Doc.JB-669
Rolando de Nassáu
Nos últimos 51 anos, temos combatido contra a execução de música profana (erudita, folclórica e popular) nos cultos de nossas igrejas (ver: OJB, 12 mar 67; 21 dez 75; 28 set 80; 10 dez 89; 02 dez 90).
Alguns dirigentes musicais, por ignorância ou preguiça intelectual, têm impingido como sacras essas músicas inconvenientes.
Nossas congregações, nossos coros e nossos instrumentistas têm executado, no transcurso daqueles anos, música profana de Beethoven, Tchaikowsky, Schubert, Liszt, Gounod, Grieg, Wagner, Arcadelt, Dietsch, Sibelius, Warren, Bizet, Meyerbeer, Mendelssohn, Haendel, Offenbach, Foster e Weatherly.
Até Elvis Presley entrou no HCC !
Relacionamos abaixo as músicas inconvenientes, segundo a sua origem.
Música erudita
1) “Ah! Senhor, deixei-Te, ingrato”, arranjo coral de Ruy Wanderley para trecho da 7a.Sinfonia, de Beethoven, incluído na coletânea “Hosiana!”.
2) “Aleluia! Aleluia! Gratos hinos entoai”, letra de Salomão Luiz Ginsburg para os versos de Schiller, usados por Beethoven em sua 9a.Sinfonia; este trecho sinfônico foi incluído no “Hinário para o Culto Cristão” (no.60) e tem servido até para exploração ideológica (ver: OJB, 07 fev 2000).
3) “Apenas um coração solitário”, melodia profana de Tchaikowsky.
4) “Ave Maria” – Schubert, Liszt e Gounod musicaram essa oração litúrgica católica, que não cabe na ordem-de-culto de uma igreja batista. Schubert aproveitou uma canção profana de Walter Scott. Liszt transcreveu uma “Ave Maria” de Arcadelt. A que tem conseguido mais larga popularidade é a “Ave Maria” que Gounod baseou no 1o. prelúdio de Bach. Não convém executar a de Schubert por estar ligada ao poema de Scott. A de Liszt é a que mais se aproxima da liturgia católica. A de Gounod é uma exaltação da pessoa da Virgem Maria, sendo mais que a repetição da saudação do anjo Gabriel (Lucas 1:26-38).
5) “Cântico noturno”, canção romântica de Grieg; costuma ser cantada no culto da noite …
6) “Coro dos peregrinos”, existe letra religiosa para este trecho da ópera “Tannhauser”, de Wagner; o personagem ajoelha-se e reza diante da imagem da Virgem Maria …
7) “Das profundezas a Ti clamo”, é a “Ave Maria” falsamente atribuída a Arcadelt; na verdade, arranjo da canção galante “Nous voyons que les hommes font tous vertu d’aimer”, de Pierre Dietsch.
8) “Descansa, ó alma”, hino congregacional escrito por Isaac Nicolau Salum, baseado em trecho do poema sinfônico “Finlândia”, de Sibelius, e aproveitado em “Salmos e Hinos”(no.373); existe arranjo para coro, intitulado “As Tuas mãos dirigem meu destino”.
9) “De ti, ó meu Brasil”, música de Ivo Augusto Seitz, para o hino nacional norte-americano escrito por Samuel Francis Smith (HCC-600), com letra de William Edwin Entzminger (CC-574); a Comissão do HCC tinha resolvido, logo no início do seu trabalho, não usar hinos pátrios; embora substituída a música, ficou o sentimento patriótico alienígena.
10) “Deus dos Antigos”, hino nacional escrito por Daniel Crane Roberts para a comemoração, em 04 de julho de 1876, do centenário da independência norte-americana; foi escolhido, em 1892, para comemorar o centenário da Constituicão dos EUA; traduzido por João Wilson Faustini, foi incluído no “Hinário para o Culto Cristão” (no.34).
11) “Deus glorioso”, letra de Joan Sutton para o “Hino do Papa”, de Gounod, incluído na coleção “Coral Sinfônico” (no.24), compilado no Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil, em Recife (PE); o “Hino Pontifício” tem servido para acompanhar os desfiles triunfais do papa João Paulo II.
12) “Dize aos filhos de Israel que marchem”, é a música incidental da peça teatral “L’Arlesienne”, de Daudet, composta como suíte orquestral por Bizet; é a conhecida “Farandola”, número de “vaudeville”, com letra de Marília Soren.
13) “Glória ao Senhor”, letra original de Antônio José dos Santos Neves para o hino nacional inglês, aproveitado no “Cantor Cristão” (no.6).
14) “Grande é Jeová”, trecho da ópera mitológica “Tannhauser”, de Wagner, muito usado por alguns coros de igrejas evangélicas, em parte por ter sido incluído na coletânea “Antemas celestes” (no.6), de Alyna Muirhead.
15) “Marcha Nupcial” – Meyerbeer, Mendelssohn e Wagner compuseram música imprópria à celebração de casamento religioso numa igreja batista, por ter sido inspirada em lendas e mitos pagãos.
16) “Santo és, Senhor”, é uma ária lírica (“Ombra mai fu”) da ópera cômica “Xerxes”, de Haendel.
17) “Tuas obras Te coroam”, com letra de Isaac Nicolau Salum, trecho de movimento coral de Beethoven, aproveitado no hino no.70 de “Salmos e Hinos”.
18) “Viagem para nosso lar” – “Barcarola”, trecho de ópera ligeira, “Os contos de Hoffmann”, de Offenbach, introduzido por Alyne Muirhead na coletânea “Antemas celestes” (nº.50).
Música folclórica
1) “Da linda pátria estou mui longe”, letras de Justus Henry Nelson para a melodia rural “Old Folks at home”, recolhida por Stephen Collins Foster e aproveitada no “Cantor Cristão” (no.484) e em “Salmos e Hinos” (no.592).
2) “Londonderry Air”, melodia irlandesa, cantada atualmente com a letra “Danny Boy”, de Frederic Weatherly, há mais de 13 anos foi denunciada como música falsificada, mas ainda há orquestras de igrejas batistas que a executam!
Música popular
“Pai, faz-nos um” – letra e música de Rick Ridings (HCC-564), inspirada na canção romântica “Can’t help falling in love”, lançada por Elvis Presley; em 1961, ele cantava essa canção profana no filme “Blue Hawaii”, produzido pela “Paramount”, com os “Jordanaires”; em 1970, esta canção “fechava” o “show” de Elvis em Las Vegas; Rick Ridings quando elaborou o “hino”, em 1976, estava com 25 anos de idade; certamente conhecia, desde a meninice, a canção de Elvis; poderia ter pesquisado a sua origem profana; em 1990, a SubComissão deveria ter condições de verificar a procedência da linha melódica dessa música profana (um dos maiores sucessos de Elvis Presley), e impedir seu ingresso barato no HCC.
Tudo profano, nada sacro !
(Publicado em “O Jornal Batista”, 06 jul 2003, p. 4).