No. 833 – “Cantos que são de anjos” – 04 jun 17

//No. 833 – “Cantos que são de anjos” – 04 jun 17

No. 833 – “Cantos que são de anjos” – 04 jun 17

Doc.JB Música – No. 833

Rolando de Nassau

Cantos que são de anjos

(Em memória de Elso Pereira de Britto, de Brasília, DF)

 

Motivada pelo pastor Éber Vasconcelos, a Igreja Memorial Batista oficializou, em 8 de janeiro de 1969, o Coro Infantil, confiando-o a Alciléa Serafim Silva.

Em 1983 escrevemos: “Conhecemos igrejas grandes e prósperas que não dão oportunidade ao canto das crianças … os coros de adultos não são melhores porque não procedem de coros infantís”.

A propósito de uma das últimas apresentações do Coro Infantil sob a regência de Alciléa observamos que, “enquanto um conjunto vocal de gente grande procurava equilibrar-se na esfera escorregadia da desafinação, as vozes infantís, como se pertencessem a um coro extraterrestre, evoluíam no espaço sonoro com leveza e candura,  passeando na atmosfera rítmica e harmônica, montadas em belas melodias” (ver: OJB, 05 jun 83).

Por razões alheias ao ideal educativo, durante quase três décadas esteve inativo; em seu lugar, as crianças de 6 a 12 anos de idade eram improvisadamente convocadas para cantar no Dia da Criança ou na noite de Natal (ver: OJB, 03 jan 2016).

No final de um ano barulhento e agitado, foi mais uma vez testado um modelo de coro-de-franquia, com objetivos pragmáticos; a novidade era fazer com que as crianças cantas- sem música-de-entretenimento, num espetáculo musicado, para atender a demanda do público por certas mercadorias destinadas ao segmento infantil (ver: OJB, 05 junho 2016).

Na primeira apresentação do novo Coro Infantil, “Contos que não são de fadas”, logo sentimos a renovação do ambiente; na segunda, ocorrida em 11 de dezembro de 2016, o novo ministro de música da Memorial, Antônio Henrique Lino Melo e Silva, traçou o roteiro para o Coro:

1) receberá, durante o ano de 2017, instrução musical;

2) cantará, em espetáculos musicados, para treinamento vocal;

3) participará, regularmente, para educação cristã, de cultos dominicais.  Para esta nova oportunidade, foram escolhidos cânticos de Natal. Preliminarmente, devemos observar que poetas, tradutores e compositores tiveram que costurar as vestimentas de prosa e de melodia para que se adequassem ao ambiente reverente dos templos. Na Idade Média, as letras dos cânticos eram classificadas como “noëls” (França), “carols” (Inglaterra) ou “weihnachtslieder” (Alemanha).

Muito tempo antes da apresentação do Coro Infantil a adolescente Ana Júlia dos Santos Cardoso, filha da ministra de música Rosana Maria, escreveu o poema “A menina e o anjo” (ver: Inspiração para viver, p.49, São Paulo: Garimpo Editorial, 2016), que retrata muito bem sua solidão, causada por uma enfermidade, mas que não a impediu de ingressar num curso universitário; no poema, a solidão é amenizada pela repentina a- parição de um anjo. A escolha dos cânticos foi apropriada. Os relatos evangélicos a respeito do nascimento de Jesus certamente causam um impacto benéfico na imaginação infantil. Os cânticos de Wyrtzen, Salum, Mohr, Murray e Houston fazem várias referências aos anjos.

No início desta segunda apresentação, uma pré-ado- lescente leu um texto, convenientemente curto, referente ao significado do Natal, que, nas sucessivas apresentações anteriores, era negligenciado.

Acompanhadas por uma pequena orquestra, as crianças cantaram “Cristãos, regozijai!”, de Don Wyrtzen (1913-1996).

Num cânone de melodia saltitante, as meninas se mexeram muito; isto aprenderam antes da nova orientação.

Seguiu-se o “noël” francês “Les anges dans nos campagnes” (Surgem anjos proclamando), traduzido por Isaac Nico- lau Salum (1913-1993) em 1942, talvez traumatizado pela dramática situação da França ocupada pelos nazistas. Ficou evidente a  necessidade de intensificar o treinamento coral.

O terceiro número foi o conhecidíssimo cântico natalino alemão “Stille Nacht! Heilige Nacht!” (Noite de paz! Noite de amor!), de Joseph Mohr (1792-1848) e Franz Xaver Gruber (1787- 1863), em tradução de W.E.Entzminger, executado com boa dicção e vozes afinadas.

Seguiu-se “Away in a manger” (Num berço de palhas), “carol” americano do século 19, atribuído a James Ramsey Murray (1841-1905); a letra foi traduzida por Joan Sutton (1930- 2015), bem cantada pelas crianças.

O quinto item do programa foi “Adeste Fideles”, com letra portuguesa de James Theodore Houston (1847-1929), conhecida e cantada por católicos, protestantes e evangélicos; teve acompanhamento por 10 flautas-doces (“recorders”).

Terminando o concerto, a menina Isabel Neves foi a solista na repetição coral de “Num berço de palhas”.

Foi um repertório próprio para ser ouvido e cantado por crianças, agora aos cuidados da regente Rosângela de Sousa Neves. Os pais e as mães têm um papel primordial, importante e talvez decisivo para a continuação dos ensaios e das apresentações do Coro Infantil da Memorial. Entretanto, devem ser advertidos pela liderança de que seus filhos participarão de um culto, não de um “show”. Por sua vez, os líderes devem ter a consciência do seu papel: não é o de promover espetáculos para entreter uma congregação de adultos  (ver: artigo “Coro de franquia”, OJB, 05 junho 2016).

Brasília, DF, em 18 de dezembro de 2016. Rolando de Nassau.

2018-02-26T00:27:06+00:00 By |Recitais e concertos|