Nº. 724 – Música episódica (2) – 06 jan 2008, p. 4

//Nº. 724 – Música episódica (2) – 06 jan 2008, p. 4

Nº. 724 – Música episódica (2) – 06 jan 2008, p. 4

 

Doc.JB-724

Música episódica (II)

Rolando de Nassáu

(Dedicado ao leitor Lorenzon Ramos, de Belo Horizonte, MG)

A execução musical que antecede, acompanha ou sucede a dedicação de dízimos e ofertas, embora não seja de curta duração, serve para ornamentar esse incidente da Ordem do Culto e expressar o louvor dos dizimistas e ofertantes.

Em geral, os ministros e diretores de música de nossas igrejas não escolhem criteriosamente as peças de canto e de música para esse item da Ordem de Culto, talvez devido à insuficiência de hinos apropriados.

Num livro publicado em 2003, encontramos 25 modelos de ordens de culto; em quatro deles, não foi prevista a dedicação; em dois, não foi dada oportunidade para canto congregacional; em dois, havia para execução instrumental simultânea; em 17, eram indicados para canto pela congregação os hinos nos. 28, 33, 45, 161, 168, 300, 303, 329, 346, 360, 375, 395, 406 e 426-CC, 301 e 546-HCC, e um cântico, sempre depois da dedicação, dos quais o único parcialmente apropriado é o no. 45 do “Cantor Cristão”.

No “Cantor Cristão” (1971), 33 hinos foram classificados como sendo hinos de gratidão; são os de nos. 42, 45, 46, 73, 90, 119, 121, 122, 124, 125, 127, 128, 131, 132, 133, 134, 167, 205, 225, 324, 329, 375, 385, 390, 391, 396, 401, 402, 403, 406, 408, 410 e 426. As congregações reconhecem o amor de Jesus e por isso dão louvor em 28 desses hinos. Mas os cantores falam realmente de gratidão somente em cinco hinos, os de nos. 45, 46, 90, 324 e 410, nos quais aclamam Jesus como Salvador e querem consagrar suas vidas.

Um dos propósitos do ministério da música é educar a igreja local, especialmente os membros mais jovens, na apreciação da música cristã e da doutrina batista. O ministro de música é mais do que um exímio pianista; ele deve ser um disciplinador da música na igreja.

Os autores e os tradutores dos hinos do “Cantor Cristão” não tiveram a preocupação de educar as igrejas na doutrina da mordomia (atualmentechamada de fidelidade financeira); é bem verdade que a maioria deles pertencia às outras denominações evangélicas.

Excepcionalmente, Henry Maxwell Wright em 1888 traduziu um hino (no. 307 do “Cantor Cristão”), aproveitado 102 anos mais tarde no HCC, contendo uma frase muito significativa: “Não sou meu! A Ti confio tudo quanto chamo meu; tudo em Tuas mãos entrego, pois, Senhor, sou todo teu”.

Alguns pastores mais corajosos, falavam a respeito do dever do crente contribuir com dez por cento (10%) de sua renda mensal, mas não tinham, antes da chegada do HCC, o respaldo da hinodia. Isso explica a lenta evolução patrimonial das igrejas batistas no Brasil.

Martinho Lutero dizia que a conversão experimentada pelo crente deve ser tríplice, sob pena de não haver, de fato, genuína conversão: “a conversão da mente, a conversão do coração e a conversão da bolsa” (ver: Boletim Dominical a Igreja Memorial Batista, “Pastoral”, 14 outubro 2007).

Solitário no meio batista em sua pregação doutrinária, João Falcão Sobrinho, no folheto “Tudo é vosso” e no livro “Mordomia e Missões”, ensinou que a verdadeira adoração a Deus implica na entrega também de nossos recursos materiais. Adorar e louvar não é apenas cantar.

As iniciativas de Henry Wright e João Falcão frutificaram.

No “Hinário para o Culto Cristão” (1991), os cantores oferecem seus bens (hinos nos. 241, 243, 244, 246, 247, 422, 429, 430, 435 e 442). É um sentimento de gratidão com resultados concretos: o cantor consagra e entrega os seus bens.

Mas nos hinos de nos. 419, 420, 423, 424, 426, 427, 431, 433, 434, 436, 437, 438, 439 e 440 os cantores consagram quase tudo, menos os seus bens …

Todo o hino de Jilton Moraes (241-HCC) expressa a gratidão concreta do cantor: “Aceita, agora, Senhor, meu Deus, todos os bens que são meus, e são Teus. Tudo o que eu tenho venho ofertar, pois quero, assim, Te servir e honrar.

Com alegria venho entregar minhas ofertas a Ti sobre o altar. Pois nada, Mestre, tenho em haver; “Melhor é dar, sim, do que receber”. O meu tesouro entregarei a Jesus Cristo, Senhor, Deus e Rei. Seu reino santo quero manter e a Ele só dedicar o meu ser”. É um dos melhores hinos do HCC.

Jilza Feitosa em seu hino (243-HCC) promete: “de tudo o que tenho, que eu possa trazer o melhor, sem medir”. A gratidão exige excelência.

Joan Sutton (244-HCC) foi objetiva em seu apelo e em seu testemunho: “Oh, trazei à casa do tesouro, dízimos e ofertas com amor! … Eu Lhe dediquei a minha vida, todos os talentos, tempo e bens”.

Werner Kaschel e Jilton Moraes (246-HCC), confessando-se “santuários de Deus”, só poderiam escrever estas palavras: “O que sou e o que tenho, eu dedico ao meu Senhor. Minha vida eu entrego e os meus bens, com todo o amor”.

Boa educadora, Joan Sutton em seu hino (247-HCC) entendeu que o próprio Deus é quem nos inspira a gratidão: “Vem nos ensinar a dar nossos bens e nosso amor”. Muito crente só oferta se a igreja promover campanha de gratidão …

Fred Spann e Jaubas Freitas recomendam, no hino 422-HCC, um tributo espiritual a Deus: “Tudo o que sou e o que vier a ser eu ofereço a Deus”.

Leônidas Philadelpho Gomes da Silva, no princípio do século 20, compreendeu o sentido real da gratidão: “Minha prata e ouro toma, nada quero Te esconder” (429-HCC). Foi um dos poucos hinógrafos do CC com este ideal.

Joan Sutton, no hino 430-HCC, mais uma vez demonstra sua preocupação: “Darei meus bens a Cristo. O pouco que eu tiver”. Ela não sonega.

Jilton Moraes, inspirado no exemplo da viúva elogiada por Jesus, escreveu, no hino 442-HCC: “mui pobre sou, tudo, porém, venho aqui Te ofertar”.

Nas visitas a várias igrejas, temos observado que, precedendo a dedicação dos dízimos e das ofertas, em mais da metade das oportunidades, não é cantado pela congregação qualquer hino; quando a congregação canta, menos de um décimo é de hinos apropriados à ocasião; entre estes hinos do HCC estão os de nos. 241 – “Aceita, agora, Senhor, meu Deus”, 435 – “Não sou meu” e 442 – “Perto, mais perto”, que tratam de dedicação e consagração. Também é cantado o hino no. 337, que promete “chuvas de bênçãos”; por isso, alguns dizimistas e ofertantes agradecem …

Até certo ponto, é episódica a música executada na dedicação de dízimos e ofertas; deve ser breve, só enquanto durar a arrecadação das oferendas.

Os hinos são cantados sempre antes da coleta. Deve ser evitado o solo vocal e o canto congregacional durante a deposição dos dízimos e das ofertas. Depois da coleta, cabe apenas a execução instrumental dos hinos acima indicados.

Cremos que as observações e sugestões contidas neste artigo poderão contribuir para melhor aproveitamento do tempo destinado à coleta, pelo uso da hinodia apropriada.

 

(Publicado em “O Jornal Batista”, 06 jan 2008, p. 4).

 

2018-02-21T14:04:42+00:00 By |Formas e estilos musicais|