Música – No. 803
Expressões de sabedoria
(Dedicado à leitora Lourdes Lemos Almeida, de Brasília, DF)
“Estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a todo aquele que vos pedir a razão da esperança que há em vós” (1ª. Pedro 3: 15)
Os cânticos (corinhos) são os veículos preferidos pelos seus autores para declarações românticas sobre o relacionamento com Deus e Seu Filho. Podem sentir-se premiados quando as congregações ficam inebriadas pelas melodias doces e agradáveis, confortadoras e extasiantes; algumas experimentam transes espirituais.
Consultamos nossa coleção de cânticos e verificamos que são monotemáticos: amor e louvor a Jesus.
Os hinógrafos usam os hinos para lições práticas acerca da observância das doutrinas da fé cristã. Cremos que ficariam tristes se alguém fosse induzido a prestar maior atenção à música do que às palavras que se expressam por meio dela. Os cultuantes lêem as estrofes e os estribilhos como fontes de vida, expressões de sabedoria.
Como escreveu a hinóloga Henriqueta Rosa Fernandes Braga, “A Bíblia e o Hinário são … a única literatura, fonte de ensino, de que muitos crentes dispõem”. O leigo, que talvez não tenha condições de examinar a teologia dos hinos, pelo menos pode avaliar o conteúdo doutrinário de suas letras.
Muitas doutrinas aprendemos ouvindo e cantando hinos.
A hinodia é uma forma de expressão da fé e conduta cristã.
O hinário denominacional é uma coletânea de hinos que indica o estágio em que se encontra nossa Denominação na percepção de suas doutrinas. Uma denominação é forte e coesa na medida em que seus filiados mantêm suas doutrinas por meio de seus hinos.
A fé e a comunhão das igrejas batistas devem estar baseadas na Bíblia e, tanto quanto possível, em seus hinários oficiais.
Nossos hinários devem “iluminar” nossas doutrinas.
Selecionamos alguns temas doutrinários, inclusive difíceis e controvertidos, que são explicados por meio de hinos.
Segunda Vinda
Recentemente, na parede atrás do púlpito, vimos, em letras douradas, as palavras “Breve Jesus Voltará”. De imediato, a palavra “breve” nos adverte, de maneira lacônica, que a Segunda Vinda de Jesus ocorrerá rapidamente, acontecerá durante pouco tempo, daqui a pouco.
Os crentes da igreja primitiva, nos primórdios da Era Cristã, esperavam a Segunda Vinda a qualquer momento (1ª. Tess.5: 2-4). Alguns contemporâneos, passados dois milênios, acham que foram decepcionados, mas esquecem as palavras dos profetas e apóstolos, que enfatizaram a longanimidade divina (Salmo 90:4; 2ª. Pedro 3: 2-4 e 8-9).
Pouco tempo depois, a congregação, apoiando-se num hino traduzido pelo hinógrafo e teólogo Werner Kaschel, expôs melhor o ensino sobre a Segunda Vinda. O letreiro dourado talvez estivesse expressando a opinião de algum crente, desavisado a respeito da existência de um texto evangélico, que diz: “Daquele dia e hora, porém, ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, senão só o Pai” (Mat.24: 36-39.
Deus, para o nosso próprio bem, nada disse ao Seu Filho.
Ou crente ignorante em relação a um hino; este esclarece o tema: “Entre nós, neste mundo, não sabe ninguém em qual dia e em qual hora Ele vem”, e, no estribilho, reforça o ensino: “… o Senhor voltará; seu aviso do céu descerá” (HCC-155).
Nos mais de 100 cânticos (corinhos), usados em muitas igrejas evangélicas, só encontramos três que se referem à Segunda Vinda.
Retidão
Durante muitos séculos, o homem, vil pecador, tem alegado seu propósito de retidão, mas procura não confessar seu pecado. Seria tão bom se o pecador ouvisse a experiência do hinógrafo Antônio José Millan: “Retidão em mim não há; por graça salvo sou” (CC-390).
Fé
A fé, ou a simulação da fé, que era antigamente a regra, tornou-se exceção entre os homens. O ateísmo tradicional era uma revolta; hoje é uma opção, ou uma atitude de indiferença, ou uma expressão cultural, ou uma lenta e progressiva desatenção às coisas do espírito.
Entre os religiosos, a fé balança entre as múltiplas crenças e os variegados credos. Eles precisam imitar o hinógrafo Francisco Caetano Borges da Silva, que declarou: “A minha fé e o meu amor estão firmados no Senhor” (CC-366).
Paz
Agostinho de Hipona escreveu que “nosso coração está inquieto enquanto não repousa em Deus”. A poetisa Andrônica Almeida Borges Alcântara (“Vidas no Altar”, pp.243 e 244, Fortaleza: Expressão, 2012) afirma: “não trouxeram a paz ao Universo, nem ao coração do Homem”. Mesmo em tempo de paz, o homem de hoje sente-se como se estivesse no meio de uma guerra urbana. Ainda é recomendável a palavra sensata do Salmista: “Muita paz têm os que amam a lei de Deus” (Salmo 119: 165).
O hinógrafo Ricardo Pitrowsky imaginou “sombras escuras” e “viver de lutas, cheio de amargor”, que os mais fortes enfrentam, mas trazem decepções e tristezas. Como solução, sugeriu que não desanimassem, não perdessem a esperança, mas cantassem um hino: “Se teu coração estiver em paz, verás que um arco-íris cada nuvem traz” (CC-347).
Vida eterna
Há os que visitam os templos sob a condição de outorgar a Deus pequena parcela de seu tempo ou de seus bens; com esse pequeno esforço dominical pensam garantir para si um seguro de salvação eterna; o problema é abrir o caminho para o céu …
O hinógrafo William Edwin Entzminger para esse problema apontou a solução: “Foi Jesus que abriu o caminho prá o céu, nenhum outro vou achar. Nunca irei entrar na mansão de luz, se não for através da cruz. Para o céu por Jesus irei. Grande é meu prazer de certeza ter: para o céu pela cruz irei” (CC-306).
Todas essas são algumas das muitas expressões de sabedoria que encontramos nos hinários denominacionais (“Cantor Cristão” e “Hinário para o Culto Cristão”).
(Publicado em “O Jornal Batista”, de 03 de agosto de 2014, p.3)