradicional e obras originais de Thomas Andrew Dorsey, Andrae Crouch, Milton Biggham, Richard Foy, Kirk Franklin e Daniel Damen; contou com a participação do “New Age Community Choir”, no qual se destacam os tenores Duane Jackson, Kelly Ross e Ricardo Smith.

Herdeiro do estilo de C.L.Franklin, este CD lembra James Cleveland e o “The Southern Califórnia Community Choir”, quando, na década de 70, ouvimos o genuíno entusiasmo de uma congregação, o canto perfeitamente inteligível do coro e a bem ajustada seção rítmica dos instrumentos. Na década de 90, o MMC praticava o tipo de “gospel” que considerava adequado para ser executado durante o culto divino; acompanhado principalmente por piano, órgão e bateria, algumas vezes por instrumentos de cordas e de percussão; a guitarra e o baixo eram utilizados para suporte rítmico. Os solos eram suaves e melodiosos; as partes corais reforçavam os solistas.

Num estilo sofisticado, o “The American Spiritual Ensemble” (ASE), que se apresentou em Brasília em 15 e 16 de dezembro de 2001, é um conjunto vocal profissional, composto basicamente por seis cantores negros (Everett McCorvey, Ângela Brown, Angelique Clay, Alicia Helm, Gregory Broughton e Ricky Little), acompanhados pelo pianista Joseph Prather.

O ASE foi fundado por Everett McCorvey em 1995. Doutor em Artes Musicais, McCorvey já cantou como tenor solista no Kennedy Center (Washington), na Metropolitan Opera House (New York) e no Music Festival (Aspen); é professor no American Institute of Musical Study (Graz, Áustria) e na universidade do Kentucky. Os outros integrantes também são cantores de ópera. O repertório abrange óperas, “spiritual songs”, “gospel songs” e “musical shows”. Cantores com vozes muito bem dotadas, com experiência na arte cênica e uma técnica coral bem desenvolvida, eles praticam o “gospel” do tipo concertante. Cantaram peças radicionais do “Negro Spiritual” e composições de Hall Johnson, Uzee Brown, Roland Hayes, Henry Burleigh, Cedric Dent, Betty Jackson King e Robert Ray.

O tipo “de culto” é diferente do tipo “de concerto”; aquele é mais canto-de-igreja por amadores; este é canto lírico por profissionais.

Em 06 de abril deste ano, apresentou-se em Brasília o “Harlem Gospel Choir” (HGC), que pratica a “gospel music”.

Foi fundado em 1986 por Allen Bailey. Compõe-se de 12 cantores negros profissionais e canta letras religiosas envolvidas pela música de jazz.

Passou pela Inglaterra, Irlanda, França, Espanha, Itália, Bálcãs, Equador, Honduras, Cuba, Coréia e Japão. Gravou CDs no Japão e na Austrália, e no “B.B.King Blues Club”, em New York.

Allen Bailey há 30 anos trabalha na indústria do entretenimento, tendo promovido apresentações de cantores da música popular e dirigido o “Harlem Jazz Festival”. Atualmente, é diretor de relações públicas do famoso “Cotton Club”, casa noturna de jazz em New York.

O HGC transita entre o “black gospel” e o “gospel rock”. Não são para estranhar os locais em que se apresenta, os estilos de execução e os perfis artísticos dos seus integrantes: pertencem ao mundo do espetáculo, ao “show business”.

No Brasil, por não ser autêntico, é uma contrafação impingida pelos músicos evangélicos ao público brasileiro. Os tipos “de culto” e “de concerto” são raros. O tipo “gospel de espetáculo”, lamentavelmente, é o que temos visto e ouvido nas emissoras de televisão e de rádio evangélicas, é o explorado nos “shows” e nas concentrações evangelísticas, por uma questão de modismo irresponsável e imitação barata.

Muitos músicos, especialmente os que integram bandas, ignoram o que seja um “gospel hymn”, uma “gospel song” e uma “gospel music”. Deles diria Goethe: “Não há nada mais terrível que a ignorância ativa”.

(Publicado em “O Jornal Batista”, 03 jun 2002, p. 4)

 

2018-02-21T13:55:35+00:00 By |Formas e estilos musicais|