Nº. 687 – A estratégia católica – 02 jan 2005, p. 4

//Nº. 687 – A estratégia católica – 02 jan 2005, p. 4

Nº. 687 – A estratégia católica – 02 jan 2005, p. 4

 

Doc.JB-687

A estratégia católica

Rolando de Nassáu

A Igreja Católica Apostólica Romana tem procurado coibir o crescimento das igrejas evangélicas (tradicionais e neopenteccostais) no Brasil por meio de sutís movimentos táticos.

 

1. Movimento ecumênico

 

Este movimento começou, no século XIX, entre os protestantes liberais. O papa João XXIII (1958-1963) afirmou que uma das suas metas seria o ecumenismo com as igrejas protestantes (anglicana e luterana); ele propôs que o Concílio Vaticano II (1962/1963) fizesse uma revisão de sua posição, contrária ao ecumenismo protestante, e favorável ao unionismo das igrejas cristãs sob a égide da Igreja Romana.

Os papas Paulo VI (1963-1978) e João Paulo II (desde 1978) apoiaram o movimento ecumênico em acordo com as igrejas anglicana, luterana e ortodoxa, visando evitar o crescimento das igrejas evangélicas. Com este propósito, nos últimos 46 anos a Igreja Romana tem favorecido o movimento ecumênico.

 

2. Movimento de atualização

 

A segunda meta de João XXIII seria o “aggiornamento” (atualização) dentro da Igreja Romana. Primeiramente na Igreja Anglicana, depois na Igreja Romana, os liturgistas católicos canalizaram as águas turbulentas da hinodia popular, mesmo estando dentro de uma estrutura hierárquica, conhecidamente vertical, centralizada, rígida e dogmática, e permitiram manifestações musicais fora da liturgia católica (anglicana e romana), com o argumento que a música religiosa deveria ser popularizada. O Populismo musical começou com uma obra religiosa de tendência revolucionária: a “Twentieth Century Folk Mass” (missa folclórica do século XX), composta em 1956 por Geoffrey Beaumont. Imitando a iniciativa do anglicano Beaumont, em seguida surgiram a “Missa Luba” e obras congêneres de compositores católicos. Em julho de 1957, o terceiro congresso internacional católico de Música Sacra debateu as proposições favoráveis ao canto e à música popular na Igreja Romana. A hierarquia norte-americana percebeu o avanço do “rock-and-roll” sobre a juventude. Numa arremetida estratégica, o papa Paulo VI permitiu o aproveitamento da música popular na Igreja Romana e a adaptação da liturgia à mentalidade dos fiéis.

Depois de 1964, concluído o Concílio Vaticano II, uma parte das igrejas protestantes e evangélicas acolheu docilmente os propósitos papais. Os músicos evangélicos, ainda hoje, fazem o triste papel de ardorosos arautos ou cegos seguidores das diretrizes musicais da Igreja Romana. A música popular executada nas igrejas evangélicas teve origem ou inspiração na Igreja Anglicana e na Igreja Romana. O Populismo musical preocupa-se tão somente com os meios fáceis e os resultados rápidos de angariar adeptos para as igrejas. O crescimento da igreja é buscado por meio da música popular; esse propósito, que vem sendo difundido no meio evangélico como novidade, é tão velho quanto a estratégia católica.

Logo em seguida ao Concílio Vaticano II, no Brasil a Igreja Romana prestigiou o padre Zézinho; agora, é a vez do padre Marcelo.

Entre os evangélicos brasileiros, Paulo Tavares Bastos, Luiz de Carvalho e Nélson Ned (cada um em sua época) assumiram a posição de contra-ataque. Entretanto, enquanto no Maracanã, em maio de 1999, cantores evangélicos cantaram para 40 mil pessoas, o padre Marcelo cantou para 600 mil em São Paulo …

Agora, a Igreja Romana está mais preocupada com as igrejas neopentecostais. Entrando na cena musical como coadjuvante, o movimento populista católico concorre para a desintegração e diluição da identidade das igrejas e denominações evangélicas, tradicionais e neopentecostais. Basta observar na televisão as missas e os “shows” da Renovação Carismática; como a “liturgia”, o canto e a música são parecidas com os eventos da Segunda Lagoa !

 

3. Movimento do discipulado

 

Visando reconquistar o princípio da obediência ao papa, a Igreja Romana no Brasil está imitando os métodos pedagógicos das igrejas evangélicas e neopentecostais. Por meio do discipulado, ela quer voltar a crescer. Algumas igrejas evangélicas no Brasil estão sendo influenciadas pelos novos métodos de crescimento propostos. O problema é que o agitador da Terceira Onda está repetindo em seu livro o que escreveu o periódico “The Satyrist” (“nothing is sacred, especially music and religion” = nada é sagrado, especialmente a música e a religião); em 1963, a Igreja Romana teve mais pudor …

 

(Publicado em “O Jornal Batista”, 02 jan 2005, p. 4).

 

2018-02-21T14:01:11+00:00 By |Formas e estilos musicais|