Doc.JB-834-A – TEXTO REVISTO
MÚSICA – Rolando de Nassau
A música na Ceia do Senhor
(Dedicado ao leitor Luiz Hastimphilo Mestrinho)
- Neste artigo reproduzimos conceitos inspirados em sermões (1977-1985) do saudoso pastor João Filson Soren e baseados em nossas experiências no exercício da diaconia.
- Parte central – o culto deve girar em torno da cele bração da Ceia do Senhor. A celebração não deve ser um arremate do culto, ou apenas um momento, ou um pretexto.
- Efeméride – seu significado deve ser lembrado continuamente; é uma ordenança repetitiva; seus efeitos abençoadores devem ocorrer continuamente; sua necessidade é permanente para alimentação espiritual dos membros da Igreja.
- Testemunho – a celebração proclama a morte, comemora o falecimento de Jesus em sua forma humana e anuncia a Sua segunda vinda; é um testemunho dos cristãos presentes.
- Seriedade – a celebração deve ser conduzida com seriedade, mas evitando um ambiente tristonho e lacrimoso; não deve converter-se num culto fúnebre, num velório deprimente. A morte de Jesus, seguida pela ressurreição, significou, à época, a Sua vitória sobre a morte, por isso resultou em alegria para os
discípulos.
- Recordação – Na igreja primitiva, depois do culto a celebração da Ceia do Senhor era uma ocasião alegre, não para recordar a Páscoa, que marcou a despedida dos Judeus, mas lembrar outras refeições com a presença de Jesus.
- Homenagem a um mártir? – Jesus não foi mártir no Calvário; Ele se submeteu voluntariamente à crucifixão. Não cabe qualquer hino ou cântico no qual o sacrifício de Jesus seja lembrado como ato heroico, motivado pela maldade de alguém ou pela crueldade da turba.
- Desafio – A celebração é um desafio à Igreja, para que se torne uma comunidade realmente fraterna; é um desafio também para o crente: a imperfeição da Igreja não deve ser pretexto para abster-se de participar da Ceia do Senhor, que não é do pastor, dos diáconos ou de algum membro pioneiro ou veterano. A celebração declara aos de fora da Igreja que os que estão dentro dela são irmãos em Jesus Cristo.
- Reconhecimento – É o reconhecimento tácito, pela Igreja local e atual, de sua imperfeição.
- Momento de exame – é imprescindível; não é uma auto-análise psicológica; na celebração é algo frequente a exortação: examine-se e julgue-se a si mesmo. No rito (procedimento do culto), não se trata de ritual (ordenamento da liturgia, que, no meio batista, não é praticado), deveria ser mais enfática e incisiva essa momentosa exortação. Não é uma simples introspecção ou mera avaliação, nem teste de conhecimento doutrinário a respeito do simbolismo do pão e do vinho. É o despertar da consciência! É a atitude de contrição! É a confissão da incapacidade para realizar a obra evangelizadora!
- Contrição – para que seja possível, deve haver tempo suficiente para o cultuante auto-examinar-se. Evidentemente, as partes musicais tornam-se inconvenientes nos poucos momentos liberados ao auto-exame. Que é mais importante: a música ou a contrição? Cantar ou confessar pecado?
- Exercício – participar da Ceia do Senhor é praticar um exercício espiritual; a celebração não é um encontro social, nem evento artístico.
- Momento de gratidão – ninguém deve participar sem ao menos murmurar uma oração de gratidão a Deus.
- Efeitos – ao terminar a celebração, se o crente não experimentou qualquer efeito espiritual benéfico, então foi um tempo inaproveitado.
- Execução musical – é imprópria para solo vocal; durante a distribuição dos elementos, seria condigna a execução dos 2 minutos iniciais do “Benedictus”, de Beethoven, num circunspecto solo de violino, nas igrejas que prezam a liturgia.
- Improvisação – se a parte musical for improvisada, sujeita-se ao dissabor de contradizer todos estes preceitos.
- Esperança – é recomendável a Igreja cantar a respeito de sua firmeza em Cristo, mesmo quando a Igreja local passa por uma crise.
- Introspecção – muitos textos bíblicos que ensinam a retidão foram musicados; se forem aproveitadas essas peças, trarão à celebração belos momentos para a introspecção.
- Tempo para a contrição – No último lustro da diaconia, preocupados com o uso do tempo/ (fomos para uma celebração da Ceia do Senhor ou para um concerto musical?)/, temos cronometrado a realização dessa solenidade na igreja. Nas partes musicais, em geral encontramos música coral introdutória, canto congregacional (enquanto é distribuído o pão), solo ou dueto vocal (inadequados para a ocasião em que é servido o vinho) e canto congregacional (para encerrar a celebração). Observamos que restam ao cultuante, depois de tantos outros atos, poucos minutos para a contrição; além disso, há várias circunstâncias adversas: ruídos e barulhos no ambiente, distrações causadas pela movimentação das pessoas.
Mas, em 1º. de maio de 2016, pela Internet, vimos como foi excepcional o consumo de tempo numa determinada celebração: além dos 30 minutos costumeiros, mais 19 minutos de execução musical, com a “pompa e circunstância” de orquestra. Foram reservados 34 minutos para um concerto.
Não questionamos o esforço e a qualidade dos solistas, cantores e instrumentistas, mas, por causa das muitas partes musicais, o culto acabou parecendo mais um concerto; inclusive ocorreram aplausos no final.
Convenhamos: isto não está entre os propósitos da celebração da Ceia do Senhor!
- Sugestões – 1) somente durante a distribuição dos elementos, quando o celebrante não está falando, pode ser executada, breve e suavemente, uma melodia calma e reverente; 2) a celebração deve terminar com o canto congregacional, de preferência sem acompanhamento instrumental.
Brasília, DF, em 18 de junho de 2017. Rolando de Nassau.