Música – Nº. 707
Rolando de Nassáu
(Dedicado ao leitor Daltro Keidann, de Porto Alegre, RS)
O bispo metodista Nathanael Inocêncio do Nascimento, organizador do Coral Evangélico de São Paulo, promoveu, em três récitas, em 1951, a apresentação do oratório de Léo Schneider no Teatro Municipal da capital paulistana, sob a regência do compositor. Posteriormente, o oratório foi interpretado na Igreja Metodista Central de Belo Horizonte.
A estréia em Brasília aconteceu em 05 de abril de 1980, no templo da Igreja Presbiteriana Independente Central (SGAS-616); o oratório foi executado pelo coro misto de igreja congênere, procedente de Londrina (PR), regido por Delmar Ferreira Martins, atuando a soprano Maria Alvarez Assis e a pianista Sílvia Bacarat de Godoy (ver: “Nassau – Dicionário de Música Evangélica”, pp. 33, 81, 115, 156, 197 e 198).
Em Porto Alegre, terra natal do compositor, foi executado, em 28 de maio de 2006, pelo coro “Promusicata”, sob a regência de João Fernando de Araújo, tendo como solistas o barítono Ricardo Barpp, a soprano Maíra Lautert e o tenor Eduardo Bighelini, acompanhados pela organista Anne Schneider. Com estes executantes, tinha sido gravado um CD, que recomendamos aos prezados leitores, na igreja “Martin Luther”, em 27 de novembro do ano passado.
Léo Schneider (1910-1978), organista, compositor e professor luterano, estudou na escola de música da Southern Methodist University, em Dallas (Texas, USA). Profundo estudioso da Bíblia (na década de 60 era superintendente da Escola Dominical da Igreja Luterana de Porto Alegre), usou a forma do oratório sacro para expressar a sua arte musical; compôs cinco oratórios: “Calvário” (1943), “São João Batista” (1946), “Purificação do Templo” (1947), “Conversão de São Paulo” (1948) e “Jesus Nazareno” (1950).
A partitura da obra em epígrafe foi publicada em 1966 pela Imprensa Metodista (São Bernardo do Campo, SP).
Anne Schneider, filha do compositor, é graduada em Piano, Órgão e Filosofia, e organista titular da Igreja “Martin Luther”. Desde 1989 vem fazendo turnês anuais na Europa e América para tocar em grandes órgãos de catedrais e participar de festivais internacionais. Em 2000 lançou um CD.
O “Promusicata”, fundado em 2003 por Arnoldo Todt e Vera Cristina De Los Santos, tem divulgado oratórios em seus concertos; seu regente é formado em Regência Coral e Orquestral pela UFRGS; os solistas têm belas vozes, cultivadas por eminentes professores (Cotrubas, Pavarotti, Ballestero).
Encontramos diferenças entre a execução que ouvimos em 1980 e a gravada em 2005; a orquestra prevista na composição foi substituída pelo órgão de tubos, eficientemente tocado por Anne Schneider.
O oratório compreende oito números: 1) “João prega no deserto” – precedido por majestoso trecho organístico, é feito, pelas vozes dos solistas, o relato evangélico (Lucas 3:1-3), seguido pelo coro, “Arrependei-vos!”; 2) “João anuncia a vinda de Jesus” (João 1:19-27 e Mateus 3:11) – participam no diálogo a soprano e o coro. Vozes do coro intervêm para indagar: “Por que batizas?”, enquanto o tenor assume o papel de João, o Batista, para afirmar: “Este é Aquele que vem após mim”; o coro, com vivacidade, complementa: “Esse vos batizará”, e o órgão, fortemente, finaliza o trecho; 3) “O batismo de Jesus” (João 1:29 e Lucas 3:21-22) – anunciado docemente pelo órgão, é relatado pela soprano solista, pelo coro e pelo barítono; 4) “Prisão de João Batista” (Mateus 14:3-5 e Lucas 3:19-20) – é mais significativo e maior o trecho ocupado pela música de órgão, executado nervosamente, precedendo o recitativo do barítono, “João dissera a Herodes”; 5) “João envia dois discípulos seus a Jesus” (Mateus 11:1-6 e Lucas 7:18-23) – o órgão ilustra a caminhada, e os discípulos, em coro, com ênfase, interrogam: “És Tu aquele que havia de vir?”; o tenor, no papel de Jesus, responde: “Ide e anunciai a João”, seguido pelo coro, “Bem-aventurado”; 6) “Jesus fala à multidão acerca de João” (Mateus 11:7-10 e Lucas 7:24-27) – o órgão prepara os recitativos do Evangelista e de Jesus, entoados alternadamente pelo tenor e pelo barítono; 7) “A morte de João Batista” (Mateus 14:6-12) – o órgão sugere a festa de aniversário de Herodes, na qual é feito o juramento pela morte de João, o Batista, por Herodes (barítono) e Herodias (soprano); o órgão, num “andante”, faz o ouvinte imaginar a dança da filha de Herodias e a degola de João no cárcere; 8) “Invocação” – é uma veemente prece pelo arrependimento e pelo apego à Verdade, que foram corajosamente pregados pelo predecessor de Jesus Cristo.
O nosso é o único dicionário de música que reconhece a pessoa e a obra de Léo Schneider no cenário musical erudito. Por que tantas obras congêneres estrangeiras são executadas nas igrejas evangélicas brasileiras? Por que não é divulgado este oratório, que honra a cultura musical dos Evangélicos no Brasil?
(Publicado em “O Jornal Batista”, 05 nov 2006, p. 4).