Música – Nº. 670
Rolando de Nassáu
Na seção “Cartas dos leitores”, o ir. pr. Ivo Augusto Seitz comentou nosso artigo nº. 669, “Músicas inconvenientes no culto” (ver: OJB, 06 jul 2003).
Começou com a pergunta: “o que faz o Ivo nessa lista de famosos?”. Invertemos a indagação: que fazem, na lista em que aparece Ivo Augusto Seitz, os grandes mestres Beethoven, Wagner, Sibelius, Gounod, Bizet, Haendel e Offenbach?
Afinal de contas, eles não têm culpa se letristas evangélicos usaram suas músicas profanas e as introduziram no culto cristão.
Talvez Ivo Augusto Seitz concorde conosco quando criticamos a música de algum compositor católico, mas discordamos sempre no caso de certa composição escrita ou promovida por ele.
A melodia “Elienai”, para o missivista, “nada tem de imprópria”; o problema é diferente: a letra de Entzminger (CC-574) encobre e sublima o seu saudosismo nostálgico e ufanista; a música de Seitz (HCC-600) foi composta para disfarçar o seu estrangeirismo envergonhado; o próprio Seitz em 1991 escreveu: “foi um dos hinos que recebeu roupa nova para entrar no HCC” … A Comissão do HCC tinha resolvido, logo no início do seu trabalho, não usar hinos pátrios (ver: Edith Brock Mulholland, HCC – Notas Históricas, pp. 441 e 442).
Entretanto, “De ti, ó meu Brasil” (HCC-600) é o título dado no HCC à letra “Pátria brasileira” (CC-574); ambos foram classificados como “hinos pátrios” (ver: “Índice dos Assuntos” no CC e seção “Assuntos Especiais – Pátria” no HCC).
A melodia “Elienai”, esqueceu-se Seitz, não observou a norma da Comissão.
Salta aos olhos que as letras “Pátria brasileira” e “De ti, ó meu Brasil”, a rigor, não são hinos que expressam amor a Deus, porque são traduções, adaptadas por Entzminger, da letra inglesa do hino nacional escrita por Samuel Francis Smith (TBH-634) para o povo norte-americano.
Por sua vez, Smith aproveitou a música do hino nacional da Inglaterra; portanto, tomou-se emprestado o patriotismo alheio.
Este “hino” de Smith fala em “sweet land of liberty” (doce terra da liberdade), “land of the pilgrims’ pride” (terra do orgulho dos peregrinos), “land of the noble free” (terra dos nobres livres), “I love thy rocks and rills, thy woods and templed hills” (Eu amo teus rochedos e riachos, teus bosques e elevados montes); em 1832, Smith exalta o amor aos valores cívicos (família, cidade, nação, liberdade) e às belezas naturais dos Estados Unidos da América; a tradução de Entzminger, em 1910, prefere exaltar as “matas virginais”, os “rios sem rivais”, os “lindos litorais”, os “maravilhosos bens”, os “belos laranjais”, os “ricos cafezais” e as “riquezas naturais”, tendo em vista que o Brasil não era livre, nem forte, nem feliz, não tinha justas leis, os nacionais não tinham proteção do crime e da traição; ainda hoje não têm ! As letras de Smith e de Entzminger não são hinos, mas cânticos cívicos.
Seitz confessa: “O “Cantor Cristão” usava uma melodia bonita, mas ligada a sentimentos patrióticos dos outros”. Então, em 1990 Seitz substituiu a música do CC, mas no HCC ainda ficou o resquício do sentimento patriótico alienígena.
“Pátria brasileira” e “De ti, ó meu Brasil” não são hinos, nem orações a Deus por nossa terra, mas duas maneiras de exaltá-la: “Do meu país … é meu cantar …”, “De ti … eu vou cantar… “. Aliás, a primeira tradução de Entzminger, não alterada pela Comissão do HCC, foi dedicada aos alunos dos colégios evangélicos no Brasil (ver: OJB, 06 abr 1910, p.2). Muitos desses adolescentes nem sabiam orar …
Verdadeira oração, que todos os Batistas no Brasil devem cantar, é “Minha Pátria para Cristo!” (CC-439, HCC-603), escrita por Entzminger com genuína unção espiritual, depois eficientemente harmonizada por Bill Ichter.
Não são os críticos que determinam que música é aceita por Deus, mas são eles que denunciam a música de origem profana.
O missivista concorda conosco: “o assunto da música no culto merece mais estudos” (trecho de e-mail de Seitz que circulou na Internet antes da publicação de nosso artigo), inclusive pelos letristas evangélicos que aproveitam melodias profanas.
Tenhamos cuidado com os cânticos ufanistas!
(Publicado em “O Jornal Batista”, 03 ago 2003, p. 4).