No. 828 – Longevidade musical – 04 dez 16

//No. 828 – Longevidade musical – 04 dez 16

No. 828 – Longevidade musical – 04 dez 16

Doc.JB MÚSICA – No. 828

Rolando de Nassau

Longevidade musical

(Em memória de Noemia Torres Hollanda, 1894-1929)

“Trabalhar enquanto é dia, pois a noite perto vem!” “A noite vem, quando ninguém pode trabalhar” “Todos os nossos dias vão passando; acabam-se os nossos anos como um suspiro” “Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos corações sábios” “Bem-aventurados os que morrem no Senhor, para que descansem dos seus trabalhos, pois as suas obras os acompanham”. 

 

Esta coluna existe por várias décadas; é justo que nos lembremos das personalidades que por ela passaram.

Dos anos dourados (1952-1958) lembro as que foram focalizadas nos meus primeiros 43 artigos sobre música.

Em 13 de dezembro de 1951 foi publicado o artigo sobre o concerto do Coral Ex-celsior no auditório do Instituto de Educação do então Distrito Federal. Essa instituição musical tornou-se notável exemplo de longevidade; ela e seu criador, Guilherme Loureiro, durante mais de meio século foram objeto de nossos comentários. Entre os idealistas da primeira hora estavam Olívia de Magalhães, Lovie Pitrowsky, José Fraga e Jonas Esteves.  A partir de 1953 Eudora Pitrowsky Salles colaborou com Guilherme Loureiro. A outra instituição gerada na década de 50, a Asso- ciação Coral Evangélica (ACE), durou 44 anos (1953-1997). Em 1955 a soprano Gláucia de Medeiros Simas era a“estrela” da ACE.

Tema a ser desenvolvido por musicólogos e sociólogos é o surgimento, na década de 50, inicialmente no Rio de Janeiro e entre os Batistas, de um movimento a favor do canto coral.

Para muitos crentes, voluntários e anônimos, esse movimento significou uma epopeia: depois de horas de trabalho em lojas, oficinas e escritórios, saíam apressados para entrar nos trens apinhados da Central e da Leopoldina; ofegantes, entusiasmados por um ambiente olímpico, e famintos, só poderiam mastigar as páginas musicais de compositores eruditos.

Guilherme Loureiro, Levino de Alcântara e Heitor Argolo foram os luminares e líderes do movimento coral, tendo  contribuído para a renovação da execução musical nas igrejas.

Entre as igrejas, em matéria de longevidade musical, nenhuma  tem cabedal para exibir perante a primeira batista do Rio de Janeiro: seu coro provisório cantou no aniversário, em 1904, do lançamento da pedra fundamental do edifício do Hospital Evangélico; em 1911, nas reuniões de organização das igrejas de Catumbi e Madureira. Quando esta coluna foi criada, em 1951, já existia oficialmente, desde 6 de maio de 1915, o coro da PIB-RJ; minha mãe, Noemia, sob a orientação do primei- ro regente, Daniel Cordes, foi organista até 1923; depois, por ele passaram, como regentes, Levino Alcântara (1952-1956), Nata-nael Mesquita (1956-1962) e Marília Soren (1962-1966); exemplo individual de longevidade é Anna Campello Egger, desde 21 de março de 1967. Em quase meio século desta coluna, esses músicos a frequentaram com mérito.

As duas instituições influenciaram as igrejas batistas da época; o coro da igreja no bairro de São Francisco Xavier realizou em 1954 um importante concerto de música sacra erudita; a igreja hospedou em seus primórdios o movimento coral, até quando Heitor Argolo assumiu, em 1955, a direção da ACE; depois, o coro tornou-se inativo.

Outros coros de igrejas cariocas que despontaram no cenário musical foram os de Madureira, da Tijuca e de Barão da Taquara, sob a direção de Dorivil de Souza, e o de Campo dos Afonsos, regido por Saulo Velasco, mas tiveram atuações efêmeras até 1959.

Isto porque aquelas entidades eram efêmeras; não sabemos se ainda está viva a ideia de uma organização coral sustentável no meio batista carioca.

De 1954 a 1957, Livino Alcântara viajou pelos esta- dos para criar associações congêneres. No Recife (PE), atuaram os missionários Jerry Paul Smyth e Martha Ann Kolb e a Ir.Leny de Amorim Silva.

Em 1956 o movimento coral carioca teve oportunidade áurea para exibir-se: a assembleia anual da Convenção Batista Brasileira, em janeiro, quando participaram o Coro da Primeira Igreja Batista do Rio de Janeiro, o Coro da Associação Coral Evangélica e o Coral Excelsior, regidos, respectivamente, por Natanael Mesquita, Heitor Argolo e Guilherme Loureiro.

Oportunamente, manifestaram-se Betty Antunes de Oliveira e Olavo Guimarães Feijó sobre a situação da música entre os Batistas do Brasil.

Comemorando o seu sétimo aniversário, o Coral Ex-celsior promoveu, em 1956, o Primeiro Festival de Música Sa-cra, do qual participaram o coro da Escola de Música Sacra do Colégio Metodista “Bennett” (dir.Albert Ream), os coros da ACE, da Catedral Presbiteriana do Rio de Janeiro (baixo Newton Paiva), da Igreja Presbiteriana de Inhaúma, da Igreja Metodista de Petrópolis e o coro infanto-juvenil da Igreja Batista da Tijuca (reg.Dorivil de Souza). Isto demonstrou que o movimento coral começava a espalhar-se na cidade e entre as igrejas evangélicas do Rio de Janeiro.

No Terceiro Festival, em 1958, participaram os coros das igrejas batistas de Campo dos Afonsos (reg.Saulo Velasco)e de Barão da Taquara (reg.Dorivil de Souza), e, como acompa-nhante, a pianista Marília Soren.

Em 1957 a ACE comemorou seu quinto aniversário realizando um concerto sinfônico, para demonstrar sua ambição de ocupar o espaço musical erudito.

Além das 20 personalidades pioneiras que atuaram nos 10 primeiros anos desta coluna,  já citadas, queremos destacar as 10 que, nos últimos 55 anos, dedicaram seu tempo à música sacra: Delcy Bernardes Gonçalves, Edith Brock Mulholland, Elza Lakschevitz,  Almir Rosa, Bill Ichter, Joan Larie Sutton, Clint Kimbrough, Gamaliel Perruci, Marcílio de Oliveira Filho e Elias Moreira da Silva.

Algumas não somente se projetaram no meio denominacional, mas, por sua competência profissional, foram re-conhecidas no ambiente profano; foi o caso de Elza Lakschevitz, que regeu o Coro Infantil do Rio de Janeiro.

As personalidades só foram aqui lembradas porque compreenderam os seus papéis na arena musical, fossem ou não de protagonismo, de curta ou longa duração.

A atuação de um músico deve ter em vista a realização de sua missão; a pertinácia dele explica a longevidade conquistada. Se o músico não tem consciência de sua missão, então a sua longevidade será injustificável.

Alguns músicos têm pouco tempo para o seu desempenho, mas se esse tempo foi bem aproveitado, embora sua atuação tenha sido curta, a repercussão do seu trabalho será enorme e prolongada.

Mas alguns têm à sua disposição muitas oportunidades, que são desperdiçadas, o que não justifica que ele permaneça em determinado cargo ou função.

Por isso, a questão da longevidade depende de como é encarada a responsabilidade na execução de um trabalho.

Todas as 30 pessoas das quais nos lembramos eram extraordinariamente responsáveis e foram longevas. Brasília, DF, 24 de agosto de 2016. Rolando de Nassau.     

2018-02-24T13:42:36+00:00 By |Personalidades|