Nº. 733 – 6º Encontro de Quartetos Masculinos – 02 nov 2008, p. 4

//Nº. 733 – 6º Encontro de Quartetos Masculinos – 02 nov 2008, p. 4

Nº. 733 – 6º Encontro de Quartetos Masculinos – 02 nov 2008, p. 4

 

Doc.JB-733

6º. Encontro de Quartetos Masculinos

Rolando de Nassáu

(Dedicado à leitora Meremara Belo Lemos, de Teixeira de Freitas, BA)

Aconteceu em Brasília, em 31 de maio, a sexta edição deste empreendimento artístico, anualmente promovido pelo conjunto vocal “Shalom”, que visa estimular o canto vocal masculino nas igrejas evangélicas (ver: OJB, 04 nov 07).

De 2003 a 2007, o evento foi realizado no templo da Igreja Memorial Batista; em 2008, no templo da Igreja Batista Central.

Participaram cinco quartetos, um conjunto vocal e um coro; cada participante executou três peças musicais.

O programador insistiu na informação errônea de que, na abertura, seria apresentado um “prelúdio cantado”, e, na conclusão, um “poslúdio cantado”.

Também nesta edição do Encontro ao programa foi dado indevida mente o título de “Ordem do Culto”. Nesta época de banalização da palavra “culto”, ao desfile de quartetos, cujo objetivo era a exibição dos dotes artísticos dos participantes, foi dado o tratamento de culto. Uma prova de que o evento não era um culto tem-se pelo fato de a platéia aplaudir cada número executado, e alguns participantes, por bairrismo, formarem torcidas a favor de determinados quartetos. Os assistentes deveriam ser instruídos a só aplaudir no final do concerto; é assim que se comportam nas salas-de-concerto. Esses fatos lamentáveis macularam o ambiente espiritual, que deve caracterizar um concerto de música cristã.

O evento foi gravado em disco DVD.

A seguir, nossos comentários a respeito dos 21 itens da agenda.

1) Coro Masculino – “Rosa de Saron” foi composto por Charles H. Gabriel (1856-1932), que, desde a juventude, contribuiu, durante 60 anos, para odesenvolvimento do “gospel hymn” (hino evangelístico), a ser cantado por coros masculinos. Sua boa execução pelo coro formado em Brasília com os participantes do Encontro, inaugurando o programa, deu oportunidade para o público discordar do organizador, que dissera: “não veremos show, nem competição”. Daí por diante, suscitados pelos aplausos, sucederam-se os casos de mera exibição; em alguns, os participantes pareciam estar numa competição. No meio do programa, ouvimos “Eu sou um pobre peregrino”, que recebeu execução sóbria, cantado com exemplar reverência. Finalmente, ainda acompanhado por instrumentos de teclado executou “Senhor de minha vida”, de Lanny Allen, produtor de programas religiosos na televisão americana; um fraseado bem cuidado e uma sonoridade cativante conferiram a esta peça a marca da melhor interpretação do Grande Coro.

2) Quarteto “Athus” (Belo Horizonte, MG) – Cantou bem “Seu nome exaltai”. Tão boas vozes deslustradas, em sua expressão coletiva, pela preocupação da “performance”, da ostentação de uma comicidade indevida! Sempre acompanhado pelas palmas ritmadas do público (não se tratava de uma congregação), o “Athus” executou um “galope” de Stuart Hamblen (1908-1989), intitulado “Quero um novo lar”, no estilo da “country music”. Hamblen foi um “cantor-cow-boy” no rádio norte-americano. O tenor Ângelo Meireles, com pretensões a ser um humorista na música evangélica brasileira, cometeu excessos em sua atuação hilariante. “Chuva”, com sua atmosfera oriental lembrando “Sheherazade”, suíte de Rimsky-Korsakov, e usando mímica, conta a experiência do profeta Elias. O quarteto não compreendeu o objetivo do Encontro: estimular a criação de quartetos masculinos que executem novas composições apropriadas aos cultos das igrejas evangélicas no Brasil. Imaginou que em Brasília deveria fazer o público rir …

3) Quarteto “Art Vocal Company” (Campinas, SP) – Sem dispensar os gestos, executou “Quando Cristo aqui reinar”, com desempenho regular. Numa postura de quem quer privilegiar a “performance”, ao som do ritmo “boogie-woogie”, cantou “Ritmo feliz”; evidentemente, esse estilo jazzístico não é apropriado ao culto divino. Saiu-se melhor em “Vou ao Céu”, que pareceu-nos ser arranjo do “negro spiritual song” (cântico espiritual negro)”I’m gwine up to heab’n anyhow”.

4) Quarteto “Servus” (Recife, PE) – Usando gesticulação exagerada em algumas passagens, deu uma boa interpretação à bela canção “He touched me” (Tocou-me), de W. J. Gaither, por colocar adequadamente a expressão vocal. Mais uma vez foi usado o “boogie-woogie”, em “Você vai rir”, de Kenneth Morris. Os integrantes do quartetohomenagearam o baixo, como se o solo fosse mais importante que o desempenho coral. Depois, o quarteto apresentou, de Ismael Barbosa, um arranjo de cânticos infantis (“Deus é amor”, “Seu nome é Jesus”, “Lá no Céu” e “O trem vai partir”, este com recurso onomatopéico); apenas originalidade, que despertou sorrisos na platéia, mas falta-lhe lugar no culto divino.

5) Quarteto “Master” (Londrina, PR) – Sob a forte influência da música americana para quartetos composta na década de 20, executou a balada “Yes, I know!” (Sim, eu sei), de Anna W. Waterman. O valor deste quarteto esteve na expressão vocal, sem apelos extra-musicais. Este conceito foi prejudicado pelo acompanhamento do órgão, tocado no estilo jazzístico de Thomas “Fats” Waller, em “Rocha eterna”, de L. R. Tolbert. O melhor desempenho aconteceu em “Não é em vão”, de D. Liles, quando boas vozes, boa dicção e postura reverente, sob a orientação do pr. Zaqueu, garantiram para o “Master” o primeiro lugar.

6) Quarteto “Comunicação” (Maringá, PR) – Apresentou-se com uma gesticulação muito evidente. Com suas vozes bem cultivadas, cantou “A Cruz responde por mim”, de Joel Lindsey, letrista e guitarrista londrino de canções em ritmo de “rock”. Como se fosse um recital, destacou o baixo em “Rei da paz”, de Jesse Randall Baxter Junior (1887-1960), pioneiro, na década de 30, da “gospel music”, um tipo de “gospel” comercializado. Em “Veremos Cristo”, surgiu um um quinto cantor.

7) Conjunto “Shalom” (Brasília, DF) – Aderiu ao acompanhamento instrumental mediante “play-back” e realizou um desempenho regular em “Vem logo”, “Lhe perdôo” e “Eu creio em Ti”. Evidentemente, é mais difícil a coesão vocal num quarteto triplicado em sua composição. A pesquisa quantitativa da coesão revela as diferenças entre os cantores quando participam de um quarteto. Cantar num quarteto exige a habilidade de cada integrante ouvir a sua emissão vocal e a dos outros três membros do grupo, a fim de ser conseguida a perfeita “mistura” das vozes (ver: “O Jornal Batista”, 02 jul 06, p. 4).

Fazendo o balanço das seis edições do Encontro, constatamos que foram cometidos os seguintes erros: 1) dar ao programa o título de “Ordem do Culto”; 2) aplausos pelo público depois de cada execução musical; 3) alto volume de som produzido pelo sistema de amplificação; 4) uso de instrumentos musicais; 5) utilização de “play-back”; 6) recurso às peças do “gospel rock” e do “country gospel”; 7) aproveitamento de arranjos; 8) dar destaque a solistas, o que descaracteriza o canto de um quarteto; 9) propósito performático de alguns coristas.

 

(Publicado em “O Jornal Batista”, 02 nov 08, p. 4)

 

2018-02-21T14:48:57+00:00 By |Recitais e concertos|