Nº. 677 – Rick Muchow in Brazil – 07 mar 2004, p. 4

//Nº. 677 – Rick Muchow in Brazil – 07 mar 2004, p. 4

Nº. 677 – Rick Muchow in Brazil – 07 mar 2004, p. 4

 

Doc.JB-677

“Rick Muchow in Brazil”

Rolando de Nassáu

Soubemos que, num festival realizado em setembro de 2003, em São José dos Campos (SP), foram lançados pelo Ministério com Propósitos os dois volumes do CD “Rick Muchow in Brazil”.

Adquirimos os dois volumes. Que decepção! Que frustração! Imaginávamos que no CD tinham sido gravados os “shows” de Rick Muchow no festival.

Trata-se da seleção de músicas que constavam de “Healing grace”, “Live”, “Promises”, “Home” e “All about love”, os cinco primeiros CDs de Muchow, que ainda circulam nos EUA. Na capa, sobre as cores nacionais, aparecem o formato do mapa do Brasil e a fotografia de Muchow em atitude coreográfica; esses detalhes levam o consumidor à falsa idéia de que o CD foi gravado “ao vivo” em São José dos Campos (SP).

O Ministério com Propósitos representa os “Purpose Driven Ministries” e está vinculado à “Saddleback Church” de Rick Warren; ele quer disseminar no Brasil as “Purpose Driven Churches”, as igrejas PDC.

Esses ministérios arrebataram, em 1997, a bandeira do trabalho missionário no Brasil, empunhada desde 1871 por Richmond, levando 100 pastores brasileiros para Saddleback. A nova onda aculturadora veio precedida pelo livro “Uma Igreja com propósitos”, de Rick Warren (Editora Vida) (OJB, 03-09 jan 2000, p.8); desde então, sermões pastorais e mensagens nos boletins das igrejas passaram a divulgar os objetivos de Rick Warren, que se tornou o eclesiólogo do iniciante século 21.

Já no próprio nome da igreja (“Saddleback Church”), onde a denominação batista não é mencionada, fica evidente o propósito supra-eclesiástico e supra-denominacional do movimento. É uma mega-empresa, sediada na California (EUA), que está investindo enormes recursos humanos e materiais, e aplicando muitas técnicas de “marketing”. Rick Warren atraiu a atenção de pastores e líderes quando tocou num ponto: o crescimento da igreja local. E está exportando sua eclesiologia e a cultura musical norte-americana.

Entre os preletores do festival de São José dos Campos (SP) estava Rick Muchow, acompanhado de Rick Baptista.

Rick Muchow passou sua meninice no Greenwich Village, famoso bairro de artistas em New York, onde se interessou pela música popular; estudou guitarra e envolveu-se no teatro musicado, chegando a participar do musical “Godspell”; sua formação musical é profana. Rick Warren escreveu que o “rock” dos anos 60 e 70 forjou os valores dos americanos que agora estão em seus 30 ou 40 anos de idade; é o caso de Rick Muchow. Na Califórnia, viveu ao som do “jazz”, onde desde a década de 60 florescia o estilo “West Coast” (Jimmy Giuffre, Bud Shank, Gerry Mulligan, Chet Baker, Clifford Brown); foi tão afetado por esse estilo que seu oitavo CD, o mais recente, intitula-se “West Coast Worship”. Julie Carr, em sua resenha, afirmou que “é perfeito para ouvir no carro, a caminho do trabalho” …

Em 1987, Muchow ingressou na “Saddleback”, a fim de desenvolver, a pedido de Warren, a chamada música para o culto “contemporâneo”; a igreja serve de laboratório de pesquisa musical para Muchow. Saindo de “Saddleback” (Orange, Califórnia), a onda avassaladora espraiou-se pelos seminários de Golden Gate (San Francisco, Califórnia), Kansas City (Missouri), Louisville (Kentucky), Wake Forest (North Carolina), Fort Worth (Texas) e New Orleans (Louisiana). Atualmente, é o dirigente musical das conferências das PDC e da empresa “Encouraging Music”, que mantém uma loja virtual na Internet.

No que se refere ao canto e às letras, o que há de melhor no CD de Muchow é imitação da música coral da “Mount Moriah Baptist Church”, do Harlem de New York. Quanto à instrumentação e às músicas gravadas em Saddleback, não sentimos qualquer diferença com alguma gravação de música popular norte-americana feita no “Fillmore West” (San Francisco).

Rick Warren escreveu que os participantes dos cultos em Saddleback nunca sabiam qual seria o próximo estilo musical; quem ouve o CD de Muchow também não sabe. Muchow usa vários estilos e versões; em “Live”, há uma versão “gospel” (tradicional) e uma versão “rock” (contemporânea) para a mesma canção “God can make it right” (mas Muchow faz errado); em “Promises”, há vários estilos. Sua poesia é rarefeita e sua música é extenuante. Quem canta, à maneira de um “mantra”, fica insensibilizado.

Os números são precedidos e acompanhados por gritos, assobios e palmas ritmadas da platéia; isto caracteriza o culto “contemporâneo”.

 

Das 16 faixas, são recomendáveis apenas “Healing Grace” e “All that is God”; nas outras 14 faixas, os versos são repetidos à exaustão; cantados num ritmo dançante (o exemplo vem de Muchow em sua coreografia), num estilo jazzístico com muito “swing”; em duas, há solos de bateria e de saxofone; às vezes, o piano é tocado imitando o “stride” de Willie “the Lion” Smith; “Road to recovery”, com solo de guitarra, lembra gritantemente o “rock” de Elvis Presley.

 

A mediocridade e vacuidade do repertório musical de Rick Muchow seriam corrigidas se lhe fosse aplicado o pensamento de uma das canções: “Fill my mind with Your greatness, oh God” (Enche a minha mente com a Tua grandeza, ó Deus) …

04 dez 2003

 

2018-02-21T14:11:29+00:00 By |Gravações|