Música – No. 797
BROOKLYN TABERNACLE: O QUE OUVIMOS
(Dedicado à leitora Alda Villas Boas Teixeira de Carvalho, de Brasília, DF)
Rolando de Nassau
Elaborando o artigo “Tipologia do Gospel” (OJB, 03 jun 2002),para exemplificar o “gospel” que então era considerado adequado para ser executado durante o culto, escolhemos o coro de uma pequena igreja batista negra, localizada no bairro do Harlem, em New York, que conhecíamos por meio da tecnologia do disco CD, gravado em 1995.
O Harlem é um centro residencial, cultural e comercial no qual é predominante a população afro-descendente.
Não sabíamos que, no bairro do Brooklyn, na mesma cidade norte-americana, desde 1973, uma também pequena igreja praticava um tipo de “gospel” diferente. Agora é uma igreja multi-racial que não pertence a qualquer denominação evangélica.
O Brooklyn, fundado por imigrantes holandeses, é o mais populoso bairro de New York, com mais de 2 milhões de habitantes,dos quais 35% são descendentes de africanos.
O coro do “Brooklyn Tabernacle” começou com oito coris-tas; agora, são quase 300, sob a liderança de Carol Cymbala (1948), que não tem formação musical. Entre 1973 e 2000, o coro recebeu três vezes (1994, 1996 e 2000) o prêmio “Grammy”, por ser o melhor coro“gospel”, tendo gravado 18 álbuns (dos quais foram vendidas mais de um milhão de cópias) e cantado no “Carnegie Hall” e na “Radio City”.
Em 2002, o casal Cymbala e o coro foram indicados para o prêmio “Dove” pelo espetáculo musicado “Light of the World”. Em 2014, acumulam cinco “Doves” e seis “Grammys”. Em outubro de2013 foi lançado “Redeemed” (digital iTunes).
Nos primórdios, qualquer pessoa podia juntar-se ao coro,mas agora deve ser entrevistada por um músico, para ser avaliado o seu talento, e pelos Cymbalas, para auscultar a profundidade de sua fé.
O BT Choir e os BT Singers revezam-se na participação dos cultos dominicais. Os BT Singers têm viajado dentro e fora do país.
Jim Cymbala (1949- ), quando assumiu o pastorado da igreja no rol registrou 30 pessoas; 42 anos depois, são 16 mil membros.
Jim é autor de 14 livros publicados. Ele admite que é muito fácil a congregação comportar-se como se estivesse num espetáculo, e não participando de um culto. Leonardo Boff escreveu que os africanos “sentem Deus na pele; nós, ocidentais, na cabeça. Por isso, dançam e mexem todo o corpo”. No Brooklyn, o canto é pretexto para movimento corporal.
Graças à tecnologia “Webcast” (transmissão ao vivo pela Internet, com a possibilidade de repetir a audição), em 22 de dezembro de 2013 pudemos ver e ouvir o culto do Brooklyn Tabernacle.
O tabernáculo disponibiliza um centro para atender os visitantes, nacionais e estrangeiros, que passam por New York.
Utilizando um antigo cinema, o tabernáculo é um ambiete para espetáculo, não para culto. Ao lado direito da plataforma, num camarote envidraçado, ficam a mesa de som e a bateria. Acima, o telão que reproduz as letras das canções, geralmente curtas e repetidas, cantadas, à maneira de “mantras”, com o auxílio do “play-back”.
Não observa uma Ordem de Culto; não há comunicações,nem dedicação de dízimos e ofertas, nem leituras bíblicas.
Durante os primeiros 60 minutos, a congregação, multi-racial (diferente do Harlem, que é predominantemente negra), canta de pé, batendo palmas ritmadas, sem apoio no Novo Testamento.
O culto foi aberto por uma equipe mista de 14 cantores e um líder; em sequência, cantaram três “gospel songs”, três hinos natalinos e três cânticos de estilo jazzístico.
Então surgiu a figura carismática de Jim Cymbala; numa breve mensagem, de três minutos, arrebanhou dezenas de pessoas. Um hino inspirou-o a agradecer aos obreiros da Igreja e a pedir doações para a reconstrução das Filipinas.
Depois de mais uma “gospel song” (a equipe-de-louvor sabe de memória todas as letras das canções), às 10 horas da manhã teve início a homilia, com duração de 55 minutos; não tem o estilo empolado, mas o aspecto de uma conversa amigável do pastor com uma ovelha.
Cymbala não usa o púlpito e fala de improviso. Ao final, o líder do canto orienta as pessoas sobre a entrega de dízimos e ofertas.
Para comparar tipos de “gospel”, ainda hoje é possível ouvir “We Are Not Ashamed”, composto em 1982 por Andrae Crouch, nas vozes dos coros da igreja do Harlem e do tabernáculo do Brooklyn.
O que a equipe-de-louvor do Brooklyn mostrou de excepcional, foi sua perfeita sintonia com o “play-back”. Quanto à música, afasta-se dos padrões sacros.
Sem ter ido a New York, isto foi o que ouvimos no Brooklyn.
(Publicado em “O Jornal Batista”, de 06 de abril de 2014, p.3)