No. 847 – “A cantata de Verner Geier para o domingo da Ressurreição” – 03 jun 18

//No. 847 – “A cantata de Verner Geier para o domingo da Ressurreição” – 03 jun 18

No. 847 – “A cantata de Verner Geier para o domingo da Ressurreição” – 03 jun 18

Doc.JB No. 847

Rolando de Nassau

A cantata de Verner Geier para o domingo da Ressurreição

(Dedicado à leitora Mary Geier, de Brasília, DF)

 

São raras as cantatas sacras a respeito da Páscoa, em celebrações na Igreja Católica Romana ou em igrejas protestantes.

Johann Sebastian Bach (1685-1750) em 1707 tomou como modelo o “concerto” de Johann Pachelbel 1653-1706), intitulado “Christ lag in Todesbanden” (Cristo jaz preso pelos laços da Morte). Talvez tenha tocado ao órgão uma “fantasia” (BWV-695) sobre o esboço da sua futura cantata.

Compôs, em 1708, sozinho, uma obra para a Páscoa; na ocasião tinha apenas 23 anos de idade; foi uma das primeiras cantatas de Bach; não intitulou essa obra de “cantata”, mas de “concerto”, para ficar de acordo com a tradição da Alemanha setentrional e central. A obra de Bach se diferenciava das cantatas produzidas em Leipzig naquela época.

O texto limitou-se à letra de Lutero, escrita em 1524 (ver: “Evangelisches Gesangbuch”, no. 101), e a música baseou-se integralmente numa melodia medieval (ano 1.160, século 12), procedente de Salzburg (Áustria). Bach interpretou, musicalmente, o pensamento de Lutero expresso nas sete estrofes do hino.

A cantata pascal de Bach “é uma obra-prima de interpretação textual barroca” (ver: Alfred Dürr, As cantatas de Bach, pp.392-399. Bauru, SP: Edusc, 2014).

Como escreveu Jacques Chailley (ver: Les Passions de J.S.Bach, p.268. Paris: 1963), “acima da veemente dor da humanidade, paira a cristalina e serena melodia de igreja”.

Compostas também para a Páscoa, encontramos as cantatas “Gott hat dem Herrn auferweckt” (1756, H-803) e “Anbetung dem Erbarmer” (1784, H-807), de C.P.Emmanuel, e “Erzittert und fallet” (F-83), de .Friedemann, filhos de J.S.

Bach, e a cantata “O Haupt voll Blut und Wunden” (1830), de seu admirador e divulgador Felix Mendelssohn.

No culto dominical matutino de 1º. de abril de 2018, na Igreja Memorial Batista, foi apresentada a cantata “Cristo vive!”, de Verner Geier (1950 ), executada pelo “Madrigal”.

Em boletim especial, foi erroneamente anunciada uma “cantata de Páscoa”. Torna-se oportuno esclarecer: madrigal é uma peça de música profana para vozes, em que há uma alternância de tons tristes e alegres; esta forma foi cultivada por Jacob Arcadelt, Roland de Lassus, William Byrd e Claudio Monteverdi, entre os séculos 16 e 17; alguns compositores escreveram madrigais espirituais com finalidade religiosa.

Verner Geier é hinógrafo (HCC-380, 1980; 407, 1983; 311, 1986) e compositor batista, gaúcho de Santo Ângelo e Ijuí (RS), autor da coletânea “Salmos em Coro” (JUERP, 1988) e de “Enquanto aqui viver” (1967); produziu a maior parte de suas composições (metrificações e paráfrases) com base na Bíblia.

Ele foi ministro de música da PIB de Mesquita e da IB de Acarí, no Rio de Janeiro (RJ), da PIB de Ijuí (RS), da IB Central de Taguatinga e da IB do Lago Norte, em Brasília (DF).

Verner graduou-se bacharel em música no STBSB e em composição e regência na Universidade de Brasília.

Foi dada oportunidade para ser apresentada, por coros reunidos e orquestra, a obra coletiva “Era uma vez uma cruz …”; em sua elaboração participaram 20 pessoas! Trata-se, na verdade, de um “medley” (miscelânea vocal ou instrumental; seleção de melodias populares no século 19).

“Cristo vive!”, de Verner Geier, é uma cantata, em cinco partes, baseada nos relatos evangélicos de Mateus, Marcos, Lucas e João; sua execução dura 24 minutos.

Atuaram: Antônio Henrique Lino Melo e Silva (regente coral), Moisés de Miranda Barreto (regente congregacional), Helmuth Warkentin (narrador), Thales Souza Silva (pianista), Rodrigo Machado Guimarães (organista), Claudeth Lemos Ribeiro (contralto solista), Cristiane Falco Corrêa de Sá Carneiro (soprano solista), 14 vozes femininas e 12 masculinas.

Devido a enfermidade, assistimos o culto da Memorial por meio da transmissão “Streaming” ao vivo (www.imbb.org.br/); à medida em que se processava a cantata, anotamos as nossas impressões sobre o conteúdo literário e a expressão musical; foram as seguintes:

  1. “Aleluia, Cristo vive!” Na execução do “Madrigal”, acompanhado pelo órgão, uma melodia intranquila permitiu-nos sentir o temor das mulheres (as duas Marias e Salomé, no relato de Marcos) de serem vistas, e a preocupação com a dificuldade de abrir o sepulcro de Jesus, “no primeiro dia da semana” (domingo, na semana judaica).
  1. “O sepulcro está vazio!” As mulheres se alegram ao constatar que o sepulcro estava vazio, mas logo ficaram atemorizadas ao verem o anjo. A música inicialmente cria um ambiente alegre, porém instigante, um misto de temor e alegria, conforme o estilo de um madrigal.
  1. “Porque buscais entre os mortos?” A melodia reflexiva faz com que as mulheres no relato evangélico e os ouvintes no santuário da Memorial se lembrem das palavras de Jesus a respeito de Sua morte e ressurreição.
  1. “Aleluia, Cristo vive! Ressuscitou!” As mulheres tinham levado, exultantemente, as boas novas aos discípulos, que acharam estarem elas delirando.

A soprano Cristiane Falco Corrêa de Sá Carneiro e a contralto Claudeth Lemos Ribeiro, em dueto gracioso e convicto, representaram as reações das mulheres de Jerusalém que testemunharam sobre o túmulo vazio.

Será que a plateia na Memorial acreditou no relato das solistas, neste trecho, e dos coristas, no final da cantata?

  1. “Cristo ressuscitou, aleluia!” Na conclusão, tivemos a apoteose; tomando o exemplo de John Stainer, a congregação foi convidada por Verner a participar efusivamente da alegria pela ressurreição de Jesus Cristo, sem precisar recorrer ao refrão “Feliz Páscoa”!

 

(Publicado em “O Jornal Batista”, de 03 de junho de 2018)

 

 

 

 

2018-08-06T18:30:39+00:00 By |Recitais e concertos|