Música – Nº. 595
Rolando de Nassáu
Vimos a fita de video produzida pela JURATEL na qual foi gravado o programa informativo da Junta de Missões Nacionais, realizado por ocasião da Assembléia da CBB, em janeiro de 1996, em Natal, RN.
O locutor avisa que “nada há-de ficar oculto”, mas foi justamente o que aconteceu: além da precariedade técnica da filmagem, a inexistência de documentação deixa o espectador sem saber quais são os participantes do programa. Várias vezes impropriamente chamado de “culto”, o espetáculo é uma mistura de relatórios falados, execução musical, canto coral e dança. Embora a “mistura” não seja uma virtude, foi uma forma original, concebida com criatividade, de apresentar informações sobre a obra missionária dentro do Brasil.
O locutor excedeu-se ao indagar: “Ordem-de-Culto com literatura de cordel? Por que não!?”. O dramaturgo nordestino Ariano Suassuna observou: “Até agora, os cantadores e os folhetos de cordel têm revelado uma impressionante capacidade de resistência” (ver: “VEJA”, 03 julho 96, pp.7-9). Querem os Batistas do Nordeste tornar-se o último bastião da literatura de cordel? Outro exagêro: chamá-la de “melhor literatura do Brasil” e, o repente, de “melhor meio de comunicação”.
A fita dura 60 minutos, sendo 34 dedicados a partes musicais e 26 deixados às falas de missionários procedentes do Nordeste; música composta e coreografia desenhada para entretenimento dos convencionais.
Os autores, com algum êxito, procuraram um estilo simples, com uma sincera devoção aos sons, às aparências e aos odores de seu ambiente. Um autêntico cantador em seu canto adverte: “Se você não aprecia, não fique falando mal”. A variedade e pluralidade de estilos, a audição e visão de sons e movimentos diferentes não nos causaram impacto. Os batistas nordestinos apresentaram alguns tipos de danças e cantos folclóricos. Ficaram aquém da nossa expectativa: faltaram instrumentos típicos (rabeca, sanfona, viola, ganzá, pandeiro), mas foram usados teclados, cordas eletrificadas e a indefectível bateria de “rock”. Ainda citamos Suassuna: “A guitarra elétrica é uma bandeira da descaracterização do Brasil”.
Em tudo sentimos que os autores produziram uma composição musical-coreográfica destinada ao efêmero entretenimento. Quanto à sua apresentação num templo, durante um culto, absolutamente, não! A manifestação da cultura batista pode ser feita extra-muros, como forma alternativa de propaganda evangelística. Dentro da igreja, toca as raias da irreverência!
Será que em Manaus, executando “Floresta Amazônica”, de Villa-Lobos, moças e rapazes emplumados cantarão “Auê catú perê! Auê catatú perô?” … Teremos o “Jesus Amazônico” …
(Publicado em “O Jornal Batista”, 29 dez 1996, p. 8).