No. 850 – “Fake News” – 02 set 18

//No. 850 – “Fake News” – 02 set 18

No. 850 – “Fake News” – 02 set 18

Doc.JB – No. 850

Rolando de Nassau

“Fake News”

 

A propagação de “notícias falsas” (hoje estão na mídia, sob o nome inglês de “fake news”) é um costume antigo, que vem da Antiguidade.

Antes da confusão na torre de Babel (a “Trump Tower” da época), o mundo tinha uma só língua e um só idioma.

Jó ponderou que o ímpio escondia o mal debaixo de sua língua, mas o seu mal seria descoberto. O Salmista lembrou que Deus poupa os fiéis da contenda das línguas, mas advertiu-os a guardar suas línguas e os seus lábios de falarem dolosamente. Pelo menos um crente prometeu fechar a sua boca com uma mordaça, enquanto o inimigo estivesse diante dele. O Salmista sabia que a língua dos ímpios velozmente percorre a terra, algum tempo antes de existir a Internet. Salomão afirmou que as palavras do difamador são como bocados doces, que penetram até o íntimo das entranhas; que a língua mentirosa dura só um momento, e que a língua perversa abate o espírito do homem.

O poeta latino Publius Vergilius (70 a.C.-19 a.C.), tão importante quanto Dante na literatura ocidental, escreveu que o boato era “a mais veloz das pragas malignas”.

Na Era Cristã, Tiago, na década de 50, afirmou que se alguém se considerava religioso, mas não refreiava a sua língua, praticava uma religião vazia e sem valor; ele comparou a língua com o fogo que inflama todo o corpo humano; isto também significava que a pessoa religiosa devia manter a sua palavra empenhada, para poder ser uma pessoa digna de crédito.

O apóstolo Paulo recomendou que pastores e diáconos não tivessem língua dobre e dupla atitude. Tito aconselhou que cada crente tivesse uma linguagem sã e irrepreensível.

Em 1875, a hinógrafa Fanny Jane Crosby (1820-1915) preparou um hino de finalidade prática para a vida do cristão, que o tradutor Henry Maxwell Wright (1849-1931) adaptou à mentalidade dele e dos evangélicos brasileiros, com estas palavras: “Sabeis falar de tudo que neste mundo há; falamos do mau tempo, do frio e do calor. Irmãos! Falemos de nosso Salvador!” (ver: CC-421 e HCC-547).

A notícia falsa é uma ferramenta universal e frequentemente usada pelos políticos. O arquichanceler Adolf Hitler (1889-1945), e seus fiéis diplomatas, seguiu à risca a orientação contida em seu livro, escrito em 1924 (“Mein Kampf” – Minha luta), e expressa despudoradamente, como sendo sua “verdade”,

nestes termos: “As grandes massas do povo são mais facilmente vitimadas por uma mentira grande do que por uma mentira pequena”.

Joseph Goebbels (1897-1945), ministro da Informação do regime nazista, teve grande influência na moldagem do novo nacionalismo alemão, à custa de mentiras e difamações a respeito de outros países.

O escritor britânico George Orwell (1903-1950) em 1948 escreveu um romance alegórico sobre o que seria a vida na Inglaterra em 1984 (ver: OJB, 01 abr 1984), publicado no Brasil em 1966, em pleno regime ditatorial. Orwell ridicularizou Goebbels: a Inglaterra seria dominada por um ditador, o “Big Brother”, e o órgão público que disseminaria a mentira seria o Ministério da Verdade …

Além dos políticos, os jornalistas e outros profissionais da comunicação são tentados a distorcer as notícias.

Uma matéria que acaba sendo descoberta como “falsa” sempre aparenta ter sido feita a partir de uma apuração, mas essa apuração foi eivada de preconceitos, especulações e malícias.

Os promotores de eventos musicais também cometem esse pecado quando dizem que o coro executará uma cantata, quando a obra não passa de um “musical show”.

Em 1967, constatamos que no ambiente evangélico existiam informações falsas sobre autores e compositores (ver: OJB, 12 mar 67). Passados 50 anos, algumas daquelas informações ainda subsistem na imprensa evangélica.

Uma pesquisa realizada por cientistas do Massachusets Institute of Technology (MIT) de certo modo corroborou a tese de Hitler na propagação de notícias; na Internet, em particular nas redes sociais, em 2006 e 2007, entre 3 milhões de compartilhamentos no “Twitter” (ver: OJB, 06 dez 2009), as informações adulteradas tinham probabilidade de disseminação setenta por cento (70%) maior que as notícias simplesmente factuais.

Nessa questão das chamadas “notícias falsas”, ainda devemos ter o cuidado de apurar onde há mentira ou meia-verdade.

A pesquisadora Lisa Fazio, da universidade “Vander-bilt” (EUA), constatou que as pessoas tendem a acreditar que tudo que é publicado é pura verdade. Mesmo quem conhece um assunto tem predisposição a crer em falácias. O outro aspecto da questão é a meia-verdade: basta que as informações estejam “próximas da verdade” para ser aceitas; às vezes o leitor presta mais atenção às informações falsas.

Desde 2014, com a realização de eleições em vários países, vem se avolumando a onda das “notícias falsas”.

Em 2018, o “Facebook” foi acusado de manipular dados de milhões de pessoas, com objetivos políticos e comerciais.

Tenhamos cuidado com as notícias e não passemos adiante as que não merecem o nosso amparo!

(Publicado em “O Jornal Batista”)

2018-08-06T18:50:59+00:00 By |Recitais e concertos|