No. 796 – OCBRASS na Memorial – 02 mar 14

//No. 796 – OCBRASS na Memorial – 02 mar 14

No. 796 – OCBRASS na Memorial – 02 mar 14

Música – No. 796

Rolando de Nassau

Fotos: Edsom da Silva Leite

OCBRASS NA MEMORIAL

(“In memoriam” de Almerindo Gomes, de Brasília, DF)

 

No culto dominical matutino da Igreja Memorial Batista, em 15 de de-  zembro de 2013, teve especial participação a Orquestra Cristã, sob a regência do ar-  ranjador carioca Joel Barbosa (1958-    ), que vive na Capital Federal desde 1978.

Mantida por uma associação (OCBRASS), a orquestra, organizada em  1986,  iniciou suas atividades visitando igrejas evangélicas de Brasília. Já tocou no  Teatro Nacional “Cláudio Santoro”, em Brasília, e no Teatro “Amadeo Roldán”,  em Havana (Cuba). Em 1994, gravou “ao vivo” um CD na Sala “Martins Pena”.

Essa instituição fez-me lembrar a Orquestra da Boa Vontade, criada  em 1957 pelo pastor Moisés Gil em Suzano (SP), que aceitava convites para tocar  nos sábados e feriados, para não interferir nos cultos das igrejas (OJB, 05 dez 57).

Joel Barbosa, que fez os cursos de bacharel em trompete (1987-1990) e  de composição e regência (1991-1993) na Universidade de Brasília, concluiu seu doutoramento em música (processos criativos) na Universidade de Campinas. Leciona  na Escola de Música de Brasília, fundada pelo maestro Levino Alcântara.

O maestro recebeu influências do jazz (o trompete de Louis Armstrong  e os arranjos de Quincy Jones), evidentes em sua orientação musical, e de músicos eruditos (maestrina Elena Herrera, professor Ian Guest e compositor Jorge Antunes).

Encontra-se no grupo (Conrado Silva, Marco Aurélio Coutinho, Francisca Aquino, Sérgio Nogueira, Kátia Almeida, Rodrigo Lima e Marcos Cohen) que  movimenta a música erudita em Brasília.

A OCBRASS bem que poderia ter sido convidada para dar um concerto no Auditório “Éber Vasconcelos”, quando poderia demonstrar melhor a capacidade técnica e artística na execução de seu repertório, Mas foi engajada num culto  para tocar música que não era propriamente de culto; antigamente, dizia-se que era  uma “música especial”.

Nesta apresentação, 35 instrumentistas tocaram na Orquestra e 12 coristas cantaram no Coro. O preparo vocal dos coristas esteve sob os cuidados de Moisés Barreto, membro da Memorial.

As intervenções da OCBRASS na Ordem do Culto foram as seguintes:  “A Child Is Born” (Um menino nasceu) – a princípio, imaginei tratar-se do trecho do oratório “Messias”, de G. F. Haendel, que proclama o nascimento  de Jesus, mas logo verifiquei que era uma peça musical profana, composta em 1970  pelo jazzista Thad Jones;  “Eventide” (Entardecer) – música composta cerca de 1861 por William Henry Monk (CC-1, HCC-8, TBH-63); fiquei intrigado porque foi executada à  plena luz de um radioso dia de domingo;  “Cantam Anjos Harmonias” (CC-27, HCC-96); acompanhada pela  orquestra, a contralto solista Shirley Márcia dos Santos, numa vibrante interpretação  do texto de Charles Wesley (1739), foi inspirada pela exultante música de Felix Men-  delssohn (1840);  “Noite Santa” (“Meia-noite, cristãos” – “Minuit, chrétiens!”), com  música de Adolphe Adam, na voz insegura, mas com boa dicção, do tenor Reuler Fur-  tado; “His Eye is on the Sparrow” (O olho de Deus está sobre o pardal) –  hino escrito no estilo de uma “gospel song” (canção evangelística) por Civilla Durfee  Martin e traduzido em 1913 por Salomão Luiz Ginsburg (“Nada de desânimo”, CC-  337); foi divulgado pelas cantoras populares Mahalia Jackson e Whitney Houston;  não encontrei razão para ser cantado em inglês por um dueto feminino (soprano  Christiane Dantas e meio-soprano Nádia Santolli), quando existe uma letra em português, que poderia ser proveitosamente acompanhada pelo público no Auditório e    na internet. Curiosamente, Ginsburg traduziu este hino, quando estava em New Bed-  ford, Massachussets (USA), para uma comunidade de imigrantes portugueses (OJB,  19 jun 1913 e 28 ago 1913).

Concluindo, a Orquestra e o Coro da OCBRASS deram equivocada  interpretação a duas peças hinódicas tradicionais:  “Noite de paz! Noite de amor!” (CC-30, HCC-91, TBH-91), de Joseph Mohr e Franz Gruber; traduzido em 1917 por William Edwin Entzminger (OJB,  01 nov 1917); é uma página de ternura, que não foi lida na inteireza da concepção dos  autores, pois foram feitas algumas alterações na letra e na música; considerando que  estava sendo cantada num culto de adoração, a poesia de Mohr e Entzminger deveria  ter sido respeitada, e a música de Gruber executada sem ornamentos; esses desvios se-  riam tolerados num concerto de natureza artística;  “Vencendo vem Jesus” (CC-112, HCC-153, TBH-633), escrito em  1861 por Julia Ward Howe e traduzido por Ricardo Pitrowsky, já foi o hino triunfal  dos Evangélicos no Brasil; é uma página de bravura, da qual foram aproveitadas  apenas duas das quatro estrofes; no final da execução, a estridência dos instrumentos  substituiu a intrepidez dos cantores.

Em meus 53 anos de Brasília, tive o privilégio de ouvir música regida  pelo baluarte da música candanga: Levino de Alcântara (Associação Coral Evangélica). Que a OCBRASS mantenha aceso o ideal de Levino: tocar música genuína!

Legendas das fotografias anexas:  Quarteto solista, acompanhado pelos instrumentos de cordas, mais a soprano Gisela Cardoso de Britto. (foto ESL-JPG-353KB-OCBRASS na IMB);  Coro e Orquestra da OCBRASS, na Memorial, sob a regência de Joel Barbosa (foto ESL-JPG-370KB-OCBRASS na IMB).  nassau@abordo.com.br  (Publicado em “O Jornal Batista”, de 02 de março de 2014, p.3)

 

2018-02-24T15:08:30+00:00 By |Recitais e concertos|