MÚSICA – No. 798
Dança no culto
(Dedicado à leitora Eneida Soares Ribeiro, do Rio de Janeiro, RJ)
“For you and I are past our dancing days” (Shakepeare)
“Um erro não se torna verdade por muitos o aceitarem, e nem uma verdade se torna erro por poucos a seguirem” (Gandhi)
Algumas passagens da Bíblia referem-se à dança; são comentadas a seguir:
Êxodo 15: 20 – Se Miriã, irmã de Arão, seguida de mulheres, dançou (dependendo da tradução), deu o exemplo, pois, alguns dias depois, o povo dançou diante do bezerro de ouro feito por Arão. Indignado, Moisés, vendo o bezerro de ouro e as danças, arremessou as tábuas da Lei, queimou o ídolo e ordenou aos levitas a matança dos idólatras (Êxodo 32: 1-35);
Juízes 11: 34 – Tendo Jefté vencido os amonitas, sua filha saiu-lhe ao encontro com danças. Se ela dançou (dependendo da tradução), não foi no culto;
1º. Samuel 18: 6 e 7 – As mulheres cantaram e dançaram (dependendo da tradução) diante do rei Saul, por ocasião do retorno triunfal de Davi, mas não foi durante um culto;
2º. Samuel 6: 14 e 15 – O rei Davi levou a Arca para uma tenda em Jerusalém, e dançou acrobaticamente, dando enormes saltos; mas não foi no culto; entrando a Arca em Jerusalém, Mical, filha de Saul, vendo as cambalhotas do rei Davi, o desprezou, por ter se portado como um simples acrobata (2º. Samuel 6: 16 e 1º. Crônicas 15: 29);
Salmos 149: 3 e 150: 4 – O salmista ordena que o povo louve o nome de Deus “com danças”, mas não no templo e durante o culto; a tradução, mais adequada ao contexto musical (louvor com canto e música instrumental) seria “com flauta” (ver: Tradução de Almeida – Revista e Corrigida);
- Lucas 15: 25 – Numa parábola, Jesus, contando a estória do filho pródigo, notou que o filho mais velho, ao voltar para casa, ouviu a música de dança; mas não no templo e durante o culto.
Diferentemente da arte musical, cultivada desde os primórdios (Gênesis 4: 21), as artes plásticas (desenho, pintura, escultura) são taxativamente condenadas no Decálogo (Êxodo 20: 4), quanto ao seu uso religioso. A igreja primitiva colocou os cristãos em guarda contra os prazeres mundanos, mas houve quem animasse suas festas com danças, ale-gando que era “para honrar a Deus”.
Durante a Idade Média, houve a dança ritual no templo. No século 17 começou a desenvolver-se a coreografia. Jean Boiseul, em 1606, confessou-se assustado ante o fato de que se pretendia “introduzir a dança nas igrejas”.
A dança volta a rondar as portas dos templos evangélicos. Alguns crentes, não suportando a sã doutrina, ainda procuram a dança (2ª. Timóteo 4: 3 e 4).
Como se não bastasse a profanidade da música instrumental, a sensualidade da dança conspurca a reverência do culto.
Comentando as novidades introduzidas no culto católico, a poetisa Adélia Prado, entrevistada na TV (“Roda Viva”), afirmou: “Começamos a copiar os Evangélicos, no que eles têm de pior”.
A coreografia distrai a atenção; vendo as evoluções dos que dançam, diminui o interesse da congregação em ouvir a mensagem pastoral. Se o culto se transforma num “show”, torna-se secundária a pregação. Vivemos na era do espetáculo e do entretenimento.
Por que o canto coral e a pregação estão perdendo sua antiga importância? Até a década de 90, as denominações evangélicas no Brasil conseguiram manter-se afastadas das artes mundanas.
Recentemente, lemos reportagem sobre projeto coreográfico que vem sendo desenvolvido desde 2008, com a participação de milhares de pessoas, representando dezenas de igrejas evangélicas.
O propósito declarado dos promotores dos eventos é apresentar diferentes modalidades de técnicas coreográficas:
balé (forma de dança teatral com uma técnica codificada desde o século 17);
dança moderna (dança de concerto);
dança contemporânea (praticada depois de 1950);
“street dance” (“jazz” dos EUA, no princípio do século 20);
“hip hop” de New York (em meados desse século);
“krumping” de Los Angeles (na década de 80).
Nada impede que os dançarinos evangélicos sejam influenciados pela “free dance” de Ruth St. Denis (1879-1968), que propôs um estilo de dança religiosa, a ser adotado por cristãos e não-cristãos.
O que seriamente nos preocupa é que esses aficionados da dança pretendem apresentá-la, nos templos, durante cultos de adoração. A princípio, em salas de espetáculo; depois, nos templos evangélicos! (Ezequiel 8: 6)
Querem que a arte da Adoração fique a serviço da arte da Dança!
(Publicado em “O Jornal Batista”, de 04 de maio de 2014, p.3)