Música – No. 779
Hinos alemães no HCC
(Dedicado ao leitor Helmuth Matschulat)
Todos sabemos que os dois hinários usados pelos Batistas no Brasil, o “Cantor Cristão” (1891) e o “Hinário para o Culto Cristão” (1991), receberam, nos finais dos séculos 19 e 20, forte influência da hinodia americana. Ainda hoje, ficamos curiosos com o fenômeno de transposição cultural ocorrido entre 1861 (1ª. edição de “Salmos e Hinos”) e 1961 (32ª. edição do “Cantor Cristão”): uma crescente parcela da população brasileira, para expressar sua espiritualidade, abandonou os cânticos de origem européia da Igreja Católica e incorporou os de origem norte-americana das igrejas evangélicas, sem qualquer vínculo com a secular religiosidade popular.
A germânica foi difundida entre os Protestantes (Luteranos e Calvinis- tas) que no século 19 emigraram da Suíça, Alemanha, Prússia, Áustria, Pomerânia, Silésia e Polônia, trazendo seus muitos hinários para o Brasil. Esses hinários destina- vam-se ao uso no culto, dominical, no templo, ou à devoção, semanal, no lar. Sempre tivemos muita curiosidade a respeito da hinodia protestante em língua alemã, embora cultivássemos a música sacra erudita de origem protestante. No princípio do século 20 eram pastores batistas no Rio Grande do Sul: Augusto e Frederico Matschulat, Gui- lherme e Roberto Leiman, Carlos Roth e João Nettemberg; talvez tenham usado hiná- rios evangélicos procedentes da Alemanha.
Em maio de 2012, na peregrinação no leste da Alemanha, fizemos ano- tacões que, em alguns casos, atualizam o monumental e gigantesco trabalho realizado pela hinóloga Edith Brock Mulholland no preparo das“Notas Históricas” do “Hinário para o Culto Cristão” (HCC).
Como resultado, oferecemos dados sobre 17 hinos alemães, escritos e compostos por poetas e músicos do mais alto gabarito artístico. Nem sempre as letras foram traduzidas diretamente da língua alemã. Tiveram condições de traduzi-las:
João Soares da Fonseca (HCC-10, 68, 167 e 222), Manoel da Silveira Porto Filho (HCC-63), Werner Kaschel (HCC-227) e Joan Larie Sutton (HCC-315). Esses hinógrafos, que eram intelectuais admiradores da hinodia alemã, quiseram dar aos Evangélicos brasileiros uma nova visão da espiritualidade.
- HCC-10 – “Louvemos ao Senhor” – Origem: cântico (1630) convertido em coral (1636), de Martin Rinckart (1586-1649), “Nun danket alle Gott”, com melodia (1647) de Johann Crüger (1598-1662). Tradutor: João Soares da Fonseca (1990).
- HCC-27 – “Cantemos os louvores” – Origem da melodia: M. Von Werkmeister, “Gesangbuch der Herzoglichen Wirtembergischen Katholischen Hofkapelle” (Livro de cânticos da capela católica do duque de Wirtemberg) – (1784). Autor da letra: Rodolfo Hasse (1972).
- HCC-30 – “A terra semeamos” – Origem: hino (1783) de Matthias Claudius (1740-1815), “Wir pflügen, und wir streuen den Samen auf das Land”, com música de Johann Abraham Peter Schulz (1747-1800). Tradutor: Henry Maxwell Wright (1898).
- HCC-40 – “As Tuas mãos dirigem meu destino” – Origem: hino (1862) de Julie Von Hausmann (1826-1901), “So nimm denn meine Hände und führe mich ewiglich”, musicado em 1842 por Friedrich Silcher (1789-1860). Tradutora: Sarah Poulton Kalley (1873).
- HCC-50 – “Louvai ao Deus da Criação” – Origem: hino (1675) “Sei Lob und Ehr dem höchsten Gut”, de Johann Jakob Schütz (1640-1690). A melodia pode ser de Guillaume Franc (1543) ou de Loys Bourgeois (1551). Tradutor: João Soares da Fonseca (1990).
- HCC-63 – “Maravilhoso, ó Jesus amado” – Origem: hino “Schönster Herr Jesu”, das coletâneas de Munster (1677) e da Silésia (1842). Tradutor: Manoel da Silveira Porto Filho (1963).
- HCC-68 – “Tudo És Tu, Jesus” – Origem: hino (1857) “Stern, auf den ich schaue”, de Cornelius Friedrich Adolf Krummacher (1824-1884). Tradutor: João Soares da Fonseca (1989).
- HCC-91 – “Noite de paz! Noite de amor!” – Origem: hino (1818) “Stille Nacht, heilige Nacht!”, de Joseph Mohr (1792-1848), com música (1818) de Franz Xaver Gruber (1787-1863). Tradutor: William Edwin Entzminger (1917).
- HCC-108 – “Vem, minha alma, alegremente” – Origem: hino (1653) de Paul Gerhardt (1607-1676), “Warum sollt ich mich denn grämen?”, com música (1666) de Johann Georg Ebeling (1637-1676). Tradutor: João Wilson Faustini (1971).
- HCC-130 – “Oh, fronte ensanguentada!” – Origem: hino latino (século 13), “Salve, caput cruentatum”, de Arnulf Von Löwen (1200-1250), vertido para a língua alemã, sob o título “O Haupt voll Blut und Wunden” (1656) por Paul Gerhardt (1607-1676), com música (1601) de Hans Leo Hassler (1564-1612). Tradutor: Isaac Nicolau Salum (1950).
- HCC-167 – “O Teu amor, Jesus” – Origem: o hino (1729) “Ich betean die Macht der Liebe”, de GerhardTersteegen (1697-1769), com música (c. 1822) de Dmitri Stepanovich Bortniansky (1751-1825), tem sido executado em cerimônias militares na Alemanha. Tradutor: João Soares da Fonseca (1990).
- HCC-222 – “Deus está presente” – Origem: hino (1729) “Gott ist gegenwärtig”, de Gerhard Tersteegen (1697-1769), com melodia (1680) de Joachim Neander (1650-1680). Tradutor: João Soares da Fonseca (1990).
- HCC-227 – “Louve, meu ser, ao grandioso Senhor” – Origem: hino (1680) “Lobe den Herren, den mächtigen König der Ehren”, de Joachim Neander (1650-1680), com melodia extraída do hinário (1665) “Geistlich Stralsund”. Tradutor: Werner Kaschel (1989).
- HCC-315 – “És minha alegria” – Origem: hino (1653) “Jesu, meine Freude”, de Johann Franck (1618-1677), com música (1653) de Johann Crüger (1598-1662). Tradutora: Joan Larie Sutton (1973).
- HCC-343 – “Se queres forças na fraqueza” – Origem: letra e música (1641) “Wer nur den lieben Gott lässt walten”, de Georg Neumark (1621-1681). Tradutor: João Wilson Faustini (1957).
- HCC-406 – “Castelo forte é nosso Deus” – Origem: letra e música (1529) “Ein feste Burg ist unser Gott”, de Martin Luther (1483-1546). Tradutor: Jacob Eduardo Von Hafe (1886).
- HCC-511 – “Sou em Teu nome batizado” – Origem: letra (1735) “Ich bin getauft auf deinen Namen”, de Johann Jakob Rambach (1693-1735). Tradutor: João Soares da Fonseca (1990).
Posso avaliar a hinodia de uma igreja pela quantidade desses hinos alemães que são cantados por sua congregação. O abalizado crítico inglês John Julian consi derou a hinodia alemã “a mais rica de todas as hinodias”.
(Publicado em “O Jornal Batista”, de 03 de fevereiro de 2013, p. 3)
06 novembro 2012.