Doc.JB-694
Rolando de Nassáu
Num sábado à noite, em 28 de maio, realizou-se, em Brasília, o 3º. Encontro de Quartetos Masculinos, promovido pelo Conjunto Vocal “Shalom” e organizado por Davi de Souza Lima. O 2º. Encontro aconteceu em 29 de maio de 2004 (ver: OJB, 01 ago 2004, p.4). O Primeiro (27 de setembro de 2003) trouxe os quartetos “Louvor e Adoração”, “Gênesis”, “Luzes do Alvorecer”, “Mensageiros da Paz” e “Palavras de Vida”. Em 2005 vieram a Brasília os quartetos “Atalaias do Rei” (Rio de Janeiro, RJ), “Mensageiros da Paz” (Goiânia, GO), “Ellus” (Anápolis, GO) e “Gileade” (Rio Verde, GO); os goianos exibiram um sotaque estilístico, mesmo cantando em consonância com a fala característica de Goiás: é o estilo ou a síndrome da “west frontier”.
Iniciando e concluindo o concerto, um grande coro masculino, formado por 120 coristas, pertencentes a sete igrejas evangélicas de Brasília, Taguatinga e Sobradinho (DF), cantou “Divino preceptor” (Strattner) e “Comunhão divina” (Monk), sob a regência de Albano Sílvio de Freitas. O primeiro número, solene, é uma das 66 composições musicais elaboradas por Strattner para os poemas de Neander, publicadas em 1691. O segundo, composto 200 anos mais tarde, também caracteriza-se pela solenidade de sua letra e de sua melodia, reconhecida pela comissão do hinário “Hymns Ancient and Modern”. Ambos, são hinos de cunho enérgico, próprio para vozes masculinas, das quais é exigida a afinação vocal e a segurança ritmica, independentemente da “high energy” do conjunto. Após o interlúdio, o grande coro interpretou “Oração a Jesus”, de Clancy, de estilo diferente dos hinos de Strattner e Monk.
O carioca “Atalaias do Rei”, acompanhado pelo piano, executou “Graça de Deus”(HCC-291), “Jesus, Senhor” e “Paz”; a cappella, “Estou preparado”. Irregularmente afinado, o quarteto saiu-se melhor, cantando num “spiritual style”, na peça “Estou preparado”. Mas precisa ter um preparador vocal …
O goianiense “Mensageiros da Paz”, sempre usando “play-back”, cantou: “Na presença do Senhor”, “Testemunha de amor”, “Brilhe em mim” e “Cristo é o Salvador”. O acompanhamento instrumental, pré-gravado, alterou o estilo musical do hino (HCC-165) e do cântico “Testemunha de amor”, tornando-os muito vulgares; foi o canto saltitante de música quase galopante, apropriada a um “saloon”.
O anapolino “Ellus”, a cappella, cantou “Guerreiros”, “Happy Day” (em versão bilíngue), “Amor do Pai” e “A graça eterna”. Sucesso de Edwin Hawkins na década de 70, “Oh, happy day!”, agora infelizmente restaurado nos “shows” de Rick Muchow realizados na “comunidade” de Rick Warren, contrastou com “A graça eterna”, célebre hino de John Newton, que é comovida confissão.
O “Gileade”, que tinha participado do Encontro de 2004, veio de Rio Verde (GO) para repetir “Sou feliz” e “Jonas”; ainda com “play-back”, apresentou “O Salvador” e “Vencendo vem Jesus”. Conta com boas vozes, mas canta como se fosse para exibir solistas, o que desqualifica um quarteto; dá relêvo ao aspecto performático do conjunto e à voz incomum do seu líder.
O hospedeiro, “Shalom” (10 coristas), executou, a cappella, “Mestre, o mar se revolta”, de Palmer (HCC-408), e “Feridas”, de Jáder Santos, o melhor número do concerto; acompanhado pelo versátil piano de Cláudia Noemi Salgado de Moraes, cantou “Pai nosso”, de Malotte.
Fazendo um retrospecto, verificamos que os Encontros têm experimentado um lento progresso. Se o organizador do evento não estabelecer normas para a participação, os quartetos continuarão nos próximos encontros a revelar desvios técnicos e artísticos nos seus repertórios e desempenhos.
Quanto ao repertório escolhido, as peças pertenciam à hinodia, à “spiritual song” e à “gospel song” e ao gênero profano; este, nunca deveria ser executado; “Jonas”, peça predileta do “Gileade”, pode ser eficiente para agradar ao público menos exigente e estimulá-lo à compra do CD do quarteto, mas não atende ao requisito da música de qualidade.
Quanto à execução, deveria ser sempre a cappella, abolindo o “play-back” (a menos que seja usado um “feedback exterminator”) e evitando o acompanhamento instrumental. Para serem autênticos, deveriam executar peças para quatro vozes masculinas (dois tenores, barítono e baixo), extraídas do repertório religioso; exemplos: “Lugar de paz” (Carmichael) e “Calma, mansa, serena” (Jáder Santos).
Cantando a cappella, esses quartetos poderiam explorar, com moderação, a percussão vocal, sem os excessos do “West A Cappella Summit”.
A formação do regente coral, que deveria ser praticada no curso de música em qualquer seminário ou faculdade teológica, teria como objetivo incrementar a criação de coros e conjuntos vocais em nossas igrejas. Mas, parece, estão preocupados na proliferação das “equipes de louvor”.
Os Encontros em Brasília têm servido para pesquisar e divulgar a música destinada aos quartetos masculinos das igrejas evangélicas, por isso fazemos votos para que continuem e se aperfeiçoem.
(Publicado em “O Jornal Batista”, 07 ago 2005, p. 4).