Música – Nº. 678
Rolando de Nassáu
Voltando a Brasília, depois de ter perlustrado com brilhantismo o curso de mestrado em música e ter sido graduado pelo seminário teológico batista do Sudoeste dos EUA, sediado em Fort Worth (Texas), Anderson Silveira Motta, ministro de música da Igreja Memorial Batista, emprestou-nos o CD com a excelente “performance” do “Oratorio Chorus”, da qual participou como corista-tenor. Na solenidade da colação de grau, executado o hino “I AM Thine, O Lord”, letra de Fanny Crosby e música de Anderson, foi assinalado o fato de Anderson ter elaborado a tese “To the Praise of His Glory” para obter o mestrado em composição.
O de Fort Worth é o maior dos seis seminários mantidos pela convenção batista do Sul dos EUA; em dezembro de 2003, foram graduados 274 seminaristas, dos quais 11 na área musical. Criticar a música sacra de Fort Worth é uma tarefa difícil. En passant, lembramos Adriana Lisboa, que escreveu: quando um escritor responde a uma crítica (geralmente acontece motivado por uma resenha desfavorável), “mais do que angariar solidariedade ele causa constrangimento”. Mas criticar Rick Muchow é fácil …
Como mediador entre o músico e o público, o crítico oferece interpretações, análises e comparações. As comparações são inevitáveis; o crítico a elas recorre, julgando a partir de modelos semelhantes, diferentes ou relacionados, quando as obras ou os intérpretes exigem avaliação de suas qualidades.
Comparar pode significar: 1) “pôr em confronto”, “cotejar” (componere, de Publius Vergilius Maro); 2) “pôr em ordem”, “separar” (comparare, de Titus Livius); 3) “pôr juntamente”, “juntar” (componere, de Marcus Tullius Cícero). Desde logo, comparando a igreja da rua larga (“Broadway”) de Fort Worth, onde pontifica o organista Albert Travis, com a de Kansas City, na qual o pianista Mark Hayes faz arranjos de hinos em ritmo de “jazz”, do cotejo sairá anulado o pianista, posto em confronto o pequeno diante do grande intérprete.
Em seguida, devemos separar a escola-de-música do seminário de Fort Worth, que procura a excelência no preparo de músicos-de-igreja, de uma escola, seja brasileira ou americana, que se propõe a oferecer aos seminaristas a “música cristã contemporânea”. Segundo informações, o ensino musical em Louisville é “tradicional”; em Wake Forest, é “renovado”; na Costa Oeste (Golden Gate e Saddleback), é “contemporâneo”.
O “Oratorio Chorus”, que em 05 de maio de 2002, na “Broadway Baptist Church”, em Fort Worth, gravou música sacra no CD que comentaremos, é composto de 196 coristas, regidos por C.David Keith, ministro de música interino nessa igreja, professor de regência e regente titular do coro sinfônico e da orquestra de câmara do seminário, bem como regente convidado da orquestra sinfônica da cidade de Fort Worth. O coro é acompanhado por Albert Travis, organista do seminário e da igreja da “Broadway”. Juntamente com o “Festival Brass” (oito metais, tímpanos e percussão), executou os “Magnificat” de Paul Patterson (1947- ) e Jonathan Willcocks (1953- ), e antemas de John Rutter (1945- ).
Ainda para comparar, podemos juntar esses “Magnificat”: ambos foram compostos, em cinco movimentos, para coro a quatro vozes, conjunto de metais, percussão e órgão; a execução de cada um dura 28 minutos; Patterson e Willcocks usam uma instrumentação esplendorosa e uma escrita homofônica, dando ênfase à fanfarra, inspirada possivelmente pelas obras de Arthur Bliss (1891-1975) e de Benjamin Britten (1913-1976); pertencem ao estilo pomposo e tonitruante da música coral vitoriana. Os antemas arranjados por Rutter procederam de hinos de Wesley; ainda conservam o tom solene da hinodia inglesa; Rutter também compôs um “Magnificat” (1990).
Merece destaque a atuação do organista Albert Travis, tocando o magnífico instrumento da “Broadway”; supomos tratar-se de um órgão de configuração francesa, talvez com mais de 10 mil tubos; é capaz de preencher o ambiente acústico do templo.
Pelo que ouvimos, temos certeza de que em Fort Worth, no seminário e na igreja da “Broadway”, ensinam e praticam, em alto nível técnico e artístico, a genuína música sacra, a “magna musica”.
(Publicado em “O Jornal Batista”, 04 abr 2004, p. 4).