Nº. 630 – Ralph Manuel na Memorial – 10 dez 2001, p. 4

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Nº. 630 – Ralph Manuel na Memorial – 10 dez 2001, p. 4

 

Música – Nº. 630

Ralph Manuel na Memorial

Rolando de Nassáu

A arte alcança sempre a finalidade que não tem” (Otto Maria Carpeaux)

Precedendo o culto dominical noturno de 02 de setembro, na Igreja Memorial Batista, o compositor, arranjador, professor e pianista Ralph Manuel ofereceu um recital tocando 14 de seus arranjos para hinos e cânticos evangélicos.

Em 1990, Ralph Manuel (ver: “Dicionário de Música Evangélica”, p.114) contribuiu para o “Hinário para o Culto Cristão” com 14 harmonizações, 13 músicas e 8 arranjos, e para o “Novo Cântico” (hinário presbiteriano) com 13 peças musicais.

Até mesmo os católicos da Renovação Carismática adotaram um arranjo de Ralph Manuel (ver: “Louvemos o Senhor”, nº.631).

Temos restrições ao uso de arranjos e preferimos as composições originais.

Composição significa música, criada para um solista ou conjunto, e registrada, da primeira à última nota, na partitura. A música de concerto, até a invenção da música aleatória, na década 50 do século passado, esteve submetida à rigidez do texto composicional.

O prazer do arranjador é improvisar, e escapar da partitura … O arranjo, em parte, é uma limitação da liberdade de improvisação. Por outro lado, o arranjo incentiva o instrumentista a improvisar na execução musical. Para o leigo, não é fácil saber se o executante está improvisando ou obedecendo ao arranjo.

Fazer arranjos de hinos, para piano solo, é tomar a liberdade de improvisar sobre esses hinos, é modificar melodias e ritmos dos hinos, é alterar a estrutura harmônica dos hinos. O arranjo não tem a finalidade de servir ao culto, mas a de servir-se dele. Tocar hinos é atividade apropriada ao culto (música litúrgica); tocar arranjos é exibição virtuosística adequada a um recital (música artística). Um CD com arranjos de hinos é para ser ouvido, como música de entretenimento, na residência, no trabalho, no automóvel, nunca no templo. Infelizmente, algumas pianistas tocam arranjos de hinos durante os cultos nas igrejas.

Como arranjador, Ralph Manuel é mais convincente do que Roger House e John Boud, e muito mais circunspecto e conspícuo do que Mark Hayes.

Como pianista, neste recital demonstrou ser incomparável entre os poucos virtuoses norte-americanos que tocaram no “Essenfelder” da Memorial (Suzanne Agan, Max Lyall, Mark Hayes); não é necessário pormenorizar as suas perfeições de técnica pianística; suas execuções, baseadas na limpidez do fraseado e naturalidade da expressão, se revestem duma sinceridade muito evidente.

Além disso, Ralph Manuel possui uma qualidade especial: a inteligência na organização do programa de seu recital, que resulta na seriação lógica das peças dentro das temáticas escolhidas; e o intenso labor didático como professor de Composição no Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil não compromete a livre manifestação artística do recitalista.

Apresentado à Memorial por Jílton Moraes, seu parceiro em muitos hinos, Ralph Manuel tocou as seguintes peças: l)”Adoração”, melodia atribuída a Louis Bourgeois, constante de “Psaumes octante trois de David” (Saltério de Genebra, 1551), CC-8; 2) “Santo, santo, santo”, melodia “Nicaea”, de John Bacchus Dykes, (“Hymns Ancient and Modern”, 1861), CC-9; 3) “Ao Deus de Abraão”, melodia hebraica, transcrita por Meyer Lyon, CC-14; 4) “O poder do sangue”, melodia “Power in the blood”, de Lewis Edgar Jones (“The World Evangel”, 1913), CC-89; 5) “Louvai”, melodia “Joyful song”, de Chester G.Allen (“The World Evangel”, 1913, nº.65, e “The Popular Hymnal”, 1918, no.258), CC-126; 6) “Voz de ternura”, melodia “Great physician”, de John Hart Stockton (1869), CC-225; 7) “Castelo forte”, melodia “Ein feste Burg”, de Martin Luther (“Geistliche Lieder”, 1529, Joseph Klug), CC-323; Lutero, quando escreveu e compôs este hino, num ambiente crítico, estava deprimido e doente; tímida, angustiada e sombria, esta parece ser a interpretação fiel do hino, e não intrépida, irrestrita e reluzente, como ocorre na grande maioria das execuções congregacionais e corais; esta tem sido nossa opinião desde 1962; a versão rítmica original está consignada no “Handbook to The Baptist Hymnal”, 1992, p.81; 8) “Fonte és Tu de toda bênção”, melodia folclórica introduzida no “Repository of Sacred Music” (1813), de John Wyeth, HCC-17; 9) “Guia, ó Deus, a minha vida”, melodia galesa aproveitada em 1907 por John Hughes, HCC-42; 10) “Vós, criaturas de Deus Pai”, melodia “Lasst uns erfreuen”, extraída do hinário católico de Ausserlesene (1623), HCC-224); 11) “Adorem o Rei”, melodia “Lyons”, atribuída a Johann Michael Haydn, HCC-233; 12) “Santo és Tu, Senhor”, melodia “Heilig”, de Franz Schubert (1827), HCC-239; 13) “Ele é exaltado”, cântico de Twila Paris; 14) cântico não identificado.

Por nós, Ralph Manuel é mais apreciado pelo “Aleluia” (comparável ao de Randall Thompson) e pelos hinos “Oh, quanto, quanto nos amou!” (HCC-125), “Ó Senhor, vem me dirigir!” (HCC-212) e “Aceita, agora, Senhor, meu Deus” (HCC-241). Mas nada impede considerá-lo como o mais hábil arranjador batista da atualidade.

(Publicado em “O Jornal Batista”, 10 dez 2001, p. 4).

04 set 2001

 

2018-02-21T14:46:16+00:00 By |Recitais e concertos|