Nabor Nunes Filho

Nabor Nunes Filho 2018-03-12T13:50:28+00:00

Música – No. 786

Nabor Nunes Filho, o intelectual alegre

“O sertanejo é, antes de tudo, um forte” (Euclides da Cunha)
“Os intelectuais não têm a obrigação de transformar o mundo;
o seu dever é transfigurá-lo” (Otto Maria Carpeaux)
(Dedicado à leitora Hadassa Mestrinho Sylvestre. de Belém, PA)

Nabor Nunes Filho (1944-2013) foi um dos mais notáveis intelectuais no ambiente cultural evangélico (Rolando de Nassau, Dicionário de Música Evangélica, p. 128. Brasília: edição do autor, 1994), um intelectual que uniu pensamento e ação. Começou a produzir em 1965; parou em 2013.

Por meio de um portal de notícias da internet, soubemos algo a respeito do seu repentino falecimento, em 12 de fevereiro, em Americana (SP).

As atividades intelectuais de Nabor foram desenvolvidas nas seguintes

áreas:
TEOLOGIA

Fez o curso de bacharel no STBNB (1965-1969); consagrado ao ministério pastoral, serviu à IB do Cordeiro, no Recife, PE, como interino na ausência de David Mein (1969). Pastoreou a IB de Corrente, PI (1970-1972). Nabor não reteve a paisagem sofredora do Nordeste; ele a transfigurou numa visão otimista. Exerceu o pastorado da PIB de Americana, SP (1981-1984). Dedicou-se mais às outras áreas.

MÚSICA

Em 1953, com apenas nove anos de idade, tornou-se organista da IB de Itabaiana, PB, sua cidade natal. Aos 13 anos, tocava requinta na banda de música.
Fez o curso de bacharel no STBNB (1971-1972); complementou-o (graduação em Composição) na Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP (1983-1989). Depois desse curso, fez revisões em várias de suas peças musicais. Foi ministro de música nas igrejas de Casa Amarela, da Concórdia e da Capunga, no Recife, PE (1976-1978), e da PIB de São Paulo, SP (1979-l981).

Foi compositor na Universidade Metodista de Piracicaba – UNIMEP (1986-2005). Publicou partituras: a) para coro – coletânea“Creio em Deus” (1995), “Ele está vivo” (1997), “Glória a Deus nas alturas” (2002), “O Verbo se fez carne (2009) e “Cadernos”, I e II (2012 e 2013); b) para órgão – “Interlúdio” (1987), “Fuga litúrgica”, “Pequena imitação”, “Fantasia Nordeste” e “Valsinha” (1991), e “Prelúdio
e Fuga” (2002); c) para piano – “Vespertinas” (1988/1999); d) para orquestra de cordas – “Trio” (1988), “Prelúdio” e “Fugueta” (2009); e) para dez arranjos de composições de música popular brasileira.

Foi pioneiro da hinodia evangélica em estilo sertanejo do Nordeste. Escreveu as letras dos hinos “Nosso Pai que estás nos céus”, 1972, (HCC-384) e para a coletânea “Celebrai cantando”, 1982 (pp. 8, 42, 58, 89 e 93); compôs a música do hino “Só Jesus Cristo salva”, 1980 (HCC-542). Além do hinário batista, o presbiteriano independente (“Cantai todos os povos”, 2006, nos. 261 e 307) acolheu hinos de Nabor.

Regeu os coros: 1) da PIB de Fortaleza,CE, 1972; 2) da IB da Concórdia, em Recife, PE, 1974-1976; 3) da FTB de São Paulo,SP, 1979; 4) da FTB de Campinas, SP, 1983; 5) da UNIMEP, em Piracicaba, SP, de 1995 a 2007.
Em 1981, Nabor concedeu-nos entrevista, numa época em que a indústria fonográfica começou a se interessar pelos Evangélicos. À nossa pergunta, Nabor respondeu-nos assim: “Há uma grande oferta em discos para um público evangélico consumidor. Ora, a oferta sempre estimula a procura, e esta tende
à massificação. Os produtores de discos estão, com raras exceções, descuidando-se do aspecto qualitativo” (OJB, 16 ago 81).
PEDAGOGIA

Tendo feito mestrado em Educação (1992 a 1994), defendeu a dissertação “Eros e Humanização” (1994), e doutorado (1995-1997), com a tese “Devaneio e Arte na complexidade humana” (1997); participou em bancas examinadoras de dissertações e teses, para obtenção de mestrado e doutorado em Educação (1998/2001), e orientou trabalhos de conclusão de cursos de graduação em Educação (2005).
MAGISTÉRIO

Foi professor de Teologia e de Música no STBNB (1974-1978); na UNIMEP, de Música (1984-2007) e de Teologia (1984-2013); nessas escolas, suas especialidades foram composição, instrumentação e regência.

Em 1992 e 1993, professor de Introdução à Filosofia, no Colégio Piracicabano. A universidade e o colégio são prestigiosas instituições metodistas.
ADMINISTRAÇÃO EDUCACIONAL

De 1984 a 2013, foi membro do Conselho da Faculdade de Ciências da Religião (UNIMEP); de 1986 a 2013, administrador do Núcleo Universitário de Cultura, em Santa Bárbara do Oeste (SP).
LITERATURA

Descendente de uma família de literatos, no periodismo Nabor co laborou com a revista “Diálogo”(editora católica “Paulinas”), nos artigos sobre a linguagem da música sacra, e a religião como expressão do corpo (1999, 2000 e 2003), e com a revista “Impulso” (editora metodista), no artigo “Religião e Tecnologia” (2003). Seu artigo “Arte: a religião de corpo inteiro”, foi citado por Adelar
Hengemühle numa obra de pesquisa pedagógica (2008).

No ensaísmo, escreveu “Porque não sei ficar quieto” (1996) e “Eroticamente humano”(1997), este comentado por Flávia Daniela Delgado, na revista “Educação” (2011), a propósito de erotismo na televisão. Nesse mesmo ano, Dulcilene Brito Lopes, num artigo sobre a poesia erótica de Cecília Meireles, baseouse em teorias de Georges Bataille, Roland Barthes, Octávio Paz, Affonso Romano
de Sant’Anna e Nabor Nunes Filho.

Escreveu dois romances: “Cláudia e Anelise: paixões de outono”

(2010) e “Natália: atrevimentos e destinos” (2012).

Publicou dois livros de poemas: “Versos do amor diverso” (2010) e “Fra (n) quezas de (não) ser” (2012). Em 1992, Nabor escreveu o poema “Meu outro”, do qual extraímos estes versos:”Doravante, quero viver esse meu outro …
Ele me faz querer ser o que é, e o que não é, ser mais ainda. Instiga-me a fazer que minha solidão me baste e que meu vazio me preencha por inteiro”.
Certa vez, Nabor assim definiu sua personalidade: “Um exilado de todas as nações, um estranho em todos os lugares, o avesso de todos os tecidos, o fugitivo de todas as prisões” (http://www.oliberalnet.com.br/ acesso em 15 fev 2013). Mas o escritor Mário Ribeiro Martins, colega de Nabor no STBNB (1965- 1969), lembra que “ele era falastrão e alegre”.
(Publicado em “O Jornal Batista”, de 16 de junho de 2013, p.3)