Nº. 734 – PM na EBD – 07 dez 2008, p. 4

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Nº. 734 – PM na EBD – 07 dez 2008, p. 4

 

Doc.JB-734

MP na EBD

Rolando de Nassáu

(Dedicado ao leitor Sérgio Marques Garcia)

Em 1901, para a instrução e o doutrinamento dos Batistas no Brasil foram criados uma editora e um jornal.

As lições para a Escola Dominical, escritas pelo pastor Francisco Fulgêncio Soren, em 1902 começaram a ser publicadas em “O Jornal Batista”.

A partir de 1903 foi editado o jornalzinho “O Infantil”, para a instrução bíblica das crianças.

Antes da fundação da Convenção Batista Brasileira, o missionário Salomão Luiz Ginsburg mantinha, em “O Jornal Batista”, uma página dedicada aos estudos pela mocidade.

Na primeira assembléia convencional, em junho de 1907, foram organizadas a Junta da Casa Publicadora Batista e a Junta de Escolas Dominicais; esta continuaria publicando “O Infantil” e as “Lições Dominicais para Adultos”; logo em seguida, surgiria a “Revista de Adultos”, redigida pelo missionário Otis Pendleton Maddox.

Em 1911, fundiram-se a Junta de Publicações e a Junta de Escolas Dominicais, sob a direção do missionário William Edwin Entzminger.

A viúva do banqueiro J. S. Carroll em 1913 ofertou 30 mil dólares para a compra de um terreno, onde seriam instalados a oficina gráfica e o escritório da Casa Publicadora Batista. O terreno foi comprado no bairro do Riachuelo, na cidade do Rio de Janeiro (DF). Ginsburg, que era o gerente, ficou tão entusiasmado com a sede própria da CPB que elaborou para a sua inauguração, em 1916, o hino “Hinos e cânticos de louvor entoemos hoje ao Salvador”, cantado pelo Coro da Primeira Igreja Batista do Rio de Janeiro, sob a regência de Daniel Cordes (ver: OJB, 16 dez 1915, p. 06). Para ficar próximo do local de trabalho e fazer economia de aluguel, Ginsburg mudou sua residência para o novo prédio da CPB. Ele estimou que a sede teria lugar suficiente para desenvolver o trabalho durante os próximos 25 anos, mas em 1921 o espaço já era pequeno. Além do prédio, a junta de Richmond providenciou a compra de máquina compositora “Linotype”.

Em 1918 surgiu a “Revista da Mocidade”, redigida em Vitória (ES) por Loren Reno e Almir dos Santos Gonçalves.

No ano seguinte realizou-se, no Colégio Batista, no Rio de Janeiro (DF), o primeiro instituto de escolas dominicais.

Em 1920 havia 221 igrejas (com 20 mil membros) e 322 escolas dominicais (com 15 mil alunos) no Brasil.

Em 1921, Ginsburg escreveu que “O Jornal Batista” e os livros e revistas da CPB exerciam grande influência sobre o povo.

Em 1922, três juntas denominacionais foram unificadas na Junta de Escolas Dominicais e Mocidade (atual JUERP). Era o início de uma fase de progresso na educação religiosa dos Batistas no Brasil; a CPB, subordinada à junta, editaria livros e literatura periódica, principalmente para uso das escolas dominicais e das uniões de treinamento das igrejas batistas.

Neste relato muito sucinto, procuramos assinalar os fatos marcantes na história dos primeiros 20 anos (1901-1921) da educação religiosa em nossa Denominação.

Muito devemos aos missionários-editores e aos obreiros nacionais Bagby, Z. C. Taylor, Teixeira de Albuquerque, Ginsburg, Anna Bagby, Emma Morton , Entzminger, J. J. Taylor, F. F. Soren, Deter, Hamilton, Dunstan, J. Mein, Reno, Almir Gonçalves, Watson, Hites, Stanton, Kate White, Miranda Pinto, Stover, T. R. Teixeira) pela contribuição que deram ao fortalecimento e à divulgação das doutrinas bíblicas e batistas. Isto exigiu milhares de dólares ofertados pelos Batistas da convenção do Sul dos Estados Unidos, além da inteligência, capacitação, esforço e até sacrifício de centenas de obreiros. Devemos honrá-los, prestigiando as publicações denominacionais. Durante décadas, pelo menos até 1990, batistas de todas as faixas etárias acostumaram-se a levar para os estudos dominicais nas igrejas os três documentos básicos de sua fé (a Bíblia, o “Cantor Cristão” e a revista da Escola Bíblica), publicados pela CPB / JUERP, visando o doutrinamento e a evangelização. Esses documentos marcavam a identidade denominacional.

Tendo em mente o passado grandioso da Educação Religiosa em nossa Denominação, fomos surpreendidos por um folheto, publicado por uma igreja, que se propõe a divulgar, entre os alunos da EBD, dados a respeito de ritmos da Música Popular. Nunca soubemos que alguma igreja tivesse publicado algo sobre Música Sacra, para, no dizer de J. S. Bach, “a Deus honrar e, ao próximo, instruir”. A MP na EBD despreza o trabalho de décadas da CPB / JUERP.

O compilador dos dados usou a Wikipedia, fonte pouco confiável.

Deveria ter consultado as obras de Mário de Andrade, Almeida, Cascudo, Alvarenga, Guerra Peixe e Tavares de Lima.

Evidentemente, não é nossa pretensão entrar novamente no campo da etnomusicologia (ver: nosso artigo “Por que não tivemos hinodia própria?”, (JB, 29 ago 82, p. 2), para ajudar o compilador em seu afã de introduzir gêneros da música popular em nossas igrejas.

Neste momento crucial para a execução musical nas igrejas, nossa preocupação é com o aproveitamento, indiscriminado e sem discernimento, dos ritmos recomendados no folheto. Seu aproveitamento dificulta ou impede o culto, a adoração e a edificação espiritual? O ritmo escolhido incita emoções incompatíveis com a moral cristã? Essas questões não foram objeto dos comentários.

Também não lembram que aos gêneros “choro” e “lundu” o genial Villa Lobos deu um toque erudito. E que Chico Buarque de Hollanda, em 1976, compôs o “chorinho” (choro cantado) “Meu caro amigo”.

O folheto recomenda o ritmo acelerado do “frevo”; na EBD seria exibido por um grupo o estilo coreográfico da capoeira; por um indivíduo, a performance acrobática. Omitiu o fato de que o “maracatu” é um cortejo que sai cantando e dançando, após ter prestado homenagem a N. S. do Rosário …

Não ensinou que existem l3 modalidades de “samba” …

O compilador não esclareceu que a “bossa nova” foi perdendo suas características originais: intimismo do tema, letra coloquial, economia de instrumentos, acordes alterados, saltos melódicos e ritmo deslocado da melodia.

Sobre a MPB, não explicou que esta sigla não se aplica a toda e qualquer música popular. Imitando a “pop music” norte-americana, a música industrializada e agora globalmente comercializada no Brasil ganhou de Ari Barroso esse nome. Agora, abrange toda música feita no Brasil, desde que seja cantada em português.

Um ponto muito importante não alcançado pelo compilador: durante todo o dia e toda a noite, os ímpios (os crentes também) ouvem a MP; não precisam ir à EBD para ouví-la …

 

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(Publicado em “O Jornal Batista”, 07 dez 08, p. 4)

 

2018-02-21T14:07:17+00:00 By |Formas e estilos musicais|