No. 792 – Hinos e vozes inesquecíveis – 03 nov 13

//No. 792 – Hinos e vozes inesquecíveis – 03 nov 13

No. 792 – Hinos e vozes inesquecíveis – 03 nov 13

Música – No. 792

Hinos e vozes inesquecíveis

(Dedicado ao leitor Carlos Elias de Souza Santos, do Rio de Janeiro, RJ)

Meus ouvidos, dominicalmente, estão sujeitos às frivolidades oferecidas  pelas frases estapafúrdias de alguns cânticos contemporâneos, que anunciam ações extravagantes: “posso pisar uma tropa”, “deixa a chama arder”, “sobre a tempestade  voarei”, “pintou com perfeição”, “as feras do campo revelam o Teu poder”, “onde  flui o amor”, e quejandos. Ficam estropiados pela bateria e guitarras comparsas.

Melhor do que a minha, o pastor Isaltino tem condições de fazer a  crítica gramatical e teológica das letras desses cânticos.

Lamentavelmente, são preteridos hinos tradicionais que usam uma linguagem positiva e propiciam meu relacionamento com Deus: “Conta-me a história de  Cristo, grava-a no meu coração”, “Ó meu Jesus, comigo vem estar agora, até que no  céu contigo eu vá morar”, “Em Jesus amigo temos, mais chegado que um irmão”, “A  vinda eu anseio do meu Salvador; em breve virá me levar”, “Que consolação tem meu  coração, descansando no poder de Deus”, “Prefiro ter Jesus do que qualquer coisa  que o mundo de hoje possa oferecer”.

Portanto, minha predileção vai para os hinos e vozes que se tornaram  inesquecíveis, não somente pelo conteúdo de suas letras, mas também por causa da  unção com que ainda são cantados, depois de tantos anos.

Dentre as centenas de hinos do “Cantor Cristão”, selecionei seis entoados na língua inglesa, gravados em 2007 em Nashville, Tennessee (USA), por ocasião  de um encontro de cantores, amigos do casal Bill e Gloria Gaither. Cantores profissio-  nais, o que neles mais deve impressionar não é a técnica vocal, perfeita, mas a expressão musical, convincente (OJB, 03 abr 2011). Fiquei maravilhado com o fato de cantores profissionais terem escolhido para cantar nessa reunião – hinos tradicionais!

Meu hino favorito, “What a Friend We Have in Jesus” (“The Baptist  Hymnal”, TBH-182), “O Grande Amigo” (“Cantor Cristão”, CC-155), contém uma  frase lapidar: “Can we find a friend so faithful, who will all our sorrows share?”  (Podemos achar um amigo tão fiel, que compartilhará nossas aflições?). O tenorLarry Ford possui uma voz clara e sincera, que transmite ao ouvinte sua convicção.

“Tell Me the Story of Jesus” (TBH-122), “Conta-me” (CC-196) é um  hino cristológico: trata do nascimento, tentação, ministério, rejeição, crucificação,  sepultamento e ressurreição de Jesus. Foi cantado, num dueto lento e carinhoso,  por Charlotte Ritchie e Ivan Parker. No Brasil, as congregações apressam o andamento na execução deste hino; parecem estar ansiosas para ouvir a história …

“I Need Thee Every Hour” (TBH-450), “Necessitado” (CC-294) é  um hino que insistentemente pede a voz e a presença de Deus. Randy Owen, acompanhado pelo quarteto “The Isaacs”, cantou com muita sensibilidade.

“Leaning on the Everlasting Arms” (TBH-333), “Estou seguro” (CC-  314) fala da suave e protetora companhia de Jesus. A soprano Solveig Henderson,  acompanhando-se com um instrumento popular, deu a nota da simplicidade e ternura ao seu canto. Também esse hino era cantado com ritmo agitado, apesar de  ter sido classificado como canção de repouso …

Na potente voz de Wintley Phipps, o hino “It Is Well With My Soul”  (TBH-410), “Sou Feliz” (CC-398) torna-se uma vigorosa afirmação de fé e esperança em Deus.

Divulgado desde a década de 60 pelo cantor canadense George Beverly Shea, o hino “I’d Rather Have Jesus” (TBH-550), “Jesus é melhor”, ainda não incluido em nosso hinário, no encontro com os Gaithers foi executado pela Crabb Family. Numa arrebatadora participação, Jason Crabb, uma verdadeira usina de energia vocal, ficou conhecido por sua interpretação profundamente espiritual e apaixonadamente vinculada ao relacionamento com Deus. Se o leitor quiser conhecer um  cantor que emociona e entusiasma, procure as gravações de Jason Crabb, nem que  seja pelo You Tube (www.youtube.com).

Outros hinos do “Cantor Cristão”, cantados no vernáculo, para mim  tornaram-se inesquecíveis.

Na década de 40, ouvi o jovem cantor Feliciano Amaral (1920-    ) cantando “Sou forasteiro aqui”(“Mensagem real”, CC-207). Em 1957 destacava “a suave linha melódica, o agradável timbre e a perfeita dicção” de Feliciano. Pode-se esquecer algum cantor com essas qualidades? (OJB, 11 abr 1957).

No final da década de 50, propugnei pela revisão do nosso hinário para  incluir novas produções da hinodia batista.

Eu e Nieda, no primeiro domingo (06 de agosto de 1961) em que assistimos um culto matutino na Memorial, tivemos o privilégio de ouvir um solo vocal  do pastor da Igreja, o missionário James Everett Musgrave Junior (1922-2010), cantando, em português, o hino “O amor de Deus”, talvez uma tradução feita pelo próprio executante, que não foi aproveitada no “Hinário para o Culto Cristão” (HCC).

Ele cantava esse hino no barraco (o Templo Memorial estava em construção), nas concentrações evangelísticas realizadas nos canteiros das construções de  Brasília, nos estúdios de rádio e televisão, em todos os lugares. Pode-se esquecer um  homem que canta e prega o Evangelho?

Na manhã de 05 de junho de 2011, na Memorial, Shirley Márcia dos  Santos interpretou “Preciosa a Graça de Jesus” (HCC-314), “Amazing Grace! How  Sweet the Sound” (TBH-330), do inglês John Newton; figurava num hinário ameri-  cano desde 1911, mas só teve acesso no HCC em 1990. A característica de Shirley é  a versatilidade; deu à emoliente letra inglesa uma tonalidade cinzenta. Em contraste,  em 27 de novembro, deixou-se levar pela ebuliente música do americano Robert Ray,   “He Never Failed Me Yet” (Não falhará jamais) cantando com autenticidade. Foram  audições inesquecíveis!

Fiquei decepcionado ao verificar que é pequeno o número dos cantores  mais preparados de nossas igrejas que escolhem hinos tradicionais para cantar nos  cultos dominicais. Alguns preferem trechos sinfônicos (Beethoven, Tchaikovski, Sibelius, Grieg, Gounod) ou operísticos (Wagner, Verdi, Bizet, Offenbach, Meyerbeer,  Haendel) como fundo musical para seus solos vocais!

Além do efeito educativo musical (a congregação ouve como deve ser  cantado o hino), há o de natureza teológica e doutrinária (os ouvintes recebem mensagens que apóiam a pregação feita pelo sermão pastoral).

Senhores solistas, prestigiem os hinos do “Cantor Cristão”!.

(Publicado em “O Jornal Batista”, de 03 de novembro de 2013, p.3)