Nº. 685 – Coral Eclésia em Taguatinga – 07 nov 2004, p. 4

//Nº. 685 – Coral Eclésia em Taguatinga – 07 nov 2004, p. 4

Nº. 685 – Coral Eclésia em Taguatinga – 07 nov 2004, p. 4

 

Doc.JB-685

Coral “Eclésia” em Taguatinga

Rolando de Nassáu

Especialmente convidado para as comemorações do 42o. aniversário da Igreja Batista Central de Taguatinga, situada numa cidade-satélite distante 20 quilometros de Brasília, o Coral “Eclésia”, da Primeira Igreja Batista do Rio de Janeiro, apresentou-se nos dias 09 e 10 de outubro, com um excelente programa sacro.

A igreja, fundada por João Francisco Santiago e Edístio Carlos Fernandes, elegeu em junho de 1963 seu pastor titular efetivo Jessé Moreira, que tinha sido membro da PIB-RJ e pastor da Igreja Batista da Gambôa, também no Rio de Janeiro.

Depois de 18 horas de penosa viagem de ônibus, o coro chegou a Brasília, pouco antes da hora marcada para a primeira apresentação, em condições desfavoráveis para uma performance comparável à dos “Centurymen”, que cantaram na Memorial em 1977 e 1998, e à dos “Singing Men of Texas”, em 1982, mas o seu programa exibiu nítida superioridade estilística.

De Alessandro Stradella (1644-1682), Daniel Presgrave cantou, em italiano, “Pietá, Signore”, uma página do repertório de Enrico Caruso e Luciano Pavarotti, o que dá idéia da exigência que ela faz à voz do tenor; mas o que importou na sua execução foi não constar a letra no folheto do programa, não permitindo que o auditório acompanhasse e entendesse o que estava sendo cantado; um concerto de música sacra, realizado num ambiente de igreja, deve ter o propósito primordial e principal de transmitir a mensagem contida na letra cantada; isto vale se ele canta no vernáculo ou em idioma estrangeiro, acompanhado ou não por uma orquestra; numa salade-concerto, talvez baste ter o de exibir os dotes vocais do solista. Stradella, compositor profano, não merecia figurar entre compositores de música religiosa.

De Johann Sebastian Bach (1685-1750), o Coral “Eclésia” interpretou “Tudo que vive, exalte ao Senhor!”, parte final do moteto “Cantai ao Senhor um novo cântico” (“Singet dem Herrn ein neues Lied” – BWV-225); o trechou começa com recurso antifonal e termina, com fuga a quatro vozes, na palavra “Aleluia”.

De Georg Friedrich Haendel (1685-1759), ouvimos o trecho nº.37, “A Deus cantai louvores!” (“Sing unto God”), do oratório “Judas Macabeus” (HWV-63); introduzido pelos contraltos e pelos tenores, o coro desenvolve alegres vocalises. Ainda de Haendel, um dos hinos, compostos em 1727, para a coroação do rei George II.

De Joseph Haydn (1732-1809), três trechos do oratório “A Criação” (“Die Schopfung”): “Soai as cordas!” (nº.11 – “Stimmt an die saiten!”); “Terra e Céu, dai-Lhe glória” (nº.28 – “Dich beten Erd und Himmel an”) e “Cantemos todos ao Senhor!” (nº.31 – “Singt dem Herren alle stimmen!”); o nº.11 é adaptação do estilo de Haendel: introdução em uníssono, que se transforma numa fuga, a partir de “pois revestiu o céu e a terra” (“denn er hat Himmel und Erde bekleidet”).

Rivalizando com Renay Peters, solista eventual dos “Centurymen”, de maneira bela e apropriada no uso da dicção e da expressividade a soprano Layd Mendonça executou o “Aleluia” do moteto “Exsultate, jubilate” (KV-165), de Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791); foram três minutos de alegre virtuosidade.

De Felix Mendelssohn Bartholdy (1809-1847), o coro interpretou “Oh, não temas!” (“Furchte dich nicht!”), nº. 22 do oratório “Elias” (opus 70); precedido por bela ária para soprano (Lídia Santana), o trecho reflete sobre a capacidade divina para transmitir fortaleza à alma humana.

De Johannes Brahms (1833-1897), o trecho “Quão lindos são Teus átrios, Senhor!” (“Wie lieblich sind Deine wohnugen!”), do “Requiem Alemão” (“Eindeutsche Requiem”); o assunto vigoroso teve um acompanhamento alegre pela competente pianista Regina Lacerda, que vale por toda uma orquestra.

A experimentada regente Anna Campello Egger foi buscar na “negro spiritual song” uma famosa peça coral, inicialmente arranjada por J.Rosamund Johnson, agora em arranjo de Robert De Cormier, “Hallelujah”, com os versos “Lord! I been down into the sea”, para demonstrar que o “Eclésia” também é capaz de interpretar, com “swing” e “deep emotion”, o sentimento folclórico.

De Júlio de Oliveira (1908-1967), um dos seus salmos para solo vocal, o “Salmo 23”, foi eficientemente executado pelo tenor solista Jefferson Dias, que teve uma postura sóbria, uma dicção límpida e uma interpretação adequada.

Certamente, graças a Anna Campello Egger e Regina Lacerda, aos solistas e coristas do “Eclésia”, a Igreja Batista Central de Taguatinga, bem orientada pelo seu ministro de música, José Orlando Teixeira Pinto, ouviu “algo” da melhor música sacra de todos os tempos !.

 

(Publicado em “O Jornal Batista”, 07 nov 2004, p. 4).

 

2018-02-21T14:47:10+00:00 By |Recitais e concertos|